Capítulo Único

696 77 49
                                    

- Você não pode estar falando sério. - Crowley riu, dando um tapinha no pacote que acabava de pegar dos correios. - O nome que você escolheu é Aziraphale Zira Fell? - explodiu em gargalhadas, o nome era muito mais engraçado quando era pronunciado. - De onde que você tirou isso?

- Ei, é um bom nome! Eu não tinha mais ideias do que colocar...

- Azi, é o nome menos humano que eu já ouvi.

O anjo colocou ambas as mãos na cintura, olhando para Crowley do jeito mais ameaçador que sua consciência que sabia que o outro estava certo permitiu. Ok, ele até aceitava que Aziraphale Zira Fell não era o melhor nome que ele poderia ter escolhido e que as pessoas podem até achar estranho, mas ele entrou em pânico quando o site pediu um nome completo e esse foi o único que ele conseguiu encontrar na hora H.

- Para a sua informação, esse pacote que você está balançando por aí é uma edição limitada que custou muito dinheiro e eu só tinha 10 minutos para preencher todos aqueles formulários, o que você queria que eu fizesse? - Interrompeu o outro, que já tinha uma resposta prontinha na ponta da língua, com um gesto. - Pelo menos todas as letras do meu nome significam alguma coisa, e você que é "Anthony J. Crowley" e o "J." não significa nada?

- Pode significar Jay. Anthony Jay Crowley é um ótimo nome de humano. Humaníssimo, se me permite dizer. E porque você simplesmente não só - estalou os dedos - essa tal edição limitada?

- Ah, querido... Você sabe que eu não posso ficar fazendo milagres toda hora, o pessoal lá de cima pode descobrir. Você deveria tomar mais cuidado também, você sabe como eles são. A gente conseguiu se safar uma vez, não vai acontecer de novo. Foi um puro golpe de sorte.

Crowley colocou o livro em uma escrivaninha qualquer, não queria ver o anjo se transformar em fera caso estragasse minimamente o pacote que embrulhava sua mais nova preciosidade e se jogou no sofá da biblioteca de Aziraphale, bufando e reclamando que "o pessoal lá de baixo" está muito ocupado para se preocupar com um milagre ou dois. Após o quase-armagedom e todas as escolhas e brincadeiras do destino que os fizeram chegar até alí, o ruivo havia decidido que não iria mais se preocupar com coisas cabais. Achava que eles já tinham feito um trabalho muito bom perdendo o anticristo e o reencontrando quando ele já havia resolvido tudo sozinho, havia mesmo a necessidade de todo aquele alvoroço pela parte do anjo? Claro que não.

Ou, pelo menos, ele gostaria de acreditar que não. Ele nunca fora completamente a parte racional daquela relação, por mais que Aziraphale também tinha culpa na maioria das burradas que eles se meteram. De certa forma, eles já haviam sobrevivido naquilo por seis mil anos, foi tempo suficiente para que o Céu ou o Inferno descobrirem algo e mesmo assim eles conseguiram ser mais burros que a dupla.

- Você realmente acha que foi sorte nós estarmos aqui? Lembra do que você disse, que tudo isso poderia estar nos planos inefáveis de Deus? Se Ela é onipresente, onipotente e onisciente, como você acha que nós nunca fomos descobertos? Se Ela realmente quisesse nos ver mortos, Ela já teria tomado uma providência, você não acha? - O demônio se ajeitou no sofá, apoiando o rosto em uma das mãos. - Pelo menos, eu acho que se dois serezinhos imortais estranhos estivessem atrapalhando os meus planos divinos, eu faria alguma coisa.

O anjo o olhava petrificado. Para dizer a verdade, ele nunca tinha parado para pensar nisso. Negar os planos de Deus era algo inimaginável para um anjo, mesmo um anjo deserdado.

- E-eu não sei. Acredito que, talvez, Ela possa estar ocupada fazendo outras coisas e não tenha percebido a gente ou algo assim. Os planos de Deus são-

- Inefáveis, sim, eu já sei dessa parte. Mas pensa comigo, é impossível que Ela saiba de tudo do passado, do presente e do futuro e nunca tenha percebido que a gente iria estragar o maior dos planos inefáveis que Ela já fez. O Armagedom não é pouca coisa para Ela não ter percebido...

VáOnde histórias criam vida. Descubra agora