Capítulo 4

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Carolina

É incrível como as coisas acontecem. Num momento só queres ver a pessoa o mais longe possível e no outro, estás a passar uma tarde com ela. Nós estamos na sala a ouvir os nossos pais falarem. Eles deram-se bem logo no primeiro minuto, já eu e o Christian, não trocamos uma única palavra.

-Carolina, porquê que não mostras o teu quarto ao Christian?- sugeriu a minha mãe vendo a tensão que estava a reinar- pelo que sei, o Christian também gosta de livros, podes mostrar-lhe a tua prateleira.

Para minha surpresa o Christian olhou para mim, não com um olhar e um sorriso pervertido, mas sim, com um sorriso desajeitado, mas doce, e um olhar que dizia: " não é necessário, não precisas de te incomodar comigo". Não vou mentir, fez-me um bocado de pena.

-Uau-  disse Christian quando entramos no quarto.

Não faço a minha ideia o porquê de ele estar tão maravilhado com este, meu, lugar. O meu quarto é bastante pequeno, tem a cama encostada à parede direita, o armário à beira da porta, a secretária e a minha estante encostadas à esquerda e um móvel que sustenta a televisão à beira da grande janela que dá para a varanda. Além disso, tenho a certeza que o Christian tem um quarto do tamanho da minha casa.

-O Que é?

-O teu quarto é tão diferente do meu,mais fofo- Ok. Ele estava mesmo a alucinar e a lograr da boca para fora sinônimos de 'pequeno'.

- Como é o teu quarto?- perguntei mais para ter a certeza do que de curiosidade. Ele olhou para mim de relance,consegui perceber que já estava a entender onde queria chegar com aquelas perguntas. Ou seja, como é um quarto de um menininho mimado e rico.

- Tu sentes-te sozinha ou alguma vez te sentiste?- perguntou-me ele em vez de responder à minha pergunta.

- Nem por isso...- resolvi mentir.

Ele não acreditou muito mas não me questionou. Ficamos em silêncio, mas não por muito tempo. Logo de seguida, a minha mãe chamou-nos pois o lanche já estava pronto. Quando chegamos  à sala, entendi logo que os nossos pais tiverem uma conversa... digamos, interessante. Tinham um olhar atrevido e muito divertido para mim e para o Christian.

- Sentem-se.- disse a minha mãe - Do que estão à espera?

Eu e o Christian sentamo-nos e passamos o lanche inteiro em silêncio. Um silêncio ensurdecedor, não posso mentir. Consegui ver, o tempo todo, que ele queria quebrar o silêncio entre nós, mas não era esse o único motivo, ele tinha várias perguntar na ponta da língua pra me fazer. Mas, mesmo assim, não abriu a boca. Apenas ficamos ali a ouvir e a observar os nossos pais, que conversavam muito alegremente, como se se conhecessem à anos. Porquê que estou surpresa sequer? Bem, eu sou humana e leio livros, acho que também podia ter um bocado de esperança quanto em ter uma tarde agradável, ou até, querer que o que o meu pai disse ontem fosse um bocadinho verdade...

O amor não olha com os olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora