semideus

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-quando eu era criança, meu pai desapareceu. eu não lembro direito o que aconteceu, só lembro de ter oito anos e acordar com a notícia de que meu pai não estava mais presente. não sei se ele estava fugindo de alguém, não sei se alguém levou ele,  não sei se ele...

florian para. a sua garganta se fecha, os olhos ardem um pouco. ele suspira.

-não sei se ele morreu. 

ele completa. florian está sentado em um lugar escuro, há uma janela ao fundo de onde surge alguma luz natural. há alguém na frente dele, um psicólogo, que pergunta:

-então esse é seu maior problema? é por isso que está aqui?

-sim. sinto saudades do meu pai. 

-é por isso que realmente está aqui, florian?

o psicólogo pergunta mais uma vez, com ênfase maior na voz. ele é jovem, moreno com o cabelo naturalmente arrumado. ele é bem bonito e simpático, parece um cavalheiro. florian se sente confortável na presença dele, mas se incomoda um pouco com a pergunta.

florian o encara rapidamente, com um olhar fechado e um pouco raivoso. mas logo se recompõe da pergunta, abre um pequeno sorriso e responde:

-sim.

florian diz, com as mãos extremamente abertas.

-okay. e na escola? como vai? 

-ah, ótimo. muito bom mesmo, maravilhoso.

as mãos dele continuam abertas demais.

-suas notas?

-as melhores da sala, arraso nas provas.

-nossa, você deve estudar bastante.

-na verdade não, eu acho que só tenho a habilidade natural de entender as coisas com facilidade e rapidez. sou bem inteligente mesmo, estudo bem pouco.

a mão direita dele chega a estalar do tanto que florian força para mantê-la aberta.

-nossa. você deve ser bem querido pelas pessoas da escola, então. não é bitolado no estudo, é naturalmente inteligente, deve ter muitos amigos e ir para várias festas...

florian trava. ele percebe o que o profissional está fazendo. ele espera que florian minta. ele já percebeu que florian mentiu sobre ser inteligente. mas como florian poderia dizer a verdade? como poderia explicar para o doutor? ele acharia florian louco. 

o garoto se sente pessoalmente ofendido pelo psicólogo achar que ele é um mentiroso. o ambiente que parecia ser confortável para ele desabafar e colocar seus sentimentos em ordem, logo parece hostil com mais uma pessoa o julgando. mas ele decide então ser sincero, pelo menos pelo que dava ser.

-não. na verdade, não. não tenho muitos amigos e acho que nunca fui em uma festa na vida.

florian fecha as mãos.

-nunca?

 flashbacks vem na cabeça de florian. ele já havia ido em uma festa uma vez, mas foi tão ruim que ele apagou a memória. ele lembra de pessoas jogando bebidas nele e o ridicularizando enquanto ele chora. após o doutor perguntar isso, ele sente a memória voltando e quase tem um colapso.

-não, nunca.

ele diz, nervoso por estar colapsando, mas se segurando para que o doutor não perceba. depois que ele diz aquilo a memória volta para a "lixeira" do seu subconsciente.

-por que ninguém é seu amigo e nem te chama para as festas, florian?

-eu não sei, acho que simplesmente não é para mim. dizem que pessoas muito inteligentes costumam ser bem isoladas, não é?

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⏰ Última atualização: Mar 25, 2020 ⏰

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