Instinto

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- Você está bem? - Cláudia me olhava desconfiada.

- Por que está me perguntando isso?

- Bom você saiu de lá, passou por tudo o que passou e agora quer voltar para lá? Sinceramente não estou te entendendo!

- Eu sei que é confuso, mas quero ver como minhas irmãs estão. Afinal de contas, elas não têm culpa do meu pai ser como é. Não estou fazendo por ele, mas por elas. E... eu preciso mesmo vê-las.

Disse isso mais nervosa e ansiosa do que deveria. Não queria deixar Cláudia preocupada, porém o sonho que tive estava vívido, outra vez, em minha mente e eu queria apenas ter certeza de que todos estavam bem, mesmo que meu pai não merecesse minha atenção e preocupação. 

Para tentar disfarçar meu nervosismo completei:

- E também preciso pegar algumas mudas de roupa. Quero muito tomar um banho!

Não sei se ela acreditou, ou apenas fingiu acreditar, em minhas desculpas.

-Está bem. O que eu não faço por você em?

- Obrigadinha! Você é a melhor!

- Eu sei disso!

Mesmo tendo problemas, Cláudia tinha uma autoestima invejável. E eu gostava disso nela. No caminho até lá, ouvi várias pessoas cochichando a meu respeito. Não dei atenção. Nunca me importei com a opinião alheia e não seria agora que me importaria, além do mais, eu não fiz nada errado nem ilegal, então por que deveria me importar? Entendendo do que se tratava, Cláudia tentou amenizar.

- Todos da cidade notaram seu desaparecimento.

- Eu deduzi que isso aconteceria.

- Por isso eles estão cochichando.

- Tudo bem. Não se preocupe. Não é nada que eu não consiga lidar.

Passados alguns minutos, finalmente, estávamos chegando. Ao avistar a casa percebi que a porta estava aberta. Meu coração acelerou e tive medo de me aproximar mais, porém sabia que deveria, foi para isso que havia ido até lá. Cláudia também notou e se pronunciou.

- É normal a porta estar escancarada assim?

- Não. Não é!

Eu falei e apressei o passo entrando na casa enquanto ela tentava me acompanhar. Assim que coloquei os pés dentro da sala, o silêncio que pairava era assustador. Comecei a andar por todos os cômodos, mas nem sinal de nenhum dos três. Tudo o que via a minha frente era apenas escuridão e quanto mais me aproximava do meu quarto, mais meu coração parecia que ia saltar pela boca. Ao chegar à porta notei a luz acesa. Rapidamente meu cérebro idiota me fez lembrar o sonho da noite passada e a imagem deles caídos no chão não ajudava muito.

"Calma, Ariam. Respira!"

Era tudo o que ficava repetindo mentalmente para mim mesma, tentando manter a voz da razão funcionando.

"Você jamais os machucaria. Mas então onde eles estão? Pare com isso! Não vai ajudar!"

Respirando profundamente segui para dentro do pequeno quarto e para meu alívio, ou não, não havia nada demais lá. A menos, é claro, pelo bilhete preso na parede acima da cama.



"Se quiser vê-los com vida, é melhor vir ao meu encontro. Caso contrário sabe exatamente o que acontecerá. Se eu não os matar você irá! Sabe onde me encontrar e se não souber siga seu instinto ele não a deixará errar!"



Ao ler aquilo, um calafrio horrível passou na minha espinha. Cláudia segurava minha mão e estava tão perplexa e confusa quanto eu.

- Ariam, o que isso significa?

- Significa que alguém me quer e em troca devolverão minhas irmãs e meu pai.

- Mas quem e por que querem você?

- Isso eu não sei. Só sei que preciso fazer algo a respeito.

- O que quer dizer "se eu não matar você irá"?

- É o que vou descobrir.

Corri até o meu armário, peguei uma muda de roupa e segui em direção ao banheiro. Tomei um banho e depois de trocar de roupa, sai. Cláudia permanecia sentada na cama e com olhos curiosos e cheios de medo perguntou:

- Você vai, não vai? Voltar para a floresta?

- Como você sabe?

- Não deve ser coincidência pegarem sua família logo depois que você voltou da casa daquele rapaz.

- Espera um minuto! Você acha que foi ele? Não pode! Por que ele faria isso?

- Talvez não ele, especificamente. Mas a espécie dele!

- Você ainda acha que ele é um deles, não é?

- Que outro motivo haveria para ele morar na floresta?

- Mas por que iriam fazer isso?

- Talvez... por ele ter se engraçado com uma humana?

- Não faz sentido. Se eles me quisessem e soubessem onde eu estava por que não me pegaram antes? Por que pegar minha família para me atrair?

- Não sei o que te dizer, Ariam. Não posso impedi-la. Sei que quando mete algo na cabeça não há Cristo que tire, só peço que tenha cuidado e me deixe ir junto.

- Não, Cláudia. Não posso permitir isso.

- Por que não? Eu quero ficar do seu lado.

- Preciso que fique, caso eles sejam libertos. Preciso que alguém fique de olho se mais alguma coisa estranha acontecer. E acima de tudo não posso colocar você em perigo. Os três já estão. Não vou aguentar que mais alguém, relacionado a mim, caia em mãos erradas.

Ela me abraçou forte e parecia não querer me largar.

- Sinto muito por isso.

- Eu sei.

- O que será que eles querem com você?

- Ainda não sei, mas tenho um pressentimento de que estou prestes a descobrir. E acredite não é boa coisa.

Filhos da Escuridão ↬ Boo SeungkwanOnde histórias criam vida. Descubra agora