Jhonatan e eu não tocamos no assunto desde que recebemos a noticia de que Lara estava desaparecida, mas toda noite quando acordo depois de um pesadelo consigo ouvi-lo resmungando o nome daquilo que prometemos nunca mais falar.
Hoje completam 7 dias do desaparecimento, a cidade pacata estava um caos e a notícia de que estávamos chegando só piorou, todos sabiam o que havia acontecido da última vez que nosso grupo de amigos estava junto e o memorial da Gisel no centro da cidade não os deixava cair no esquecimento.
Chegamos no sábado de manhã, fomos direto para a minha casa já que a família de Jhonatan se mudou após o acontecido.
A poucos passos de chegarmos um senhor, aparentemente de uns 50 anos nos encontrou e estava assoviando alguma música, não dei muita importância já que estava cheio de coisas nas mãos e eu já tinha coisa demais para pensar.
- Vocês voltaram tarde demais para salvar a garota de cabelos azuis. - Disse ele delicadamente, como se cada palavra dançasse nos seus velhos lábios.
Parei no mesmo segundo, Jhonatan continuou andando.
- O quê? - Questionei com a voz mais alta e mais intimidadora do que eu esperava.
- Não se faça de bobo, menino. Fui eu que disquei o número para que ela falasse com seu amigo pela última vez. - Ele falou e voltou a assoviar a música que agora consigo entender que é a mesma que estava no bilhete em meu quarto dias atrás.
Naquele momento minha visão se apagou e só me lembro de ter acordado em meu quarto, quando recuperei os sentidos percebi que minha mãe estava fazendo carinho em meu braço.
- Jhonatan te trouxe pra casa depois que você desmaiou - Disse ela passando as mãos agora pela minha franja, tirando-a dos meus olhos.
- É, deve ser o calor, estava desacostumado, São Paulo não tem estado tão quente ultimamente. - Tentei não tocar no assunto com ela, pois já sabia que a mesma só se preocuparia ainda mais comigo.
- Falando em São Paulo... - Ela trocou de assunto e eu parei de ouvir quando vi Jhon entrando sem camisa no meu quarto.
Eu não sou muito de dar atenção para o físico, mas fazia um certo tempo que eu não o via sem camiseta e isso me fez esquecer por alguns instantes tudo o que estava acontecendo.
- Eu não me lembrava de quão quente essa cidade era. - Jhonatan pulou na cama que antes pertencia a minha irmã.
Eles começaram a falar sobre a faculdade e isso me trouxe uma sensação de paz, a mesma que eu não sentia desde quando Gisel, Lara, Jhon e eu íamos até a praia fazer castelos de areia, antes deste pesadelo começar a me atormentar.
Me perdi nas memórias e minha mãe foi ligar para a família de Lara para saber se tinham alguma notícia.
Jhon se virou e ficou me encarando em silencio até que deu uma profunda respirada e eu sabia que os questionamentos começariam.
- O que aconteceu lá? Achei que você conhecia aquele velho, mas quando virei você estava quase gritando com ele e de repente já estava no chão. - Disse enquanto procurava seu celular pela cama.
- Eu não sei direito, mas ele falou sobre a Lara, eu acho. - Tentei falar com a maior calma possível para que ele não se apavorasse ainda mais.
- Como assim? - Minha tentativa foi falha, seus olhos já estavam cheios de lágrimas.
- Calma, Jhon. Não foi nada demais - Falei enquanto via a fisionomia dele mudando, os músculos do rosto se contraindo e a primeira lágrima escorrendo pela sua bochecha.
Eu tenho que aprender a medir palavras quando se trata do Jhon, ele parece tão forte por fora que esconde quem realmente é.
- Lara apareceu, ela esta bem. - Minha mãe falava com um sorriso imenso no rosto.
- COMO ASSIM? - Jhonatan deu um salto e foi parar na sala com seu celular na mão, provavelmente tentando encontrar área para falar com a Lara.
- Eu não entendi direito, mas ela está bem, confusa, mas bem. - Minha mãe completou enquanto eu me levantava da cama.
Lara viva? Talvez eles tenham desistido de continuar com isso, talvez eles só nos quisessem aqui de volta. Eu já não fazia ideia do que pensar quando Jhonatan entra no quarto novamente após falar ao telefone e me abraça.
- Não era ela que eles queiram, era você. - Ele sussurrou no meu ouvido perto o suficiente para que eu pudesse sentir a sua respiração na minha orelha.
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Terminal
HorrorTrês anos após o termino do ensino médio, tudo aquilo que acreditávamos ser verdade começa a ser questionado. Nossos demônios voltam para nos atormentar enquanto tudo ao nosso redor desmorona. - Baseado em relatos reais -