ICLAIR: O Amor Surpreende.

Na noite

Claire

Ao chegar na porta de casa retiro meus saltos. Meus pés no mesmo instante me agradecem, não sou acostumada a usar saltos durante todo o dia e estou pensando na hipótese de ir trabalhar amanhã de sapatilhas.

Vou para o meu quarto e jogo minha bolsa na cabeceira da cama, retiro minha camisa e sinto um alívio quando meus seios quase pulam para fora em agradecimento quando os liberto. Que sensação maravilhosa! O vento frio da noite passa por mim e reparo que as janelas do meu quarto estão abertas. Não ligo, daqui ninguém consegue me observar.

Após uma ducha demorada me enrolo na toalha e vou direto para a cozinha para preparar o jantar, encaro o fogão e ele parece me encarar no mesmo instante, irei comprar comida. Ligo a televisão e coloco no Cartoon Network, sei que é um canal infantil, mas enquanto minha comida não chega o Clarêncio me fará companhia.

Alguns minutos depois a companhia toda, estou de shorts jeans e uma camisa branca sem manga, não ligo para minha aparência e para meu cabelo ainda molhado, só irei receber uma pizza mesmo, será muito rápido.

- Boa noite. - digo ao entregador que usa um boné vermelho e sorri com os dentes super brancos.
- Boa noite senhorita. Trouxe seu pedido. - ele diz me entregando a caixa de papelão.
- Obrigada. - agradeço enfiando a mão no bolso do short e tirando o dinheiro com a gorjeta para entrega-lo.
- Eu que agradeço!- ele fala empolgado observando o dinheiro e eu sorrio.

Quando ia fechar a porta me sinto um pouco mal, como se uma energia forte e ruim chegasse perto de mim, olho para rua assustada e vejo em um canto escuro uma pessoa me observando. Usa um sobretudo preto que cobre ate as orelhas, o que me assusta é o seu olhar, eu não consigo ver nada além das formas de um corpo de uma pessoa, mas o seus olhos, são dourados e brilhantes, não brilhantes como o sol, mas como um fogo e enxofre. Arrepio da cabeça ate a ponta do pé e fecho a porta rapidamente, meu coração está tão acelerado que parece que eu corri uma maratona.

- Calma Claire. - digo para mim mesma tentando esquecer aquela imagem horripilante da cabeça, sinto o cheiro da pizza e meu estômago ronca na hora, assim consigo levar meus pensamentos para uma coisa mais importante. Comer.

Após comer uns 3 ou 4 pedaços de pizza escuto meu celular tocando e olho para o visor vendo o nome de Ian, meu coração dá cinco cambalhotas e minhas mãos começam a suar frio, só de pensar em seu olhar e sua boca macia e forte ao mesmo tempo sinto expectativa com a ligação.

- Alô. - digo sem jeito.
- Clair, tudo bem? - o tom de sua voz é urgente e de repente fico preocupada.
- Sim, aconteceu algo? - pergunto.
- Você precisa vir para meu condomínio. - ele afirma.
- Porque?
- Você não entenderia. Arrume suas coisas que irei te buscar.
- Ian, não há necessidade disso. Você quer sair comigo? É só pedir, não precisa me ligar assim... - eu já estou ficando preocupada com essa ligação, a voz de Ian está alterada de uma forma que não entendo.
- Clair, por favor, a única coisa que eu quero nesse momento é ficar com você, mas não é por isso que estou te chamando para cá, eu não posso explicar agora. Só venha, tudo bem?
- Sim. - respondo para acabar com aquela aflição, ele terá que me explicar o que está acontecendo.

Desligo o celular e vou para meu quarto para arrumar umas peças de roupas, escolho roupas para três dias, não sei o que ele quer comigo e o motivo de me tirar de casa, mas como sou prevenida, não deixarei de levar roupas reservas.

Encarando minha mala no chão sinto um vento gelado na minha nuca, aquela sensação de medo logo volta e olho assustada para a janela, quando vejo ele.

Seus olhos dourados é o que consigo definir, o sobretudo e o chapéu encobre qualquer traço que eu poderia reconhecer, seus lábios finos como uma linha tensa me diz que ele não é uma boa pessoa.

- Quem é você e o que faz no meu quarto? - digo me afastando para a porta e procurando algo com a mão que eu possa usar como arma.
- Não é você que faz as perguntas aqui. - sua voz grave preenche todo o quarto. - Você virá comigo.
- Não vou não! - digo nervosa.
- Clair, não vamos fazer esse jogo, apesar de parecer muito divertido para mim, não tenho tempo para brincadeirinhas, quem sabe mais tarde? - ele dá uma risada sem humor.
- Saia daqui! - grito e me viro correndo para a porta de entrada da casa. - Socorro!!  - grito quando sinto sua mão enorme me segurando pelo braço.

De repente a porta do meu apartamento é aberta com um baque surdo e sinto um alívio ao ver Ian, o olho desesperada imaginando o que esse desconhecido pode fazer com nois dois. Será que ele está armado?

O homem solta o meu braço e encara Ian por alguns segundos, antes de correr em uma velocidade surpreende em direção ao meu quarto, Ian tenta o alcançar e eu fico admirada com a sua velocidade também, ele deve praticar muitos exercícios. Vou atrás e só vejo o vulto do sobretudo pela janela, o cara pulou. Corro para o para peito e não vejo nada lá em baixo, será que ele se machucou?

Ian se aproxima de mim e toca meu rosto me fazendo o encarar, vejo o brilho cinza que tanto me atraí e quase me esqueço do que acabei de passar, ele é tão lindo.

- Você está bem? - ele pergunta passando a mão livre por meu cabelo.
- Sim, obrigada. - digo me aproximando mais, eu preciso de um abraço, esse foi o momento mais assustador da minha vida!
- Fez suas malas? - ele pergunta vasculhando o quarto.
- Sim. - aponto para elas. - Obrigada Ian, se você não tivesse chegado eu não saberia o que ....
- Xii, não fale nada minha doce Clair, eu cheguei não foi? Você não correrá mais perigo. - ele beija minha testa. - te protegerei. - ele encara a janela novamente e de repente sinto que algo pode estar errado. Essa ligação de Ian foi muito estranha e depois esse desconhecido... Será que está acontecendo algo que eu não saiba?
- Clair, vamos embora. - ele segura minha mão e com a outra livre ele pega minha pequena mala, antes de fechar a porta do meu quarto ele dá uma ultima espiada na janela.