A chegada

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O barulho agudo do despertador que estava sendo de leve abafado com os tampões que escapavam da minha orelha me acordou antes do sol nascer e pudesse fazer a vista da cidade entre os prédios e casas que tanto me encantava. 

Calcei o par de chinelos e fui para o banheiro, a ducha de água fria era ruim no começo e quebrava a vontade de bancar a cantora, mas me ajudou a acordar totalmente o que normalmente demorava muito tempo e eu acabava fazendo tudo no automático. 

Sai do banheiro já com a roupa que iria para a chácara: uma bermuda jeans escura, uma blusa mais largada com uma estampa de um leão de aquarela de tons laranja e vermelho rugindo ferozmente e um tênis de cor preto com um detalhe em vinho. 

Fui até a sala onde meu pai folheava o jornal, quando viu minha aproximação e notou que estava sem meus fones ou qualquer proteção, fechou o punhado de papeis os descansando sobre a mesa de vidro ao lado do sofá de tom escuro. 

-Como está a minha princesa?- Ele perguntou sorrindo. Seu cabelo castanho estava aos poucos ficando grisalho por causa de sua idade. 

Ele era o tipo de homem que ficava lindo não importando o quanto o tempo passasse, seu corpo não era aquele do tipo de homem que passava o dia na academia, mas dava um baile em muito cara da minha idade. Seus olhos eram verdes e ele ostentava aquela barba por fazer e um corte de cabelo que nas ocasiões "certas" lhe davam um ar de homem rico e poderoso. 

-Bem- Sorri indo lhe abraçar- Dormiu bem, pai? 

-Claro- Sua mão foi até o topo da minha cabeça e bagunçando de leve meu cabelo, sorriu antes de continuar a falar - Posso saber o motivo de estar indo pra chácara tão linda assim? Tá querendo me dar um genro ainda tão cedo? 

Dei uma leve risada com seu elogio em forma de piada, mas no final sabia que meu pai apoiava e me incentivava a ser eu mesma, mesmo que algumas vezes eu parecesse mais com um garoto do que com uma garota e mesmo assim, sorria dizendo quão bela eu estava.

Ele levou sua mão até o seu lado do sofá dando algumas batidinhas no local, me sentei e fiquei o observando pegar algumas coisas que havia separado e estavam ao seu lado esperando à hora certa. 

A xícara de café ao lado do jornal só possuía leves manchas em seu fundo denunciando que alguns minutos havia o liquido quente que fumegava ali, seus olhos possuíam uma olheira levemente formada e ele acabou se esquecendo de ligar a televisão para assistir as notícias enquanto lia o jornal da manhã, logo: ele não havia dormido muito, tudo denunciava isso. 

-Aqui está- Ele estendeu uma pequena pilha de caixas. 

Olhei a caixa maior onde havia algumas palavras e uma imagem, quando a abri vi que se tratava dos binóculos que ele guardava na gaveta do quarto, uma embalagem feita de tecido acinzentado com manchas de poeira estava a guardar uma pequena câmera fotográfica e seu carregador, já a terceira e ultima caixa era na verdade uma embalagem fina com estampa circular. 

- Estou te dando como presente- Falou apontando a embalagem colorida- Sei que você tem mania de levar seu remédio na calça para tudo que é lugar, mas pode acontecer de você o perder e ter uma emergência. Espero que isso jamais aconteça, mas como você mesma fala: precaução, então, aí está um meu "presentinho". 

Abri a embalagem, tirei o papelão pintado de dentro do envelope de plástico e observei o colar preso. Seu pingente era na forma de uma pílula grande com uma pequena cruz dourada, toquei o aço frio e vi a linha de divisória: era para que eu guardasse meu remédio ali dentro o protegendo de qualquer eventual acontecimento. 

-Obrigada, pai- Lhe abracei como agradecimento. Tirei o colar do pedaço branco de papelão e com ajuda dele, o coloquei fazendo com que o pingente frio tivesse contato com a pele exposta - É muito lindo, vou usar sempre. 

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