A ideia geral do amor que lemos nos livros românticos ou vemos nos filmes que passam às nove da noite, para Kyle, era algo paras se repensar. Embora fosse mágico e desejável a qualquer um que almeja ter alguém para amar um dia, era quase fantasioso. Seus pais se amavam, mesmo com todas as discussões e brigas e provocações e dias sem se falarem até que um deles se desculpasse, e todos os obstáculos que um casamento de mais de uma década ganhava com o passar dos anos. Ele não entendia como ainda podiam se amar depois de todos esses anos, como ainda podiam acordar de manhã e estarem felizes e satisfeitos com as decisões que os levaram até aquela vida. Mas talvez esse fosse o segredo para o que Kyle conhecia apenas por uma fantasia. Pessoas como seus pais entendiam, e talvez, somente eles poderiam entender
Não existe uma formula mundial, ou regras ou passos a serem seguidos, apenas duas pessoas que precisam se compreender como a si mesmos acima de tudo e compartilhar do mesmo sentimento, até mesmo quando pensarem em sair correndo. É lembrar do porquê de estarem ali por tanto tempo e manter isso vivo. Era o que Kyle acreditava, como também acreditava que casais como seus pais não fossem fáceis de encontrar. Achava que era jovem demais para pensar em amor e quando pensava, se perguntava se teria sorte como seus pais, como poucas pessoas tinham.
Não sabia dizer se se classificava como do tipo romântico. Todos os seus relacionamentos (que não foram muitos) se basearam no agora. Embora sentisse atração pelas pessoas que teve ao seu lado, não havia o que se planejar além de um encontro na sua lanchonete favorita ou uma noite de filmes em casa em uma noite chuvosa. Não havia muito para se planejar porque era temporário, e Kyle sabia disso. Porque Kyle nunca se apaixonou de verdade.
Bem, nunca até o início do outono de 1981.
Era início do ano letivo e o último de Kyle no ensino médio. Todos estavam fazendo planos para o futuro, falando sobre as melhores faculdades e os melhores cursos. Na quarta série, Kyle decidiu que seria um advogado, como seu pai. Mas isso naturalmente mudou depois de alguns anos, quando substituiu a formação do pai por algo mais artístico, como teatro ou artes. É, era isso. O mundo artístico era definitivamente a praia dele. Stan o questionou em algum momento sobre o que faria quando terminassem o ensino médio, e depois de receber a resposta, perguntou "Tem certeza? " e Kyle pensou por um momento, dizendo: é, eu tenho. Mas às vezes duvidava.
Kyle se apoiou no seu armário após fecha-lo, dando um descanso a si mesmo depois das últimas aulas. Ainda não havia se recuperado da preguiça das férias de verão. No topo da escada, Kenny mordiscava o lábio inferior sem perceber, com foco no garoto de cabelos ruivos encostado no armário logo abaixo no corredor quase vazio. Durante várias vezes nos últimos meses, Kenny tentou se aproximar do garoto ruivo de olhos grandes que reluziam como duas esmeraldas, mas este sempre parecia estar ocupado demais, sempre cercado por um grupo de amigos. Bem, teve vezes em que teve oportunidade; abria seu melhor sorriso e preparava sua melhor frase já na ponta da língua, mas então travava. Kenny não entendia. Ele era Kenny McCormick, oras! E Kenny McCormick nunca falhava.
Isso mesmo, Kenny McCormick nunca falha, repetiu para si mesmo antes de descer aqueles poucos degraus. Segurou firme os panfletos no braço e se aproximou de Kyle. Este tinha os olhos fechados, mas foi obrigado a abri-los pela sua curiosidade ao ouvir um pigarreio extremamente forçado.
E lá estava Kenny, arrogantemente sorridente, olhando para Kyle como se esperasse por algo ou distraído com algo no rosto do ruivo. Kyle olhou para os lados, meio confuso, e então se voltou para o loiro.
- Posso ajudar? - O sorriso do outro se alargou.
- Sim, na verdade. - Puxou um panfleto da pilha que carregava - Kyle, certo? - Ele assentiu em um gesto hesitante. Kenny sabia muito bem que era esse seu nome. - Veja bem, Kyle. Eu assisti você na apresentação da banda da escola no ano passado e devo dizer que adorei o que fez com o seu baixo. - Kyle inclinou a cabeça, refletindo sobre a última parte.
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Jack's Road
RomanceKyle Broflovski se apaixonou uma vez em 1979. Não sabia disso na época, mas teve certeza meses depois, provavelmente em algum momento entre '81 e '82. Continuou apaixonado em '83 e até quando não tinha mais certeza de nada. Mas o amor chegou para Br...