1. Que chance!

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— I don't believe! Este é o dia mais feliz da minha vida, deste ano. — Grito enquanto procuro uma roupa que me deixe com cara de responsável.

Como já havia dito para vocês, eu estava de bobeira até que li em um site que estavam selecionando jovens para ser figurantes em uma série onde minha atriz favorita terá o papel principal. Óbvio que me inscrevi. E adivinhem? Eu fui selecionada, e hoje farei o teste, nada mais nada menos, do que com ela. Se tudo der certo e eu não tiver um acesso de bicho da goiaba, irei contracenar com aquela deusa. Cruzem os dedos e torçam por mim. Fui!

— Que gritaria toda é essa? — Escuto uma voz feminina familiar vindo do andar de baixo. Pelo visto meus pais estão de volta, mais cedo. Que bom!

— Mãe! Vocês não iriam ficar fora da cidade até final do mês? — Sou curta e grossa, vou direto ao ponto. Quem gosta de enrolação é carretel de linha.

— Estou bem, também. — Minha mãe responde com um sorriso enorme no rosto. Ironia não é seu ponto forte.

— Estou de saída, se soubesse que vocês viriam, não teria marcado nada para hoje. — Minto descaradamente, com o melhor dos meus sorrisos nos lábios. Ufa! Por sorte não estou muito arrumada, só uma make básica, uma blusa justa de algodão floral, calça jeans preta e uma sandália salto alto com detalhes em strass. Vestida assim, ninguém diz que tenho apenas 17 anos.

Minha mãe me olha da cabeça aos pés e sorri.

— Alguém tem um encontro! — Sorri mais ainda. — Eu conheço o sortudo?

— Deixa de frescura. Desde quando eu me arrumo, ainda mais para encontros! — Opa! Falei demais.

— Entrevista de emprego? — Fala agora mais sério e põe as mãos na cintura.

— Até parece. — Respondo já descendo as escadas, se ficar mais um minuto dando satisfação da minha vida, vou chegar atrasada antes mesmo de ter uma chance. — Tchau mãe. Depois a gente se fala. — Mando um beijo para ela e saio em disparada. Sorte que o motorista já estava me esperando com a porta do carro aberta. Assim entro correndo e já passo o endereço para ele.

AI MEUS DEUS! Eu não sou católica, nem nada, mas numa hora dessas não custa nada agradar o Ser Superior, o nosso Criador, ou seja lá o que for. Meu coração está disparando, por sorte ele está bem preso dentro do meu peito, ou já estaria em Oklahoma uma hora dessas.

Dou uma olhada rápida no espelho para ver se ainda continuo apresentável. Com a euforia, esqueci de fechar a janela e pedir para Peter ligar o ar condicionado. O vento que batia no meu rosto era como uma carícia tocando minhas bochechas agora rosadas. Não me maquiei, afinal não sei qual será o meu papel nesta história. Apenas prendi meus cabelos em um rabo de cavalo, passei um brilho labial e o delineador básico, para salientar o que tenho de melhor: lábios e olhos. E voila, estou impecável.

O carro é barrado na entrada do local onde serão feitos os testes. Coloco a cabeça para fora e grito para chamar a atenção do segurança, o que consegui facilmente, pena que não faz meu tipo, mas isso ele não precisa saber. Hora de esboçar meu melhor sorriso e ser gentil.

— Bom dia, senhorita. O local está fechado para testes de filmagens hoje, sugiro que o seu motorista dê a volta e pegue a rua lateral. — O homem fala com um sorriso no rosto, tentando também ser gentil.

— Só um minuto. — Digo, enquanto finjo procurar algo em minha bosa. — Aqui está. — digo e estendo para ele o convite para o teste.

— Desculpa, pode passar. — Ele fala e faz sinal para que a cancela seja levantada. Olho para ele sorrindo e agradeço. Consegui.

Um homem mais velho, que estava próximo da cancela quando passamos, se aproxima do carro e mostra ao motorista onde estacionar. O local está fervilhando de pessoas por todo lado. Estou começando a ficar nervosa. Fecho os olhos e controlo minha respiração, inspirando e expirando pausadamente.

Quando o carro para, uma mulher se aproxima esbaforida. Olho para o relógio e constato que estou adiantada. Cheguei meia hora mais cedo.

— Você. Venha comigo. A Ruby não está no seu melhor dia e já dispensou todas as coadjuvantes. — Ela para e me olha. — Está esperando o que? Que eu te pegue no colo. Desce do carro e vem comigo, depressa!

Digo para o motorista me esperar. Pelo visto não fico aqui nem cinco minutos. Saio do carro e sigo a mulher, que se misturou a multidão a nossa volta. Tropeço alumas vezes com os puxões que ela me dá. Quando finalmente chegamos ao camarim improvisado, me dou conta que sou a unica negra naquele lugar, pois todos param de fazer o que quer que estejam fazendo para me olhar dos pés a cabeça.

— Senta aqui. — Ela fala e sinaliza para alguém vir. — Jonathan! Faça o possível e o impossível. Não estava esperando por isso. — Fala como se eu fosse um monstro. Mas nesta altura, não posso comprar briga. Apenas sorrio.

Jonathan se apresentou e disse tudo o que iria fazer comigo, desde o penteado até a maquiagem. Falou também, próximo ao meu ouvido, que eu era linda e não precisava me preocupar. Sonia só estava nervosa porque Ruby a destratou na frente de todos. Como se ela fosse a culpada por tudo que deu errado até agora.

Resolvo relaxar e fecho os olhos, sentindo as mãos suaves de Jonathan trabalharem em meu rosto. Quando finalmente ele termina, e pede que eu abra os olhos, não reconheço a pessoa que vejo no reflexo a minha frente. Sou outra mulher. Isso mesmo. Não pareço em nada aquela menina que saiu de casa mais cedo.

Sonia se aproxima e sorri, aprovando a mudança em minha aparência. Ela até que é bonita, não fosse a carranca fechada que assustaria até o diabo em pessoa. Sou puxada mais uma vez, agora até o local onde ficam os figurinos. Preciso falar para ela parar com isso, alguém pode acabar se machucando uma hora dessas, ou seja, eu! Jonathan acena de longe e gesticula um boa sorte. É, vou precisar.

— Rápido! Ruby não gosta de ficar esperando. Tragam a roupa da personagem Sophie Moore. — Ela grita mais uma vez, quase me deixando surda. Peraí, ela falou Sophie Moore?

— Sonia. — Falo baixo para não gaguejar, e também para não deixá-la mais irritada ainda. — Eu acho que não vim fazer o teste para este papel. — Digo pausadamente.

— Mudança de planos, querida. Ruby te viu chegando. Ela te quer neste papel. Só não faz nada para estragar tudo. Não sabe a sorte que tem! — Se vira, dá mais algumas instruções e sai, me deixando com a bomba nas mãos. E que bomba!

Publiquei e sai correndo!

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Data: 31/3/2020

A namorada do meu irmãoOnde histórias criam vida. Descubra agora