01. Garotos como você sempre vão embora;

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Colégio West High
Baile da primavera, 2010

Scott Davis era um sujeito pateticamente legal. Ele praticava alguns esportes e participava de muitas atividades extracurriculares do colégio. Fazia voluntariado aos sábados, almoçava em família aos domingos e corria por pelo menos trinta minutos toda noite. Uma vez, ele até ganhou uma medalha por ser um ótimo exemplo para os outros alunos. No entanto, mesmo tendo conquistado um bom currículo de jovem prodígio aos dezoito, o que realmente interessava para seus amigos, estava no quarto cor de rosa ao lado. Sua irmã mais nova. Summer.

Nós éramos vizinhos. Naquela época, quando eu e minha família nos mudamos para o fim do mundo, eles já moravam lá. Era um bairro muito nobre e a casa onde viviam ocupava o espaço de duas casas dentro do padrão daquele lugar. Enfim, Scott e eu nunca tivemos um contato frequente. Nos falávamos, às vezes, no colégio, por estarmos na mesma sala, mas nada além disso. Mesmo assim, dava para notar que o filho dos Davis estava longe de ser uma má pessoa. Para ser honesto, ainda que não fôssemos próximos, eu até que gostava dele. Tipo, de verdade. Mas, assim como os outros, eu gostava ainda mais da garota bonita que me olhava pela janela no segundo andar do casarão. 

Summer costumava fazer jus ao nome que carregava. Quente e divertida. Como o próprio diabo. Ela era uma garotinha persuasiva, com seus quase dezessete anos e não muito mais do que um metro e sessenta. Eu sabia que ela estava caidinha por mim. Por um acaso, eu também estava caidinho por ela. E não demorou muito para que algo surgisse, entre as conversas noturnas através das janelas de ambos os quartos e as trocas de olhares nos corredores do colégio. Eu entrava pela porta dos fundos e era arrastado pela americana até que estivéssemos dentro de seu quarto unicolor, isto é, após um horário em que seus pais e irmão não estivessem mais circulando pela residência. Durante aquelas noites, ela me beijava até que todo o meu fôlego fosse embora e mantinha sobre mim aqueles olhos curiosos de Alice conhecendo o país das Maravilhas.

Ela era tão bonita. Estupidamente deslumbrante. Seus olhos castanhos queimavam como o sol do verão e seu longo cabelo escuro fazia cócegas em meu nariz, toda vez em que ela ficava sobre mim com aquele seu sorriso falsamente inocente. Summer se parecia com uma bonequinha de porcelana, com bochechas cheinhas e rosadas. Sua personalidade, por outro lado, estava longe de se assemelhar à algo dócil, na maior parte do tempo. Raros eram os casos em que ela chorava, ou demonstrava algum traço de vulnerabilidade na frente de alguém. Na maioria das vezes, ela agia apenas como uma riquinha frígida e mimada, que tinha tudo o que queria, quando queria. Mas ela era adorável quando ficávamos sozinhos. À sós, aquela mulher forte e inabalável, se transformava em uma garotinha apaixonada. E eu adorava sua entrega comigo. Sem disfarces. 

Foi Summer que me pediu em namoro. Após quase um mês de enrolação, com encontros casuais e bastante contato íntimo. Admito que já havia me apaixonado na segunda ou terceira semana, então não foi muito difícil dizer que sim. Meus pais a adoravam, embora nossas famílias não se dessem muito bem. E Scott acabou perdendo meia dúzia de amigos com a notícia de que sua irmã tinha um namorado. Mas nós estávamos felizes e decretamos que terceiros não teriam o direito de intervir em nosso relacionamento. 

Na noite do baile de primavera, no entanto, eu comprovei que ninguém teria sido capaz de estragar tudo. Ninguém além de mim. 

Eu concluí o ensino médio quando ainda faltava um bocado para que ela o fizesse. Sendo assim, já havia colocado os pés na vida adulta e precisava pensar em quem eu podia ser dali em diante. É bem assustador encarar o futuro, mesmo que tenhamos pensado nele durante toda a adolescência. A faculdade não era o meu grande plano, eu simplesmente não queria ser o cara de terno e gravata sentado atrás de uma pilha de papéis, nem o doutor que trabalha 24h por dia. Na verdade, eu gostava da ideia de ser alguém que vai para outros lugares e arranja um emprego qualquer em cada parada, apenas para juntar o suficiente para o próximo destino. Mas Summer pensava diferente. Ela não tinha planos de sair da cidade. 

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