(Narrado por Wellington)
É só mais um dia em que tento esconder a minha tristeza. É só mais uma manhã das minhas miseráveis férias onde tenho de descer as escadas todo feliz, dar um beijo à minha mãe, outro ao meu pai, sentar-me à mesa e dizer com o maior sorriso do mundo ''Bom dia''. Mesmo que queira não posso dizer nada aos meus pais. Sempre que tentava dar uma dica a minha mãe mudava logo de expressão e olhava para mim com um ar mortífero, então preferia estar calado.
Todos os dias ao pequeno-almoço lembrava-me da mesma coisa:
Depois de concluir o meu quarto ano, os meus pais quiseram fazer uma festa. Iriam convidar todos os nossos familiares que também tinham emigrado cá para Portugal e disseram que eu poderia convidar alguns amigos, mas tinha que lhes dizer primeiro quem eram. Fiquei super animado, pois com as férias de verão já não via o meu melhor amigo todos os dias e então andava um pouco triste. Assim que os meus pais me disseram aquilo, eu disse logo: ''quero o Gabriel!''. Com uma cara de nojo a minha mãe responde:
- Filho, o Gabriel não. Ele...
A raiva subiu-me até às pontas do cabelo. Interrompi logo a minha mãe.
- Ele o quê, mãe? Diz-me! Ele é o meu melhor amigo! É com ele com quem eu goste de passar mais tempo! Por isso, agora, diz-me... O que é que ele tem?
Fiquei a encara-la por uns momentos, ela não me disse nada. Levantei-me da mesa, onde estávamos a almoçar, e dirigi-me para a sala. Depois de reconquistar a minha paz ao ver um episodio daminha série preferida, o meu pai mete-se ao pé de mim.
- O que foi aquilo há pouco?
- Eu não fiz nada, pai! Nada! Simplesmente, quando falam daqueles que eu mais gosto eu defendo-os a todo o custo.
- Tudo bem quanto a isso, mas era com a tua mãe que estavas a falar. Não era com esses teus amiguinhos.
- Tu também pai? – Eu estava indignado. – Pensava melhor de ti!
- Cuidado com a boca, rapaz!
- Porquê? Está a ofender? Ainda bem, é assim que me sinto quando falam assim dos meus amigos.
- Para o quarto, já – Grita o meu pai.
- Com todo o gosto.
Subi rapidamente para o meu quarto e fiquei lá o resto do dia. Coloquei os meus fones e apaguei-me completamente do mundo exterior, até acabar por adormecer.
Esse dia arruinou completamente as minhas férias. Não consegui tirar da cabeça o Gabriel, ainda por mais ao saber que os meus pais não gostavam dele...
Passado uns dias a tal festa aconteceu, não tinha vontade nenhuma de lá estar mesmo tendo sido uma festa para mim. Percebi que muitos familiares meus tinham emigrado para cá, pois a minha casa estava cheia. Foi uma tarde entediante para mim, tive que dar atenção a muitas pessoas e responder às mesmas perguntas um número indeterminado de vezes.
Esse dia passou e agora ali estava eu três anos depois, sentado à mesa, onde tudo aconteceu, a fingir que estava tudo bem.
Até agora nunca tinha reprovado de ano, o que foi bom. Consegui fazer novos amigos, mas ainda assim estava triste. O ambiente escolar era excelente, era precisamente o contrário ao ambiente que tinha em casa. Os meus pais estavam cada vez mais rígidos comigo, era quase impossível respirar naquela casa. Até certa altura a escola era o melhor lugar do mundo para mim, mesmo sendo uma onde tudo é super educado, onde tudo anda sempre bem vestido e onde nunca têm vontade de fazer alguma coisa fora do comum. Era uma escola de etiqueta, pois era numa escola particular que eu andava.
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O Meu Amigo Gay
RomanceÉ impressionante como alguém consegue fazer a nossa vida, não é? Os sentimentos também contribuem para isso, e não é pouco. Gabriel, saberá o que fazer quando eles mais atacarem? Existem muitas coisas novas para serem experimentadas! Há muitas que...