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                  Paramos no estacionamento do colégio e meu pai foi o primeiro a saltar do carro.
    Era surpreendente como em poucas horas de viagem o clima tinha mudado radicalmente. Nessa época do ano o céu da minha antiga cidade era nublado e o clima não passava dos 20°C, aqui, no entanto, o céu era azul quente e sem nenhuma nuvem e o a sensação era de estar em um forno.
    Sorri. Aquele calor deveria me incomodar mas era isso que eu estava procurando, mudanças. E o fato de até o clima ser diferente me deixou animado para ver o resto da escola.
- Ainda bem que pegamos seu ventilador- Meu pai falou pela primeira vez.
  Pegamos todas as minhas malas e fomos em direção aos dormitórios.
  O lugar era simples, as paredes verde escuro e janelas grandes que pareciam ter feitas justamente para o verão escaldante.
  Os alunos se dividiam em pequenos grupos e se espalhavam pelo gramado bem cuidado. O espaço parecia ser uma espécie de jardim pois haviam árvores e plantas estrategicamente colocadas em quadrados  concêntricos. Porém também haviam bancos de concreto e balanços de pneus pendurados nos galhos das árvores.
   Quando nos aproximamos dos dois pequenos prédios onde ficavam os dormitórios, um homem que aparentava ter no mínimo 40 anos nos esperava sorridente.
  Ele acenou e, de alguma maneira, abriu ainda mais o sorriso.
- Você deve ser o Thiago Ricci - O homem estendeu a mão para mim e depois para meus pais - Sou o Sr. Marquez.
   Reparei no terno marrom que ele usava, as mangas e as barras da calça estavam um tanto curtas, a cor desbotada e não era nem um pouco elegante.
- Bom, presumo que eu já tenha falado o necessário pelo telefone ontem - Ele riu e bateu uma mão na outra - Sei que o calor deve estar os deixando exaustos e que o Sr. Ricci quer se estalar logo.
- Sim, essa mala está bem pesada - meu pai disse e levantou a mala que estava em uma das mãos.
  Nós quatro rimos, meu pai mais que todos. Já tentei explicar para ele mil vezes que ele não é bom fazendo piadas. Uma vez fomos em um restaurante onde tinha uma garçonete simpática, acabou que a garçonete pediu para algum garçom trocar de mesa com ela porquê um cara insinuou que ela era garota de programa.
- Não quero atrapalhar a mudança, só vim para entregar isso - O diretor estendeu uma chave em minha direção, presumi que era chave do quarto. Peguei.
- Se precisarem de alguma coisa estarei em minha sala - Ele disse antes de sair.
 
 

                              ***
 
  Obviamente eu tinha um colega de quarto, a cama de cima do beliche estava perfeitamente forrada e havia uma TV e um mapa, que parecia ter sido feito a mão, na parede. Ao canto tinha dois pequenos armários e ao lado da beliche uma escrivaninha com três gavetas.
  Comecei a guardar minhas roupas no armário enquanto ignorava meus país discutindo sobre o quarto minúsculo.
-Filho, você não vai separar isso? - minha mãe perguntou apontando para a gaveta onde estavam misturados as cuecas e as meias.
- Não, acho que estarem na mesma gaveta já é suficiente.
- Hum...
  Ela cutuca um dos dedos no queixo e olha da gaveta para mim.
  Eu bufo e começo a separar as meias para um canto da gaveta e as cuecas para outro. Minha mãe é persistente e iria separa-los sozinha se eu não fizesse.
   Afasto a grande caixa de madeira que estava no centro do quarto para poder colocar o tapete vermelho que trouxe e prefiro deixar a caixa encostada na parede mesmo.
   Deduzi que a caixa servia como um pequena mesa ou algo assim, não consegui pensar em qualquer outra utilidade para aquele quadrado de madeira enorme e pesado.
- Acho que é isso, seu novo quarto - meu pai diz se sentando na cama de baixo, minha cama, que minha mãe forrou perfeitamente. Eu iria bagunçar um pouco depois de ela sair.
   Observo o quarto, parecia bom. A estante ao lado da Tv estava agora cheguei de livros e a escrivaninha com um abajur de foguete que ganhei quando eu fiz 12 anos.
- Vamos conhecer o resto da escola - Mamãe diz.
   Minha mãe obviamente não queria ir embora e me deixar aqui, ela inventaria qualquer pretexto para ficar um pouco mais. De qualquer forma, andar pelos corredores com meu pais no primeiro dia não seria legal. Então eu digo:
- Faço isso amanhã, vocês já podem ir.
- Tem certeza?
- Sim, claro - Eu digo - A viagem foi longa e estou cansado e imagino que vocês também estejam.
   Eles entreolham-se e me olham devolta com a cara fechada. Eu imaginava que eles iriam querer ficar até o jantar. Eu suspeitava até que se eu deixasse eles ficarem até tarde eles iriam sentar comigo no refeitório no meio dos outros aluno. Fora de cogitação.
- Preciso dormir cedo, é sério. Não sei como vai ser a rotina, pode ser cansativo - eu digo - Quero descansar o suficiente.
   Eles suspiram, vencidos.
- Tudo bem - meu pai diz.
  Eles se levantam para me abraçar.
- Não se esqueça de ligar todos os dias.
  Faço uma careta.
- Tudo bem, todos os sábados.


