Epílogo

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Em uma pequena vila chamada Godric's Hollow, localizada no sudoeste do Reino Unido, o Sr. e a Sra. Potter viviam muito bem, obrigado. Depois de passarem a juventude batalhando contra as trevas, não havia nada melhor para eles que sentar a varanda em um verão quente, observando os três filhos brincando no jardim, e aproveitando tranquilidade de um casamento de dezenove anos que consistia sempre em discussões familiares comuns e amor excessivo por ambas partes.

O Sr. Potter, aquele que sobreviveu duas vezes, trabalhava no ministério da magia como chefe do departamento de aurores. Era um homem marcado por sua famosa cicatriz em formato de raio em sua testa e os cabelos negros rebeldes demais para ficarem arrumados. A Sra. Potter era ruiva - como toda a família Weasley, a qual também pertencia – e, diferente da maioria das mulheres naquela vila, tinha um trabalho que amava. No passado era jogadora profissional de Quadribol, mas depois que veio o primeiro filho decidiu dedicar-se a família assim como sua mãe havia feito. Agora ela escrevia matérias sobre esporte e cartas semanais para o filho mais velho quando este estava na escola, o que dessa vez não era o caso visto que estavam todos em casa aproveitando os últimos dias das férias escolares.

Até o momento em que a pequena Lily, a caçula dos Potter, se aproximou chorando após um desentendimento com os irmãos, o dia estava perfeitamente normal e as corujas já haviam despejado as correspondências antes do almoço ficar pronto. Não havia nenhum sinal, tanto na terra quanto no céu, que poderia indicar que algo estava prestes a acontecer. Nenhum deles se quer havia reparado na enorme águia que os observava até ela abrir vôo.

Do outro lado da rua, uma estranha figura permanecia imóvel, olhando para um pedaço de papel amassado. Em letras tortas, um endereço se formava e indicava o mesmo número pendurado na frente da casa do casal Potter que certamente não esperava qualquer visita.

― Eles parecem ser boas pessoas, Kaya.

― Nem tudo é o que parece ser. ― Resmungou enquanto enfiava o papel novamente dentro do bolso de sua capa.

Era esperado que ela atravessasse a rua e tocasse a campainha, mas ela permaneceu imóvel com o garoto de aparência esbelta e fortes traços nativo-americanos.

― Você precisa ir. ― Ele disse ao tentar incentiva-la. ― Jamais poderão te ajudar se não contar o que viu e ouviu.

― Eu sei.

― A chave-portal vai partir em uma hora.

― Eu sei. ― Repetiu.

Em silêncio, o jovem parecia hesitar enquanto Kaya tentava evitar um contato visual. Ela lembrou-se das palavras de seu avô quando observou o relógio do bolso andando lentamente: pessoas em silêncio sempre têm muito o que falar, mas pouca coragem em seus corações. E por um momento ele pareceu ser capaz de ler sua mente, pois reuniu toda a força que tinha dentro de si – e rezou a seus antepassados e os espíritos da natureza que o ajudassem – para dizer o que precisava antes de ir embora.

― Eu gostaria de ter mais tempo com você. ― Sussurrou, esperando que estivesse dizendo alto o suficiente para ela escutar. ― Dez minutos. Não seria o suficiente, mas eu aceitaria de bom grado.

Castanho como seu chocolate favorito, os olhos marejados de Kaya encararam o rosto do rapaz como se implorasse para voltar ao silencio que estavam antes. Sabia que no final daquelas palavras, ela estaria com seu coração partido.

― No entanto, eu não devo reclamar do que já me foi proporcionado. ― Um meio-sorriso surgiu como uma pequena luz na escuridão. ― E agradeço aos deuses por terem me colocado nesse caminho.

― Talako... ― Tentou impedir que ele falasse, mas não sabia quais palavras poderia usar na ocasião.

Ele não esperou que ela formulasse qualquer frase e, segurando-a pelo braço, puxou-a para perto de si, envolvendo-a em seus braços musculosos.

A Ordem da SerpenteWhere stories live. Discover now