Prólogo

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Nathan

Anos mais tarde...

Quem eu sou ou melhor quem eu fui? A grande pergunta de todos os tempos, uma que rodeia a minha mente mais vezes do que posso processar. Sou um bom filho, até posso ser dependendo do dia. Irmão, hum... acho que devo alguns pontos aqui. Namorado, com certeza não fui dos melhores.

A grande questão ainda não se trata disso, a grande questão é: Sou um bom homem? As vezes penso que não, em outras penso que sim, mas a verdade é que não sou. Tenho plena consciência de que acabo machucando as pessoas, magoando aqueles que tanto me ama e presam pela minha vida.

Não sou um homem santo, conheço meus pecados melhor do que ninguém. Sou um manipular, porque? Sei lá, acho que aprendi a ser assim com o tempo e depois estava tão acostumado a ser dessa maneira que mudar parecia anormal.

Eu não via problema em viver assim, manipulando as pessoas, mentindo, trapaceando e não dando a mínima para os sentimentos dos outros porque o egoísmo fazia parte do meu dia-a-dia. Era normal para mim mentir até mesmo nas coisas mais simples, a mentira se tornou parte de quem eu sou e com ela veio consequência desastrosas, para mim, para quem me cerca e para aqueles pelos quais daria minha vida.

Anos atrás provei da euforia, senti na pele e na veia a sensação libertadora da mente, bom pensando bem a liberdade foi temporária. Quanto mais eu usava, mais queria. No fim a liberdade foi substituída pela ânsia, ânsia de mais sempre mais e nada podia aplacar as vozes gritantes na minha cabeça.

Eu me tornei um viciado, alguém que vive para consumir a próxima dose. Destruí vidas ao longo do caminho, roubei a felicidade dos outros afim de bancar a minha. Vivia para o trabalho, para a fama, para o reconhecimento profissional, para a droga e depois mais droga. Ela me dava o gás necessário para aguentar o dia.

Não lembro exatamente quando foi exatamente que tudo isso começou, espera... quem quero enganar, sei exatamente como isso começou. Eu poderia dizer que começou quando conheci a Summer, minha namorada desde os dezenove anos, mas não.

Tudo começou na faculdade. Eu era um cara normal até esse ponto, tinha sonhos e planos como qualquer outro, queria uma vida boa e me tornar o melhor chefe de cozinha do mundo. Queria meu nome no hall da culinária, montar meu restaurante e receber as cinco estrelas. Esse era o meu objetivo, meu sonho e desejo.

Mas ninguém disse que o caminho era tão difícil, que aguentar a pressão de um chefe gritando no seu ouvido ou criticando seus pratos o tempo todo era um balde de desanimo nos seus planos. Que a frustração e ansiedade de fazer algo perfeito seria esmagador. Que passar noites acordado estudando pode queimar os seus neurônios aos poucos, todos precisam de uma pausa, mas isso era considerado fraqueza para mim.

Foi aí que tomei a primeira dose, para ficar ligado e acordado. Era para ser inocente e uma ajuda extra. Começou pequeno, algumas vezes por semana e apenas nos dias mais difíceis. O problema é que ninguém lhe conta que o seu corpo passa a ser dependente daquilo, que precisa desesperadamente da euforia para viver. Pior ninguém lhe conta como isso muda tudo, mas principalmente seus relacionamentos.

Summer foi para mim um bote salva vidas em meio ao caos, uma luz na escuridão podre circulando ao meu redor. Ela era boa, gentil, doce. Uma alma colorida e cheia de vida, algo que eu não sentia a muito tempo. Summer me fazia bem, mas tenho bolas o suficiente para admitir que não era bom o bastante para ela. Minhas constantes traições comprovam isso, magoá-la fazia parte do lado escuro da minha vida, quase como se eu fosse outro eu.

Ele sim gostava de vê-la sofrer, chorar e depois voltar rastejando. Fui um canalha, ponto. Não a mereço, fato. Mas pensando bem e analisando a situação, talvez era para ser dessa maneira. Se eu fosse bom com ela, agora nós estaríamos casados e vivendo uma vida feliz quem sabe. Não que isso justifique os meios, mas pelo menos faz a culpa que vive dentro de mim um pouco mais suportável.

Por outro lado, se fosse tão bom assim então meu irmão teria sido infeliz pelo resto da vida, ele e a Summer não teriam a garotinha linda que tem agora ou o pequeno par de gêmeos agitados. Eu também não estaria aqui agora, vislumbrando a melhor coisa que aconteceu comigo e sendo feliz, verdadeiramente feliz pela primeira vez na vida.

Como disse meu avô naquele dia em que a minha vida começou a mudar, eu descobri o que é o amor, como ele pode mudar a vida de uma pessoa, como ele transforma seu coração negro em um cheio de luz. Você deve pensar, putz outro clichê onde uma mulher muda a vida de um homem e faz dele uma pessoa melhor.

Sinto muito, mas não foi isso que aconteceu comigo. Sim eu conheci uma mulher, ela mudou a minha vida, fez de mim um bom homem, mas não foi por ela que enfrentei uma das maiores provações que a vida coloca na sua frente.

Eu precisava ser alguém melhor, precisava enfrentar os meus demônios, pedir perdão para muitas pessoas, mas fiz tudo isso por causa dela. Daquela coisinha pequena, linda, inteligente e a melhor coisa que já fiz na vida. Foi por causa dela que mudei, porque ela merecia um bom exemplo como homem, um bom exemplo como chefe de família e um bom pai.

Foi por causa dela, da pequena Danielli que minha vida finalmente tomou rumo. Quase tive que perdê-la para finalmente dar valor a vida, na verdade quase perdi as duas melhores coisas que aconteceram comigo. A mulher que me ensinou valores incalculáveis e honrosos, e a pequena que me mostrou o valor do amor incondicional. Por elas eu sou quem sou, não nego meus pecados ou meu passado, mas assumo cada um deles e vivo um dia de cada vez tentando ao máximo dar o melhor de mim.

Esse sou eu, Nathan Stevens o homem egoísta e quebrado que aprendeu a amar na marra. Essa é a minha história e o caminho até aqui não foi fácil, foi uma das coisas mais difíceis que já fiz na vida. Eu sou como a fênix. Vivi, morri e renasci das cinzas de mim mesmo.

Nathan - Spin off da Série laços do amor vol 7 (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora