-já se sentiu amaldiçoado?-o que?
-tipo, marcado para sofrer sabe?
-ah, explica?
- como se você não estivesse vivendo a vida que deveria viver e sim, uma versão distorcida e fracassada dela em algum outro lugar.
-não, nunca senti isso, não.
-ah, desculpa.
-aquele lugar ali tá vazio?
-acho que sim. ei, conheço uma piada muito engraçada, quer ouvir?
-vou me sentar lá pra conversar com as meninas, tá bom? tchauzinho.
-ah, okay.
florian engole em seco. ele se sente péssimo. desvia o olhar do lugar vazio a sua esquerda e agora observa cibelle.
-ei, garoto estranho!
-ah, oi.
-ele atende pelo nome.
debocha cibelle, enquanto faz algumas outras garotas rirem.
florian apenas abaixa a cabeça e desvia o olhar.
-ei, desculpa.
diz cibelle.
-tudo bem.
-não queria fazer te sentir mal.
-acho que já é inevitável.
-ah, para de drama!
exclama cibelle, mas em tom amigável.
-é, pode até ser. mas é como eu me sinto, juro.
-jura? puxa vida.
-ei, tem uma piada muito boa, posso te contar?
-não, não faz isso. não tenta mascarar sua dor com esse sentimento de falsa alegria. sente a tristeza.
-tenho medo de me sentir tão triste e acabar não conseguindo voltar.
-já procurou ajuda?
-não tenho dinheiro para ir em um terapeuta. e não existem centros públicos aqui na cidade.
-tinha que ser a merda do governo. eles não se importam com a gente. alguém devia entrar naquele lugar e matar todo mundo!
-não acho que violência seja a solução pra nada.
-claro, você vive no mundo brilhante, doce e colorido da sua cabeça.
-lembra de quando éramos crianças?
-já disse que não gosto desse assunto.
-não, sério. tudo não era muito melhor? eu via empolgação em pequenas coisas, como prestar atenção nas nuvens no céu, conseguir plantar uma semente de pé de feijão enrolado em um algodão na escola ou assistir um filme bobo com meus pais e meus amigos.
diz florian, quase devaneando.
-aonde quer chegar?
-que hoje em dia, nada mais tem graça. eu posso fazer a coisa mais legal do mundo, logo em seguida acontecem outras quinhentas coisas. podem até ser pequenas, mas são horríveis. elas ofuscam aquela coisa legal, mesmo ela até sendo grande às vezes.
-qual seu ponto? que tudo era melhor antigamente?
-sim.
-sabe o que diziam antigamente?

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fluorescente
Romanceflorian é um adolescente de 16 anos comum, porém solitário e atormentado. por mais que leve uma vida normal, existe uma grande diferença do resto: ele tem um poder acima do normal sobre suas memórias. ele consegue as visitar, reviver e até as altera...