Capítulo 1

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Acordo assustado e vejo que Jhonatan está sentado na cadeira repleta de roupas sujas enquanto coloca seu tênis de corrida.

- Pesadelo de novo? - Diz ele sem me olhar.

Resmungo afirmando, nunca consigo formular uma frase quando acordo desse pesadelo que me persegue desde o acontecimento durante a formatura.

- Vou correr, esteja pronto quando eu voltar - Ele fala se alongando no corredor, deixando uma fresta na porta.

Jhonatan e eu estudamos na mesma universidade, estamos no 7º semestre, ele de Arquitetura e eu de Licenciatura em Química, além disso moramos no mesmo apartamento de 50 m² que a gente finge ser suficiente para os dois.

Como é de fácil percepção, ele é mais atleta do que eu, sempre foi na verdade, desde o ensino médio participa dos campeonatos de futebol e frequenta academia diariamente, me julgo por não ter seguido os passos quando o vejo tirar a camisa.

Ainda estava pensando no pesadelo quando vejo Jhonatan parado na porta, já havia se passado uma hora desde que ele saiu e eu não movi um músculo do lugar.

 - Não acredito que você ainda está deitado, perdeu sua chance de tomar banho, SE ARRUME - Jhonatan fala com uma intonação séria, mas com um sorriso no rosto.

Me levanto da cama e ainda consigo sentir o peso das mãos daquele senhor nas minhas costas, o mesmo sempre sussurra que eu preciso voltar, mas voltar para onde? E para fazer o quê? Eu achei que me acostumaria com essa sensação depois de algumas noites, mas três anos depois o desespero segue o mesmo.

...

 A prova foi extremamente sem sentido e eu só quero uma grande xícara de café antes de ir para o estágio, o final semana foi todo focado em estudar para as provas finais, mas parece que quanto mais eu estudava, menos informação eu digeria. 

Chegando na cafeteria, peguei meu café e senti o braço do Jhonatan passando pelos meus ombros, ele estava feliz e sorridente o que significava que tinha se dado bem na prova.

- Deixa eu usar meus poderes, tu tirou... hmmmm... 10 né? - Fiz todo uma cena mágica que deve ter sido bem vergonhoso, quando abri o olho e tirei o dedo da têmpora, pude ver aquele sorriso sincero dele.

- Seus poderes estão evoluindo, mister Elias - Diz ele me dando uns tapinhas nas costas.

Fomos até nosso apartamento que felizmente era em frente a nossa universidade, ele foi o caminho todo contando sobre a prova, mas minha deficit de atenção estava ainda pior nesta manhã e eu apenas sorria para não demonstrar desinteresse.

Me deitei na cama assim que entramos e ele foi direto para o computador.

- Vou dar uma dormida, não consegui dormir direito - Falei já coberto.

- Tá bom, te acordo antes de eu sair - Falou ele sem esperança que obtivesse uma resposta.

...

- O seu tempo está acabando, volte para Itaparica. - O velho sussurra com um tom de impaciência.

Acordei antes que o Jhonatan pudesse fazer isso, ele estava parado em frente a minha cama, o sorriso havia sido substituído por uma expressão de medo.

- O que aconteceu? - Falo sentando na cama já desconfortável com ele me olhando.

- Eu... eu tentei te acordar, mas você não parava de gritar - Diz ele corrigindo a voz como se tivesse com a garganta seca.

- Tá tudo bem, foi só o pesadelo de sempre. - Digo passando a mão no ombro que estava mais dolorido que o normal.

- Elias, sua camiseta. - Diz ele apontando meio trêmulo.

Fui até o espelho do banheiro e minha camiseta estava com uma mancha vermelha, quando a tirei vi que meu ombro estava com a marca de uma mãe feita com sangue. Meu coração parou, comecei a suar frio.

- O que é isso? - Jhonatan falou gritando, ele estava mais pálido que eu.

- EU NÃO SEI TAMBÉM, MEU DEUS DO CÉU. - Eu estava tentando manter a calma e deixa-lo calmo, mas obviamente não estava funcionando.

Jhonatan não é o tipo de pessoa que perde o sorriso, mas quando fica preocupado ele surta e parece uma adolescente no show da One Direction.

"O seu tempo está acabando, volte para Itaparica"

A frase não parava de passar na minha cabeça enquanto eu tomava banho para tirar o sangue que havia secado em mim enquanto eu tentava acalmar o Jhonatan que fez um drama digno de Oscar.

- Eu não posso voltar para Itaparica agora, eu nem sei o que fazer lá. - Falei em voz alta enquanto fechava o registro.


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