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                   Depois de uma hora e meia   olhando para a paisagem que passava do lado de fora da janela, decidi mudar de posição e olhar para a estrada que se estendia na frente do carro, me arrependi no mesmo instante.
   Meu pai dirigia sem esboçar reação alguma, perdido em seus pensamentos enquanto guiava, minha mãe no entanto, sempre dramática, açova o nariz em um lenço, nem ao menos se dava ao trabalho de parar um instante de chorar.
   Me lembro do dia em que contei que queria vir para a IPEP cursar o último ano do ensino médio, minha mãe desmaiou no sofá da sala e meu pai parou de falar comigo durante uma semana.
    Para eles eu estava insatisfeito com a companhia deles, mas não era o caso. Desde pequeno pensava em sair da cidade onde meus país me criaram, para mim era muito parada assim como os moradores.
   E o fato de minha mãe ser diretora na escola onde eu estudava não ajudava muito.
   Não tinha muitas amizades porque (1) eu poderia dedurar (2) minha mãe apertava minhas bochechas todos os dias na porta da sala de aula e (3) era um ótimo motivo para eles me zoarem.
    Meu plano era ter, pelo menos, o último ano da escola agitado. Sem almoços sozinho no jardim, notas baixas em educação física por nunca ser incluído nos times, e sem foras de garotas. E para que isso pudesse acontecer eu teria que ir o mais longe possível da minha cidade e da minha família, onde ninguém me conhecesse e em uma escola onde minha mãe não conseguisse o cargo de diretora.
   E era óbvio que ela tentaria o cargo de diretora porque era a primeira vez em 17 anos que eu passava mais de um dia fora de casa. Por isso eu tratei de escolher uma escola quase impossível de se empregar, deu certo.
- Acho que não pegamos seu cobertor que sua avó te deu, temos que voltar - Minha mãe disse se virando para me encarar e depois xaqualhando o braço do meu pai que permanecia encarando a estrada.
   O rosto da minha mãe já estava vermelho de tanto que ela chorava, mas dessa vez eu sabia que não era drama, ela realmente estava sofrendo, seus olhos vermelhos e inchados me encaravam como se pedissem "POR FAVOR, FIQUE", sua boca trêmula que se recusava a ficar fechada parecia que soltaria um grito a qualquer instante. Decidi que era um ótimo momento para começar a consola os dois.
   Escorreguei até o meio do banco traseiro e segurei a mão da minha mãe.
- Acho que no momento não vou precisar mãe, essa região faz muito calor nessa época do ano - Eu disse. Vi o bico se formar nos lábios da minha mãe e percebi que tinha que me esforçar mais - no feriado de fevereiro vamos poder ir para casa, que tal a senhora deixar separado para quando eu voltar?
    Ela sorriu e concordou. Quando ela se virou para a frente denovo meus músculos relaxaram, prometi para mim mesmo que não iria dar para trás por causa de algumas lágrimas, eles iriam me ver denovo. Além do mais, uma hora ou outra eu iria sair de casa.
  Busquei meus fones de ouvido no bolso pronto para passar as próximas duas horas escutando algo mais consolador do que os soluços de minha mãe e o silêncio absoluto de meu pai.
   Antes de entrar em órbita tive tempo de ver o último soluço de minha mãe e como ela tentava arrumar inutilmente cabelos loiros, mesmo estando acabada, ela passava a mão repetidas vezes nas laterais da cabeça e dava pequenos tapas nas pontas, ignorando o fato de que suas lágrimas tinham feito o maior estrago em seus fios lisos e brilhantes.
   Fechei os olhos e pensei em algo que me desse forças para aguentar a péssima reação dos meus pais. Tenho que ir atrás da minha verdadeira história, pensei, ir atrás da minha felicidade.









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