VI
— É uma tragédia monstruosa!
— É nada, mulher. Deixa de drama.
Eu me viro indignada para Alex, mas ele nem me olha. Está sorrindo para meu celular em suas mãos, afundado na coisa enorme, cinza-chumbo e em formato de L, que chamo de sofá. Ou melhor, de "meu sofá de visitas", porque ninguém nunca senta nele, só as visitas. Ou seja, Alex.
Ele estica a perna sobre a mesinha de centro, que tem a exata finalidade de servir de apoio para os pés. Na parede ao lado do sofá, longas prateleiras de madeira grossa vão do chão a quase o teto. Tenho só alguns livros nelas, mas pretendo enchê-las com eles, um dia. Um projeto longo e prazeroso que quero aproveitar ao máximo.
— Se precisa fazer, então precisa fazer — declara Alex, como se fosse o óbvio ululante. E acho que é, na real.
Eu me jogo no meio do sofá ao lado dele, frustrada. No espaço entre nós, caberiam mais umas três pessoas com folga.
— Não acredito que vou ter que criar uma rede social só pra acompanhar coisas da aula. E se eu não tivesse acesso à internet?
Alex levanta a cabeça e pisca de forma deliberada. Então me explica como se eu fosse uma criança:
— Se você não tivesse internet, teria que usar os computadores da universidade, mas vamos agradecer que não é esse o caso porque a quantidade de germes que tem neles é impressionante. — Faço uma careta. — E não são só coisas da aula que você vai acompanhar, tem também os eventos, as fofocas e as pessoas. — Ele pronuncia "pessoas" com ênfase, arrastando a palavra. Faço outra careta. — Você quer se juntar às pessoas, certo?
— Errado.
— Certo. Você quer ser uma mulher que se comunica e estabelece conexões e é uma ótima profissional. — Grunho com a perspectiva. — Ainda tem alguns anos pela frente, mas é bom começar já.
— Puta que pariu, mano. A parada nem começou e já fiquei exausta. — Esfrego o rosto, a cabeça apoiada no encosto do sofá. — Como você é tão ligado nisso tudo? Nunca fez faculdade.
Ele estufa o peito, orgulhoso de si mesmo.
— Ficaria surpresa com a porcentagem da galera na academia que só fala sobre essas merdas. O pior é ter que ouvir e fingir interesse. O que a gente não faz pra manter cliente.
Alex é campeão de MMA. Para poder treinar e financiar os campeonatos, ele se submete ao trabalho de personal trainer. Do jeito que fala, parece uma função ingrata, mas sei que adora. De que outra maneira poderia exibir os músculos e as habilidades conquistadas com as lutas?
Costumávamos ser uma dupla, mas acabei ficando para trás. Voltar aos treinos é um de meus próximos objetivos, só tenho que conseguir conciliar isso com minha vida de universitária agora.
— Enfim — continua ele —, vamos resolver isso logo. Olha, já tô criando uma conta nova.
Ele se aproxima de mim no sofá e me mostra a tela do celular. Nela, uma rede social espera que meus dados sejam inseridos. Alex escreve meu e-mail e me entrega o aparelho.
— Digita uma senha aí.
Faço o que ele diz e a tela muda, com os campos em branco para que eu insira mais dados.
— Vai colocar o nome completo? — Alex não dispensa o humor na voz e eu o respondo no mesmo tom.
— Mas é claro. Um nome desses não pode ser desperdiçado.
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Quase Sem Querer
RomanceVocê sente sua música? Ganhar essa aposta vai ser fácil como ouvir a mais tranquila das canções: Virginia só tem que se aproximar de Kim (alguém que, antes de seu primeiro dia de faculdade, ela nunca havia visto), trocar uns beijos com ela e provar...