Eu não entendia o porque de ter se estressado tanto, eu tinha chegado lá primeiro! Só estava sentada! Existiam mil lugares naquela escola, era só ele procurar outro!
Argh! Eu estava revoltada. Enquanto estava sentada, socava tanto o chão que era impossível de não notar o espaço abrangente em vermelho no meu punho. Os olhares das pessoas estavam voltados pra mim. Me sentia desconfortável a ser o centro das atenções então gritei com toda a força:
- Estão olhando o que?! Perderam alguma coisa aqui?! Não é minha culpa se vocês são inúteis! Eu não sou museu pra ficarem me olhando!
Todos me encararam com fúria nos olhos, senti como se sugassem minha alma enquanto sucumbiam minhas forças. Levantei-me e segui olhando para meus pés, evitando fazer contato visual com aqueles que me cercavam.
Andei por alguns minutos até achar algum lugar seguro e sozinho. Me deparei com o último degrau do quarto andar vago. Me sentei e tentei relaxar.
Não era possível! Ele só podia estar me seguindo! Aquele garoto de novo!
Ele estava encolhido no canto da parede como um tatu ao se sentir ameaçado. Parecia estar dormindo.
Aquela foi a primeira vez que consegui admirá-lo com mais calma e mais de perto.
Ele tinha um rosto delicado, franzia as sobrancelhas de leve com cara de quem estava tendo um pesadelo. Seus cabelos pareciam ceda, entrelaçava meus dedos entre os seus fios enquanto olhava cair camada por camada, uma sobrecaindo sobre a outra. Sua boca entreaberta me dava desejo de fazer mais do que só observar.
Ele abriu os olhos, deve ter estranhado o meu toque em seu cabelo. Por impulso, assim que ele acordou dei um tapa com força em seu rosto. Só se ouvia o estalo da minha mão, em seguida gemia de dor e me xingava de idiota com ódio transbordando. Se levantou e saiu, novamente batendo os pés.
Não entendia do porque dele ter me chamado de idiota, ou do porque ter se irritado, dei-lhe o tapa como prova de amizade, será que ele não queria ser meu amigo? Eu não entendia, mas deixei quieto. Não queria arranjar mais problema.
Enquanto ele se afastava de costas de onde eu estava, me encoragei e falei alto:
- Qual seu nome?
Ele parou. Um silêncio grandioso tomou conta do lugar.
- Meu nome é Peter. Peter Fild. - ele me respondeu depois de alguns segundos.
Um silêncio constrangedor domou o momento mais uma vez, o que eu poderia dizer para quebrar aquilo?
- Você tem uma prima que estuda aqui, certo? Se me lembro bem... estuda no segundo ano, Lina Fild, estou certa?
- Conhece ela? - atropelou sua resposta e fez uma pergunta no lugar.
Afirmei com a cabeça.
- Nos conhecemos em um dos corredores hoje mais cedo. Ela me ajudou muito, estúpida daquele jeito só podia mesmo.
- Ei! Mais respeito! Ela te ajudou, não foi? Deveria estar agradecida. - Levantou a voz contra mim.
- Estou sendo carinhosa, não mal agradecida.
- Carinhosa?! Acabou de chamar a Lina de estúpida. Em que mundo você vive pra achar isso carinhoso?!
- Você ia gostar de lá - Afirmei a ele.
- Hã? Do que diabos está falando?
- Do meu mundo, desse mesmo nosso, mas onde a Meia Noite, o Fredy, Luar, o Jingle (que não costuma vir muito) aparecem. E tem muito mais deles.
Senti que ao dizer aquilo acabei revelando um pouco sobre mim, coisas que eu não queria que os outros soubessem. Não era minha intenção, foi por impulso, estava tão acostumada a falar deles em casa que acabou saíndo.
- Está louca, menina?! De onde tiras essas ideias idiotas? Está criando um livro de ficção? - Ria ele num tom debochado.
Me senti insultada, ele estava não só julgando a mim, mas aos meus amigos também, aquilo me estressou. Depois de minutos sentada naquele degrau, me levantei.
- Eles não são fictícios! São meus amigos! Eles existem! Todos eles!! - Perdi o controle mais uma vez e gritei com a força mais potente da minha voz.
Ele se assustou e ficou sem reação alguma. Não demorou nem segundos e minha garganta começou a arranhar, estava queimando e ardendo.
Toquei ao meu pescoço de leve e olhei para ele com cara de dor. Logo percebeu que eu havia forçado de mais minha garganta. Pegou em meu braço e foi me arrastando pelos corredores até chegarmos á enfermaria da escola.
- Meu braço dói, vá com calma. - Sussurava eu, sentindo dores fortes.
Quando entramos na pequena sala que cheirava a hospital, uma linda e jovem enfermeira foi nos atender:
- O que traz dos alunos aqui? - Dizia aquilo enquanto reparava o quanto as mãos de Peter espremiam meu braço.
Sua primeira pergunta foi muito objetiva:
- Foi uma briga?
Neguei com a cabeça e apontei á minha garganta.
- Oh! Inflamação? Gritou de mais, não foi?
Antes de me deixar acenar com a cabeça me barrou com conversa:
- Tome cuidado, isso pode prejudicar suas cordas vocais. Gosta de cantar? Se gosta, então deve se precaver, é sempre bom prestar atenção em detalhes mínimos. Tem que tomar conta do gogó, mocinha.
Ela falava de mais! Era engraçado, parecia íntima, quanto mais assunto mais fofoca.
- Mas conta, por que um da família Fild te acompanha? Foi com ele que gritou? - Falava ela cochichando em meu ouvido.
Ela já sabia de tudo só na base do chute, quem me dera essa sorte na prova de química. Do jeito que ela citou o nome da linhagem de filhos já devia conhecê-los há um tempo pelo menos. Eles deviam ser velhos na escola.
- Peter, como foi que aconteceu? Deve ter sido uma discussão digna de fazer uma donzela quase perder a voz, não é mesmo? Sua mãe não te ensinou a ser capacho para garotas bonitas como esta, ensinou? - Debochava ela da falta de consideração do garoto.
- Bom, vou te pedir um favor, princesa. Tome esse remédio, vai ajudar a sua garganta parar de doer. São só dez gotas. - Ensinava-me a enfermeira.
Eu fiz o que ela pedia. Nos despedimos e agradecemos, então fomos embora.
Bom amorecos, essa foi a parte três da minha história, ela ficou um pouco maior do que as outras, mas espero que tenham lido com carinho, assim como escrevi.
Obrigada por terem me acompanhado até aqui. Bijus. =3=♡
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Memórias Rompidas Pelo Tempo
Teen FictionDiagnosticada aos seus 12 anos com esquizofrenia, agora com 15 anos, Maya tenta levar a vida o mais normal possível. Enfrentando problemas sociais, escolares e preconceitos que correm descontroladamente pelos corredores de sua escola e ruas pelas de...