Assim que meus pais foram embora, decidi dar uma volta pelo lugar. Na minha cabeça eu iria trombar com alguém que me chamaria pra conversar e me apresentaria para as pessoas e seria naquele momento que meu grande talvez começaria.
  Andei pelo jardim e vi alguns grupos de alunos ainda sentados em baixo das sombras das árvores.
  Quando vi já estava passando pela quadra onde algumas meninas com uniformes estavam jogando vôlei.
  Estavam com uniformes marrons e verde, uma combinação não muito boa.
  Sentado na arquibancada pude ver o quanto elas jogavam mal, a bola não ficava no alto por mais de alguns segundos. Me enganei quando achei que assistir ao jogo serviria de distração.
  Estava decidido a ir embora quando vi uma garota passando do lado de fora da quadra em direção aos dormitórios.
  Parecia distraída olhando pro chão enquanto andava, mesmo assim alguma coisa nela me prendia.
  Tinha cabelos longos e loiros, suas roupas alegres e sensuais ao mesmo tempo. Suas malas enormes pareciam estar abarrotadas de coisas.
  Eu estava fissurada naquela garota, tanto que esqueci que estava de pé pronto para descer os degraus da arquibancada.
   Foi quando ela virou o rosto e seus olhos encontraram os meus. Eram azuis como o céu que cobria a escola naquele momento, ela não desviou o olhar como eu pensei que faria, continuou com os olhos grudados nos meus.
   Qual seria seu nome? Qual seria sua história? Como veio parar aqui?
   Ela não desviava o olhar, eu muito menos tomaria essa atitude, no entanto outras forças acabaram com o momento.
- Cuidado! - Ouvi alguém gritar.
  A vontade de continuar a olhar para a garota foi mais forte e não procurei a voz. Em poucos segundos a bola bateu na minha cabeça e cai para trás, uma das garotas sacou a bola em minha direção.
  Minha visão estava turva e não conseguia enxergar nada com clareza, fechei os olhos para tentar recuperar a visão.
- Você está bem? - alguém perguntou.
  Afirmei com a cabeça ainda com os olhos fechados.
  A garota riu.
- Sinto muito, estão tentando me ensinar ainda - ela disse - sou novata, cheguei a alguns dias.
  Abri os olhos e pisquei algumas vezes.
  A garota tinha traços fortes de sua descendência asiática, seus cabelos estavam divididos ao meio e amarrados em laços rosas. Deve parecer infantil, mas por alguma razão nela davam destaque, ela parecia com desenhos animados.
- Se você não falar nada vou pensar que ficou bravo - Ela diz abrindo um pequeno sorriso envergonhado.
   Ela junta as mãos em frente ao corpo e pisca pra mim. Sério, ela realmente parece um desenho animado.
- Hum...
   Eu não consigo nem formular uma frase, tudo que consigo e me esticar para ver se a loira ainda estava olhando. Não estava.
   Ela não estava lá. Por um lado fico feliz de ela não ter visto que eu ainda estava sofrendo por causa de uma bola de vôlei.
- Qual seu nome? - Ela pergunta.
- Thiago.
   Ela estala a língua, como se eu tivesse desvendado um mistério ou dito algo genial. Achei estranho mas decidi não mostrar que me incomodei.
  Ela parecia esperar que eu perguntasse seu nome, como fiquei quieto ela se apresentou.
- Meu nome é Naomi Han, prazer - Ela sorri e estica a mão para me cumprimentar.

  

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⏰ Última atualização: Jan 21, 2020 ⏰

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