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- É um disfarce, não sou um traidor. - O homem de mais cedo agora está na minha frente usando uma camisa cinza e uma calça azul. – Só preciso saber o que eles sabem.

- Eu quero voltar pra casa.

- E onde você mora?

- No lugar de onde vocês me tiraram, eu ainda tenho aula.

- Qual o seu nome?

- O que é um nome?

- O modo como as pessoas te chamam, qual é?

- Não existem mais pessoas pra definirem se alguém é algum, não te ensinaram nada?

- De onde eu venho os homens trabalham enquanto as mulheres estudam.

- Tudo bem eu te ensino, mais tem que me prometer que não vai contar que fiz isso aos seus, pode me jurar isso?

- Posso, eu juro que não conto a ninguém.

- Uma pergunta, você é de uma colônia aberta? – Ele pareceu confuso com a minha pergunta. – Ao ar livre, com coisas como o sol e o ar contaminado?

- Sou.

- Ele sempre disse que vocês são loucos por acreditar no retorno, eu os acho corajosos por fazerem isso, se arriscar a morte todos os dias apenas pelo prazer de sentir a queimação na pele.

- Algumas coisas fazem valer a pena.

- Não duvido, mais sem enrolação, a história não é nem um pouco curta. –

Me acomodei na cama enquanto deixava um espaço para que ele se acomodasse.

Comecei então a explicá-lo porque as coisas estavam diferente, comecei contando sobre as guerras no continente africano por conta da cor da pele e sobre um louco alemão que acredita que somente os brancos eram seres humanos, e ele também condenava as pessoas pela religião tirando toda liberdade de expressão, e ele parecia entender, não fazia nenhuma pergunta, talvez ele já conhecesse essa parte da história, era praticamente o básico de tudo.

- Está conseguindo acompanhar. – Ele assente com a cabeça e decido que é melhor continuar. – Me interrompa em qualquer dúvida que tiver.

Comecei então a contar sobre fatos mais antigos como quando as pessoas era arrancadas de suas casas e levadas para outros territórios para trabalharem contra a vontade, e contava coisas mais atuais, como o massacre em uma cidade externa onde pessoas inocentes de uma cor diferente foram chacinadas apenas por não terem a cor que os outros queriam, e ele parecia focado em cada palavra que eu dizia.

Foi então que comecei a complicar as coisas pra ele, comecei a falar sobre quando as ruínas do mundo velho caíram e a ascensão da cor se tornou inevitável, sobre como pessoas como nós estavam se tornando donos de empresa e médicos, enquanto alguns de nós eram caçados como animais para a diversão dos que tinham a cor certa.

- E quando foi que tudo começou a dar errado?

- Quando as cidades caíram no mar, cidades brancas inteira mortas e os sobrevivente culpando aos sobreviventes de cor que não afogavam, foi quando começou as capturas, eles levavam as pessoas e prendiam-nas em poços enquanto os enchia de água para ver se eles realmente morriam, igual ao que faziam com as bruxas de Salem, foi quando começamos a nos esconder.

- Está me dizendo então que todos os negros se esconderam?

- Precisavam, e foi aí que todas as cidades caíram no mar, mais algumas pessoas brancas não morreram porque estavam em barcos no oceano, mais algumas simplesmente não morriam, como se fossem como os negros, e essas pessoas também foram forçadas a se esconder de algum jeito.

Eu não conheço muito bem quando foi que as ilhas começaram a aparecer de novo, mais quando voltaram, os sobreviventes dos barcos tinham intoxicado a ar para que nenhum dos sobreviventes de afogamento pudesse respirar em terra firme novamente, por isso seu povo é tão corajoso em ir pra superfície, se arriscando a ser caçado ou simplesmente morrer pelo ar.

- Se essa é a história, então o que te garante que as moças de mais cedo não eram sobreviventes do afogamento?

- Não se pode confiar, ele tem a mesma cor, o que te garante que não estão infiltrados como você?

- Você não sabe de quem é a voz nos altos- falantes, não é?

- Ele me protege, é tudo o que eu sei, ele pode ser controlador, e eu posso nunca o ter visto, mas sei que ele só quer meu bem, ele cuida de mim, por isso tenho que achá-lo.

- E o que garante que ele não é como as pessoas do barco, você nunca o viu.

- Ele não cuidaria de mim se fosse um dos vilões.

- Cuidaria se fosse para ter você contra os seus.

- Ele não quer, olhem a minha plataforma está tudo lá, ele não faria mal nenhum para mim, ou para aqueles como eu.

- Ele te chamava de alguma coisa?  Alguma coisa que pudesse parecer uma identificação?

- Ele me chamava de querida.

- Eu posso te chamar de Maya.

Me chame de MayaOnde histórias criam vida. Descubra agora