Capitulo 8 - Foz

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Durante o pouso Raí sempre imaginava o piloto esquecendo-se de baixar o trem de pouso. Mas agora sabia que aquele modelo de jato possuía um sistema automático que baixava as rodas de acordo com a altitude. Aprendera isso em um dos livros que lera nos três últimos dias. Alguns dos livros ele nem mesmo queria ler, mas desde que saíra d'A Agência seu cérebro parecia estar coçando por algo que ele não sabia o que era. E além do mais sua mãe sempre dizia que nenhum conhecimento é inútil. Um pouco irônico para quem não obrigou o filho a ir à escola.

Já no carro pôde ver ao longe Felipe e Magno juntos, ao lado do grande portão enferrujado, olhando os que desciam dos carros. Percebeu que os uniformes eram completamente disfuncionais em relação às habilidades dos dois. "Como ninguém percebeu isso?"

Ao descer foi invadido pelo forte cheiro de mato do local. Quando chegou ao encontro dos colegas Felipe o pegou de surpresa com um abraço, porém antes que ele pudesse levantar os braços para retribuir o colega já o havia soltado. Magno disse oi com um aceno de cabeça e um sorriso tímido.

— Como tu passou esses dias? — perguntou Felipe.

— Nós... nos falamos nesses três dias. — respondeu Raí com cara de dúvida.

— Ah... sim... — disse Felipe, constrangido.

Raí avisou que ia se trocar e passou por eles descendo as escadas. Antes estavam conversando sobre o que esperavam do futuro naquele lugar, agora o assunto já havia se esgotado. Magno pensou se seria uma boa ideia dizer que queria ver a agente Siqueira de novo. Mas não precisou, pois Tatiana estava descendo de um carro ao longe. Agora parte de seu cabelo loiro estava em um rabo de cavalo e o resto solto.

— A Tatiana! — anunciou apontado o dedo.

Felipe recebeu a amiga com um abraço longo e apertado. Novamente Magno se surpreendeu com a amizade dos dois. Disse oi, mas a menina foi logo o abraçando também.

— Oi, guri.

A menina mal soltou o amigo e já foi saindo escada abaixo pedindo que a acompanhassem.

— Eu tô apertadíssima! Não fui ao banheiro no avião porque eu tava dormindo e quando eu acordei, ele já tava pousando.

Eles desceram até a sala de inteligência. Enquanto Tatiana usava o banheiro, Felipe e Magno viram Raí em pé ao lado do menino responsável pelo supercomputador. Repararam que o agente Fernandes não parecia desconfortável na presença do cearense.

A agente Siqueira saiu do elevador às pressas com cara de brava:

— Eu estava procurando vocês! Vocês deviam se trocar e ir lá pra cima. — estava vestida exatamente como da última vez que a viram.

— Nós já estávamos indo — disse Felipe com um jeito bondoso —. Estávamos esperando a Tatiana trocar de roupa.

A gaúcha saiu do banheiro, já uniformizada. Não escondeu a cara de descontentamento quando viu a agente Siqueira.

— Chamem o outro! — ordenou a agente cruzando os braços e impedindo a porta do elevador de fechar com as costas.

Magno se adiantou, desceu o degrau e foi até Raí. O agente Fernandes ainda olhava Raí como se estivesse com medo, mas conversava normalmente com ele:

— ...Em volta da placa mãe e sistema de resfriamento a hidrogênio.

Quando viu Magno o agente se calou instantaneamente.

— A... a Siqueira quer falar com a gente.

— Ah. — fez Raí e saiu andando sem nem mesmo se despedir do agente Fernandes.

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