(Completo)46 O RECOMEÇO DE ANA SOPHIA

CAPÍTULO 22

Nasser

Os dias simplesmente voam e eu posso dizer com propriedade que nunca fui tão feliz na minha vida.

Cada imprudência minha, vale a pena por ver o sorriso de Yuri. Sou completamente apaixonado nele e seu modo de ser.

Ele é íntegro mesmo aos poucos anos de idade e não faz algo só para te agradar, ele tem princípios e uma empatia com as pessoas fora do normal e se eu não o conhecesse bem, diria que tem ao menos oito anos de idade.

Yuri está brincando com a bisavó até que ela começa a passar mal.

Tanto as crianças quanto os adultos ficam desesperados enquanto Maurício tenta fazer o que pode.

Yuri implora dizendo a avó para acordar e parar de brincadeira, mas nada acontece.

-----Pode parar tio Maurício, a bisa foi encontrar com meu outro pai Jhon e o outro biso George. Ela estava muito  cansada pedindo aposentadoria da nossa falação.

Um silêncio ensurdecedor reinou na sala então me adianto para abraca-lo seguido da Ana.

Eu não sabia o que ou quanto ele sabia e provavelmente ninguém sabe o quão misteriosa é a mente de uma criança.

Maurício ficou estático, talvez se sentindo impotente por não conseguir salvar alguém tão importante na vida de todos.

Era o momento dela, não podemos controlar.

É fato que a morte é ausência de vida, mas o que não aceitamos é que para tudo tem um tempo, como a vida, os estudos, amores, recomeços e com a morte não teria como ser diferente.

Como gestor é ainda mais complicado, pois quando se compra uma empresa falida, você tem nos ombros, a responsabilidade de deixar várias famílias sem um emprego digno e quando a pessoa está acima de uma certa idade ou e mulher com filhos, o recomeço é como um deserto árduo, porque a sociedade acha que no caso da idade, mais e menos.

De forma alguma estamos preparados para as perdas, mesmo que não tenha contato direto você sente, porque vê quem ama sofrendo.

Na hora do funeral, Yuri não chorava. Ele se mantinha calado todo o tempo, mesmo que as outras crianças da família estivessem brincando.

Melanie tem sua pressão arterial desregulada e desmaia no caminho, sendo socorrida e carregada por Rodrigo.

-----Meu pai conquistou minha avó cantando uma música.

-----Talvez eu devesse ter feito o mesmo.

----Voce causou uma excelente impressão, eu que dificultei.

-----E como você está Ana?

-----Estou bem.

----Nervosa? Triste? querendo sair correndo?

-----Sim. É mais difícil do que imaginei que seria. Quando eu estava na pindaíba minha avó me deitou em seu colo e disse que tudo ficaria bem.

-----Ela ainda fará isso só que lá de cima e nos seus sonhos.

Ana não responde nada de imediato, mas sinto seu nervosismo conforme íamos chegando cada vez mais perto do cemitério.

-----Ei amor o que está acontecendo?

----Eu não posso entrar lá Nasser, eu não consigo.

Seus olhos demonstravam todo seu desespero enquanto o tremor aumentava.

Eu temia uma síncope, já que sua mãe havia acabado de ser internada.

-----O que eu posso fazer pra te ajudar?

----Eu não sei. Yuri está mais firme do que eu, mas não posso deixa-lo sozinho e não consigo entrar também, depois de tudo que passei.

---Sem problemas eu vou com Yuri. Abraço ele com todo meu amor.

----Eu...

-----Nao diga nada, vou pedir pra sua prima ficar aqui com você ok?

Ana balança a cabeça enquanto vou atrás de sua prima Karoline.

----Karoline eu sei que também ama sua vó, mas eu preciso de um favor enorme.

Karoline estava do lado de Malu.

---Tipo?

-----Ana não consegue entrar no cemitério então vou entrar com Yuri, você poderia ficar com ela?

-----Nos ficamos né Karol?

Karoline balança a cabeça e seguimos até onde Ana estava parada e afastada de todos.

Dou um beijo em sua testa e vou em busca de Yuri, passando minha mão ao redor de seu ombro.

----Tudo bem campeão, estou aqui por você.

-----Obrigado pai. Eu sei que mamãe não suportaria. Todos dizem que eu era muito novo, mas eu sempre senti a dor dela então obrigado por nunca abandonar a gente.

Seguimos caminhando em silêncio por dentro do local, até que alguns segundos antes de jogar a terra sobre o caixão, Yuri pede pra despedir da avó.

Todos já haviam falado, mas ainda assim pausaram.

----Bisa obrigado por ter o melhor abraço do mundo. Eu amo a senhora do fundo do meu coração. Eu juro fazer seus olhinhos brilharem de orgulho de mim mesmo aí no céu. Fica com Deus bisa.

Laura e João Pedro correm par abracar Yuri que ainda está firme em sua posição de homem da casa.

Yuri joga um pouco de terra e se vira pra mim.

-----Agora podemos ir? Minha mãe e minha avó precisam da gente.

Seguro firme sua mão indo em direção as meninas.

-----Vamos pra casa mãe, tô cheio de fome.

Ana balança a cabeça e diz a Yuri que sua avó Melanie já está em casa dormindo.

Assim que a noite chega, Yuri toma banho e logo vai se deitar.

Recusa uma história pra dormir e dou um calmante a Ana também que logo dorme.

Levanto descalço indo até o quarto de Yuri fazendo o mínimo de barulho possível, quando escuto seu choro.

Deixo minhas próprias lágrimas caírem soltas de dor e pesar pelos amores da minha vida.

*****

E ai meus amores? Digam que não foi apenas eu que chorei?
Abraços da tia Helen