XVII

5.5K 888 109
                                    

Sua imagem decadente estava diante do espelho. Phoebe tentava ensaiar um sorriso para exibir ao filho quando chegasse em Londres, mas aquilo estava custando tanto. Mesmo que tivesse decidido sair do luto, seguir sua vida mais uma vez, estava sendo doloroso todo o processo.

Começou retirando o preto, colocando vestidos com cores mais alegres. Depois procurou saber os penteados que estavam na moda, precisa se atualizar. Voltou a colocar suas joias, cavalgar pelos campos, visitar sua irmã e seu sobrinho. Voltou a viver sua vida, como deveria ser.

Algumas vezes tentava visitar sua antiga sogra, para saber como ela estava lidando com a perda de John. Mas, tinha medo de encarar aqueles olhos acusadores, ainda não tinha carga psíquica para lidar com ofensas.

A viscondessa a acusava de ter acabado com sua linhagem familiar. Nunca esqueceu as palavras horríveis que a mulher lhe disse quando foi comunicar a perda da criança. Em vez de afagá-la, apedrejou sem nenhum tipo de remorso. E intimamente, acreditava que toda aquela situação tenha feito seu marido piorar.

A doença de John se agravou depois de todos aqueles acontecimentos, era nítido. Tinha implorado para que nada fosse dito para ele, mas sua sogra como uma forma de atingi-la e enfrentá-la, contou absolutamente tudo. Deixou um homem enfermo agoniado por mero egoísmo.

Em uma manhã fria de junho, John deu seu último suspiro e partiu para sempre. Recebeu a notícia com certo conforto em seu coração, porque o sofrimento dele havia acabado. De nada adiantava continuar vivo naquele estado. Rezou muito pela alma do marido, para que tivesse uma passagem tranquila.

Foram três perdas diferentes em tão pouco tempo, que achava espantoso.

Terminou de fazer seu penteado para poder partir o mais rápido possível para sua antiga Londres. Depois de dois anos longe da sua terra natal, resolveu voltar para visitar seu pai e rever seu filho.

Robert crescia lindamente, cada vez mais inteligente, segundo seu pai. Phoebe sentia tanto orgulho do seu filho, assim como sentia muita saudade dele. Era muito complicado tê-lo longe por tanto tempo. Perdeu suas novas perguntas, suas evoluções, seus pequenos erros. E mesmo que seu pai relatasse tudo nas cartas, não era a mesma coisa de estar vivenciado pessoalmente.

Bethany entrou no quarto com uma das suas valises.

— Senhora, está tudo pronto para nossa partida. Assim que quiser partir, podemos ir.

— Obrigada, Bethany. — suspirou. — Gostaria que houvesse um meio mais rápido de chegar em Londres.

— Não posso negar que estou ansiosa pela viagem e pela experiência! — sua voz não negava o entusiasmo. — O pequeno Robert deve estar tão lindo! Sinto muita falta dele correndo pela cozinha. Estou muito feliz que a senhora queira me levar. Essa oportunidade é incrível!

— Preciso de você. — sorriu e pegou a mão da mulher carinhosamente. — Foi minha mãe nesses tempos difíceis, acho que muitas coisas aguentei devido a sua imensa dedicação. Bem, percebi que todas as noites se sentava ao meu lado e rezava. Acho que minha mãe faria o mesmo.

Bethany apertou a mão de Phoebe.

— A senhora foi a melhor pessoa que cruzou o meu caminho durante esses anos. Passei por muitas casas, e nenhuma me tratou com o mínimo de humanidade. Bem sabe como funciona o tratamento de patrões e empregados, mas nunca foi assim. Nem sua família, pelo que pude observar nos dias em que estiveram aqui.

— Fico feliz que minha família tenha deixado você confortável.

— Sim, eles são ótimos! — afagou com o polegar a mão dela e soltou logo em seguida. — Vou conferir tudo antes de partimos, quero ter certeza de que não esqueceremos nada.

— Conferiu muitas vezes, acho que não está esquecendo nada. — começou a rir com a preocupação de Bethany. — E, não ficarei para sempre em Londres, voltarei para cá.

— Deveria firmar residência em Londres.

— Estava pensando sobre isso, seria o mais adequado a ser feito. Não vai demorar muito para que Robert comece a estudar, de certa forma eu estaria mais perto. Também quero estar mais próxima do meu pai, ele passou por muitas coisas também. — suspirou. — Não é assunto para agora, posteriormente pensarei.

Levantou-se da cadeira, olhando mais uma vez para o espelho.

— A mulher que está saindo daqui hoje morrerá assim que atravessar a fronteira da Escócia para Inglaterra. Eu prometo para mim mesma que será uma nova vida, um novo começo, uma nova vida.

❀❀❀❀

Francesca estava guardando suas últimas coisas para enviá-las para carruagem. Seu cabelo estava solto em cachos perfeitos, adorava vê-los soltos daquela forma, porque de alguma forma fugia dos padrões dos variados penteados.

Benjamin havia descoberto que odiava penteados, preferia o cabelo livre.

Fazia alguns meses que começou um romance com a cantora lírica. Inicialmente, achou que não teria futuro algum, pelo fato de almejarem coisas diferentes. Algum dia teria que sossegar em Londres, cumprir seu papel como duque, fora seu papel como conde em Edimburgo. Jamais pediria para que ela largasse sua carreira para se casar com ele e se prender em convenções sociais em que uma duquesa e condessa seria obrigada a se submeter. Mas, Francesca apenas sorriu e disse para ter calma, porque o destino era uma caixa de surpresas.

Gostava muito dela, sentia-se muito bem em sua companhia. Não estava perdidamente apaixonado, mentiria se dissesse que sim. Seria um grande equívoco sugerir que era algo avassalador como as paixões costumavam ser. Muito pelo contrário, era tudo muito calmo; pois eram pessoas que apenas se gostavam o suficiente para estarem juntas. Porém, estavam sujeitos a sucumbir por algo maior futuramente.

Tinha mandado cartas para sua mãe contando sobre a nova mulher em sua vida. A condessa não demonstrou muita alegria em suas respostas, parecia bastante adversa a ideia de ter Francesca como sua nora. Supôs que fosse pelo fato dela ser cantora — não possuíam uma fama muito boa —, e sua mãe era muito conservadora sobre essas questões matrimoniais. Mas salientou em suas cartas que Francesca era diferente. Então veio a ordem da condessa: eles tinham que partir para Londres para que pudesse tirar suas próprias conclusões.

Benjamin fez o convite para Francesca.

Ela aceitou no ato.

— Acho que peguei tudo para nossa viagem, Ben.

— Literalmente tudo. — sorriu.

— Preciso causar uma ótima impressão para sua mãe! — sentou-se no colo dele, colocando a mão por trás do seu pescoço. — Tenho muito medo dela me colocar para fora da casa de vocês.

— Minha mãe não teria esse tipo de comportamento.

— Poderia gentilmente pedir para que eu me retirasse. — beijou sua boca rapidamente. — Acho melhor nos adiantarmos, não podemos perder esse navio de forma alguma.

— Com certeza, Srta. Bocelli.

Ela saiu do seu colo para arrumar seu cabelo e colocar seu chapéu.

Benjamin apenas ficou pensando na hipótese de Francesca estar certa sobre sua mãe.

A esperança de PhoebeOnde histórias criam vida. Descubra agora