Capítulo 5 - Sabedoria Animal

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D

as minhas conversas com Joen, consegui extrair algumas informações e eu anotava tudo no meu estranho caderninho.

– Existe compra e venda de escravos (descobrir se isso é ilegal);

– As viagens são a cavalo, basicamente;

– Sou uma incomum, aparento ser rica (isso pode ser uma vantagem);

– Não existe energia elétrica T_T

– Forma de governo: Monarquia

Seria tão bom se na Terra eu aparentasse ser rica só pelos olhos puxados. E nem eram tão puxados assim, pelo menos na minha opinião. A civilização, na qual me encontrava, ainda levaria séculos, para não dizer milênios, a evoluir ao ponto em que eu estava acostumada.

Cheguei à conclusão de que, se quisesse encontrar a ponte, teria muito a aprender. Eu não poderia chamar a atenção, deveria me misturar. Isso implicaria guardar para mim as crenças e convicções enraizadas pela evolução da minha espécie. Ainda que minha alma ardesse, não poderia me insurgir contra nenhum mercador de escravos, se isso estivesse de acordo com a lei deles.

Como diz o ditado: "Em Roma, faça como os romanos".

Ser o mais imperceptível possível era prioridade.

Depois de algum tempo, Joen e eu nos tornamos amigas improváveis, porque, na Terra, seríamos as últimas a possuir alguma afinidade. Ela contou que tanto as mulheres quanto os comuns eram proibidos de aprender a ler, mas seus pais a haviam ensinado antes de partir. Joen não me disse como os perdera e achei melhor não perguntar. A cada vez que se expressa alguma memória por palavras, você revive toda a experiência.

Ela, gentilmente, começou a me ensinar a ler, e dei graças a Deus pelo sistema de alfabeto deles ser parecido com o das principais línguas da Terra, de origem fenícia, eu acho. Mais uma vez eu agradecia ao H2.

Jerrá era, como eu havia pensado, um homem rústico, de pouca conversa e cuidava muito bem dos animais. Embora fizesse o plantio com dedicação, o clima estava longe de cooperar. O amor dele por Joen era tão evidente. Só ela não notava. Às vezes, eu tinha a impressão de que ele se sentia indigno dela, talvez por viver ali como um filho adotivo.

As poucas vezes em que avistara o avô de Joen, minha impressão era que se tratava de um homem bem rigoroso. Administrava seus bens pessoalmente, apesar de confiar muita coisa a Jerrá, pois, muito provavelmente, já o via como neto. Isso significava que, cedo ou tarde, as coisas se ajeitariam para a Jo.

O avô dela se chamava Abdala ou Abdali, alguma coisa assim. Acabei me acostumando a ajudar Jerrá com os animais, contudo, Joen já não ficava enciumada. Muito provavelmente, ela percebera o campo de força anti-homens envolta de mim. Uma vez ela me perguntou se eu não tinha medo de ficar solteira, respondi-lhe: nasci solteira, pior que isso, só casando.

Certa amanhã, fui ao curral dos cavalos e animais de abate e notei Jerrá bastante preocupado com alguns deles, pois se recusavam a levantar. Quando cheguei perto, pude observar os bichinhos com dificuldade para respirar e sofrendo muito. Por isso, resolvi improvisar um estetoscópio para auscultar os pulmões. Só pelo barulho da respiração, diagnostiquei os pulmões cheios de secreção, e a inflamação já havia se espalhado. Reparei nas narinas e, pela cor do fluxo, a infecção era bacteriana, não havia dúvida. E de uma bactéria poderosa ainda.

– O que está havendo? – ouvi Joen perguntar.

– Rápido, coloquem um pano para cobrir a boca e o nariz. Coloquem luvas também.

A Esposa do ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora