A Prateada Vermelha.

Capítulo 5.

Estou ouvindo música quando alguém me puxa pelo braço em um solavanco, acabo tropeçando em meus pés e na barra do vestido de dama e me firmo na pessoa que me puxou dessa forma tão brutal. Tive que me segurar para não fazer uma besteira.
Olhei para o indivíduo e vi que era um guarda, ele me soltou e me olhou enquanto eu tirava os fones.
-O que foi?
Ele não me respondeu, apenas se manteve em sua posição e seus olhos me disseram que tinha alguém atrás de mim, alguém que eu não gostaria de saber. Me virei relutante e vi a um Merandus, não sei quem é e nem quero saber, o pânico me assolou e eu temia pela minha vida e a de meus pais.
O Merandus veio até mim lentamente e o guarda atrás de mim vacilou, quase que se colocou entre nós dois, me mantendo longe do murmurador. Um dos tios ou primos do garoto que se chama rei.
-Quer dizer que você é a queridinha da rainha Iris. Aquela ninfoide conspiratora. - ele ergue a mão e apontou para sua cabeça. - Vamos ver o que eu encontro aí dentro.
Me encolhi apavorada perante a ideia de ter um murmurador em minha cabeça, em meus pensamentos. Tudo o que Iris me contou, tudo o que jurei manter em sigilo, seus planos contra o marido. Tudo seria exposto e eu seria morta por traição junto a ela.
-Saia de perto dela imediatamente, Lord Merandus.
As lágrimas se acumulam em meus olhos, mas não as deixo cair, não deixarei esse gostinho ao Merandus. Ele vem com a mão na minha direção e eu me afasto assustada, o sentinela me segura pelo ombro e me imobiliza no local perto da mão de meu torturador.
-Eu mandei se afastar da senhorita Morrow, Lord Thomas Merandus.
Seus dedos me tocaram, mas nada me aconteceu, nenhuma dor e então que fui perceber. O guarda que apareceu, um silenciador. Por obra do destino ou não, um dos silenciadores apareceu e me protegeu.
Suas roupas são de Norta e não de Lakeland, o que me faz presumir que é um Arven e que "gosta" de mim se não, não o teria impedido.
Thomas se afastou de mim sem emoção, com sua máscara de desdém e desinteresse e olhou para o guarda Arven.
-Estava apenas querendo ver o que essa garotinha tem em sua mente perversa.
Sua voz saia como farpas geladas e tenho certeza que se não fosse o silêncio, minha cabeça estaria doendo. O sentinela me solta e eu desabo no chão trêmula e com as lágrimas finalmente soltas pelas minhas bochechas prateadas. Abaixo o rosto para o chão e deixo o meu cabelo esconder minhas bochechas prateadas pelo choro e vergonha, pois mais uma vez fui salva por um Arven.
Ouço passos e depois uma mão em meu ombro, seco o rosto prendendo a respiração.
-A senhorita está bem?
Com o olhar ainda no chão e trêmula, concordo com a voz fraca e embargada pelo choro.
-Consegue se levantar?
Confirmo e me levanto apoiada nele, mas minhas pernas cedem e ele me firma, um instante depois estou em seus braços e sendo levada para o quarto, onde me coloca em minha cama confortável.
-Obrigada.
-Sempre ao seu dispor, senhorita. - ele dá um mínimo sorriso, quase sem aparecer e com a voz baixa. - A rainha lhe tem como uma irmã, não posso permitir que algo lhe ocorra.
Olho para minhas mãos e sem entender o motivo as lágrimas voltam com tudo e eu me encolho na cama, abraço minhas pernas e apoio minha cabeça em meus joelhos e assim fico chorando.
Ele não sabe o que fazer, e acho até melhor pois no momento não seria agradável para ninguém. Estou descontrolada, nunca fui boa a controlar minha habilidade com as emoções a flor da pele, e não seria agora que eu teria virado uma expert.
-Deseja um copo d'água?
Nego respirando fundo e ergo a cabeça secando o rosto e me forçando a parar de chorar, engulo o choro e esfrego meu nariz já prateado. Que ele não perceba. Pego a ponta de minha coberta e a trago até mim e me cubro sentada.
-Qualquer coisa, basta chamar. Avisarei a rainha que está indisposta e a cozinha de que lhe traga algo para comer.
Concordei relutante e me aconcheguei no calor de minhas cobertas e ele saiu de meu quarto, fechando a porta atrás de si.