Capítulo 03 - Fica Comigo Mais Um Pouco

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O sol estava no auge, bem sobre suas cabeças. Eles podiam sentir a pele queimar, e a areia escaldante parecia sugar a pouca energia que ainda tinham. O corpo debilitado de Bellamy se arrastava atrás de Clarke, que, apesar de sofrer o mesmo que ele, ainda tinha duas pernas boas.

A falta de comida os deixou em um estado inicial de inanição, e a desidratação começava a se manifestar de forma severa. Seus lábios ressecados tinham gosto de terra, e a dificuldade de respirar só aumentava.

Bellamy começou a ouvir um som terrivelmente delicioso vindo de sua esquerda que fez sua boca salivar e um sorriso fraco surgir em seu rosto. Ele acelerou o passo, quase tropeçando, em direção a uma fonte de água próxima. Era linda, a água cristalina, e ele podia até sentir o frescor ao se aproximar ainda mais. Quis gritar por Clarke; ela precisaria daquela água tanto quanto ele. Olhou para ela de relance, vendo que havia caído no chão, então voltou os olhos para onde deveria estar a fonte e ela havia desaparecido. Só então se deu conta de que estava delirando.

Ao voltar para o caminho que o levaria até Clarke, ele pôde ouvi-la chorar e murmurar olhando para frente, como se conversasse com alguém, mas Bellamy não conseguia decifrar suas palavras. Tentou apressar os passos, mas a queda de antes fez sua perna doer ainda mais. O desespero tomou conta de seu corpo quando a viu apontando uma arma, que ele sequer sabia que existia, para a própria cabeça.

— NÃO! — ele gritou, mas sua voz estava tão abafada que não sabia se ela o ouvira. Ignorando toda a dor latente que vinha de sua perna, ele começou a correr em direção a ela.

— Eu tentei, eu juro. Me perdoa, eu não queria ter feito aquilo, Maya, me perdoa — ouviu ela dizer em meio às lágrimas. Em seguida, ela se virou para outra pessoa que só existia em seu subconsciente e chamou-o de Jasper.

Ao alcançá-la, Bellamy caiu ao seu lado.

— Isso não é real, Clarke — disse, tentando recuperar o fôlego. — É a fome e a sede falando. Eles não estão aqui.

Os olhos de Clarke estavam inchados, e ela o encarava com uma espécie de sorriso macabro. Bellamy sabia que ela havia aguentado demais, por muito tempo, para que os outros não precisassem conviver com o peso de suas escolhas.

— Mas um dia estiveram, e eu falhei com eles. Falhei com todos eles.

Bellamy tentou alcançá-la, mas Clarke se afastou.

— Eu não consigo mais, Bellamy. Eu perdi tudo. Tudo. Meu pai, minha mãe, as pessoas que amei morreram nos meus braços, e todos os outros estão mortos também — disse, a voz embargada. — Eu não tenho... eu não tenho mais ninguém.

Bellamy preferiria ter sua perna arrancada sem qualquer tipo de anestesia a ter ouvido tais palavras.

— Você tem a mim. Ainda tem a mim — disse, quase se debruçando para frente.

— Até quando? — perguntou, ainda com a arma apontada para a cabeça. — Eu falhei com você também. E você ainda ficou aqui por mim, mas até quando, Bellamy? Nós vamos morrer, vamos morrer. Então que seja agora, porque eu não aguento mais tanta dor.

Ele não sabia o que dizer, e Clarke parecia esperar ouvir alguma coisa dele. Foi quando ele soube que ela não queria fazer aquilo, mas precisava que ele dissesse algo.

Bellamy colocou a mão direita no coração, e os olhos de Clarke seguiram o movimento. Ela tentava se segurar para não chorar ainda mais. Em seguida, ele levou a mesma mão até a cabeça de Clarke e enxugou suas lágrimas.

— Eu não sei até quando. Não sei. Mas eu preciso acreditar que ainda há alguma coisa lá fora para a gente. Preciso acreditar que você estará comigo quando eu encontrar, porque eu te juro, Clarke, que eu vou. Por nós, por você.

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