Capítulo 3

18 2 0
                                    

Carolina

Nunca fui boa nos textos dos testes de português. Nunca sabia o que escrever,nunca sabia o que imaginar, nunca sabia como começar. Mas as pessoas evoluem não é? As pessoas mudam quando fazem amizades novas, quando começam a ouvir um estilo de música diferente e eu mudei quando comecei a ler. Só passou uma semana de aulas e , em português, já elaboramos um texto narrativo a contar uma lembrança que tínhamos da nossa infância. Eu falei do meu primeiro dia de aulas de sempre. A professora deu-me os parabéns pelo texto que tinha escrito, disse que tinha gostado da descrição do espaço que fiz e também como o escrevi e organizei. Eles ajudaram-me a evoluir neste aspeto.

Os livros também fizeram com que eu olhasse para as pessoas de outro modo. Eu tive a certeza disso à 4 dias atrás quando aquele miúdo novo apareceu na minha explicação, fazendo as miúdas olharem todas para ele. Eu sei como isto acontece. Ele é lindo de morrer, faz uma conversa fiada simpática e depois parte os corações. Por isso, naquele dia, tinha de ter a certeza que ele percebia que eu não ia na dele.

-Então, como correu o dia?- perguntou a minha mãe, ao jantar, rompendo-me os pensamentos.

-Ah, normal. Aula chata de geografia,intervalo, aula de Ed. física, intervalo...

-Tola!-"elogiou-me" ao ver o meu sorriso malandro.

-Agora falando de coisas menos chatas.... no domingo podemos ir ao bubble lab?- Bubble lab é um sítio onde eu gosto de ir beber um bubble tea( chá de bobas(bolinhas de fruta, mais conhecidas na Ásia))- Vá lá, preciso de experimentar o bubble waffle ( waffle redondo).

-Desculpa querida, mas no domingo vêm cá uns clientes do meu restaurante lanchar.- explicou o meu pai.

-Posso saber quem exatamente?

-Domingo verás.

Não me apetecia nada ter visitas no domingo. Sempre que vem gente aqui a casa, nunca tenho tempo para ler, para andar de patins e ainda tenho de dar beijinhos à entrada e à saída e ao mesmo tempo forçar um sorriso.

-Eu sei o que estás a pensar, " que seca, não vou poder ler os meus livros todo a tarde e andar nos meus patins ouvindo música", mas podes tranquilizar-te, o casal que vem cá tem um filho apenas um ano mais velho que tu.- disse o meu pai tentando relaxar-me.

- E desde quando é que eu me dou com rapazes desconhecidos?- perguntei.

-Eles são muito amigáveis, vais ver. Se calhar ainda te apaixonas.

-Pai!!!

***

No domingo de manhã, os meus pais e eu fomos ao super mercado fazer as compras do mês que ficaram ainda maiores por causa das visitas que íamos ter hoje à tarde. Eu ainda não me animei muito em relação a isso, mas já estou habituada.

Como é quase outono, castanhas já estão em exposição prontas para serem compradas. E, claro , a minha mãe não é exceção e comprou-as. Os meus pais vão fazer um lanche muito mais requintado do que o costume. Porquê? Não sei. Além das castanhas eles também compraram doces,muitos doces, em miniatura e tamanho normal, compraram 3 tipos de pão diferentes, cuscuz para a minha mãe fazer canja e fruta.

Nós almoçamos tarde, ou seja, eu a acabar de almoçar e os intrusos a chegar. Neste momento era 14:30 e está previsto eles chegarem ás 15:30. Apenas tinha uma hora para ler, por isso é que é pouco.

Quando o momento chegou os meus pais chamaram-me até à porta para cumprimentar as pessoas. Então coloquei o meu sorriso falso e esperei eles entrarem. Em primeiro, entrou um casal, ambos tinham uma aparência muito cuidada,tinham perto de 45 anos e notava-se que não eram portugueses , principalmente o homem. A seguir foi como um pesadelo, à minha frente a entrar pela porta, estava o novo miúdo da explicação. O mesmo miúdo lindo e rico que estava a hipnotizar as raparigas no outro dia estava ali,na minha casa e o pior é que vou passar a tarde toda com ele.

"Se calhar ainda te apaixonas",disse o meu pai. Eu acho que nunca ninguém disse uma asneira tão grande como essa.

O amor não olha com os olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora