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- Eu não vou voltar lá.

Eu gritava em plenos pulmões pra quem quisesse ouvir naquele hospital que eu não ia sair de dentro daquele armário, eles veem me enchendo de informações nas últimas semanas, eu não preciso que me encham de informações e aquela coisa que dói os olhos.

- Eu posso fechar as cortinas.

- Ou pode me deixar aqui

- Maya você não pode ficar ai.

- Primeiro vocês tentam cortar o meu cabelo, depois dizem que a praticamente tudo o que eu sei é mentira, ai falam que eu estive sequestrada por anos e agora quer que eu fique no sol, ou tomo minhas vitaminas, faço os exames, deixo vocês me furarem, o que mais vocês querem?

- Que você pelo menos tente ficar no sol, e temos que desfazer suas tranças pra poder lavar o seu cabelo.

- Eu não quero.

- É uma questão de higiene Maya, você tem que lavar o cabelo, e nós só furamos você porque queremos saber quem você é, o que acontece se você ter alta, vai ter que sair no sol de qualquer jeito.

- Eu vou voltar pra casa.

- Lá não é a sua casa.

- Mas é onde eu cresci, não quero ir morar com estranhos que não me querem.

- Quem te disse isso?

- O garoto do quarto no fim do corredor.

- Maya isso não é verdade, lembra do Jay, ele está disposto a ficar com você.

- Se ele vai ficar comigo, então cadê ele?

- Se eu conseguir que ele venha até aqui, você volta pro quarto?

- Volto.

- Me prometa.

- Ana, eu prometo que volto para aquele quarto iluminado demais se você conseguir trazê-lo aqui.

- Ótimo, façam o isolamento nas janelas, eu vou descobrir onde o doutor Mercy está.

- Eu já volto Maya.

---***---

- Você tem síndrome de Estocolmo por acaso?

- Não sei o que é isso.

- Eu disse que eu estaria me cirurgia.

- E foi por isso que trouxe uma maçã.

- E cadê a maçã?

- Eu comi.

- A Ana tá com raiva de você.

- Eu não tiro a razão dela, mais minha pele parecia estar em chamas, doía muito, e se eu não tivesse feito isso eles não teriam isolado as janelas.

- Você tem problema sabia?

Jay era o médico com quem eu tinha conversado quando cheguei, e ele quem me deu aquele choque de realidade quando me tiveram que me contra que o mundo não tinha acabado, mais o racismo ainda existia e quase na mesma intensidade da história.

Foi ele também que me conseguiu que os bombeiros procurasse pelas minhas coisas nos escombros onde me encontraram, e a maior parte das coisas estavam sujas de pó e lama, mas dava pra salvar, até mesmo a plataforma estava intacta.

- Eu sei que o sol dói, mais quero testar uma coisa. – Ele fechou as portas do elevador onde estávamos e clicou no botão que indicava o andar mais alto.

Quando as portas do elevador se abriram revelando um pátio vazio e uma linda vista que parecia banhada pela lua, e não pelas próprias luzes da cidade.

- Essa dói?

- É igual à que eu desenhava, quando era menor ele me mostrou uma vez um documentário sobre a lua e como os humanos pretendiam póvoa-lá, era bem intenso.

- Você também é humana.

- Ninguém mais além de você e Ana me considera assim, eu passei tanto tempo dentro de um buraco no chão tendo como única amizade uma voz em um alto-falante, me chamam de aberração e esquisita.

- Você não é de todo esquisita, só não tem muita vivência em sociedade, sabe um grupo de voluntários da escola vão vir aqui amanhã, eu ia mandar deixarem seu quarto em paz, mas acredito que vai ser bom pra você interagir com outras pessoas.

- E se eu não quiser?

- Não estou te dando opção, prefiro você em um grupo do que se escondendo no em um canto escuro, eles vão ser informados dos casos antes de entrarem nos quartos para não serem insensíveis.

- Eu não me escondo em um canto escuro.

- Você passou as últimas 8 horas dentro de um armário escuro, não sei pra você, mais essa é minha definição de canto escuro.


Me chame de MayaOnde histórias criam vida. Descubra agora