Brazil

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Minhas pupilas estavam com toda certeza totalmente dilatadas, o flash contínuo praticamente me cegando enquanto eu repetia o mantra em minha mente.

"Não feche os olhos".

A sala que estávamos era grande e bem iluminada, então não contrastava muito com o flash da máquina cara do fotógrafo, apesar de ser tão branca que minha mente já estava criando pontos pretos a cada piscar de olhos que eu dava. A dor de cabeça aumentava. A fome aumentava. A solidão também.

— Vire um pouco mais, Will. – O fotógrafo me instruiu, virando o corpo totalmente enquanto eu procurava a nova posição que ele desejava, o jeans incrivelmente colado parecia querer partir meu pênis ao meio, mas eu não reclamei. Eu nunca reclamo. — Isso, isso! Parado! Isso... Excelente!

Mais milhões de fotos e finalmente ele baixou o flash para a posição inicial na câmera, suspirando satisfeito enquanto eu passava lentamente os dedos nos olhos. Talvez eu fique cego antes de virar um velhinho, e já sei a quem pôr a culpa.

— Ótimo trabalho, Solace, você é magnífico! Estamos felizes de você ter vindo. – O fotógrafo disse e a encarregada de cuidar do photoshoot para a marca BOBÔ assentiu enquanto esticava a mão para mim.

— Realmente, querido, as fotos ficaram excelentes e a repercussão será divina, agora vamos deixar você aproveitar o país e nos vemos amanhã, certo? – A mulher, Patrícia, disse com um sorriso simpático ainda tentando manter a compostura profissional mesmo sendo óbvio seu cansaço por baixo dos sorrisos. Estamos todos.

— Claro. Muito obrigado. – Praticamente sussurrei com a garganta seca, virando e procurando por Cecil até achá-lo no telefone no canto da sala, provavelmente gritando com alguma pobre alma.

— Como assim não pode?! O que vocês estão achando? Que os garotos não têm vida, nem família? Temos que sair desse país amanhã no máximo para eles conseguirem chegar em casa a tempo para o natal! As coisas não funcionam do jeito que você quer, eles não são seus cachorros! – Ele sussurrou com a voz perigosa, conseguindo se impor até aos sussurros enquanto gesticulava com raiva segurando o celular.

— Cecil?

— Will tem a ceia em família e a bisavó dele estará lá, ela tem noventa anos. Alex e Magnus precisam estar em casa porque passaram a semana inteira comprando presentes de natal para os familiares. Você está destruindo planos somente por dinheiro, dinheiro esse no qual vocês já nadam! Não vamos ficar aqui dia 25 de dezembro só porque no dia 26 tem uma merda de coletiva de imprensa, eu não ligo, eu quero isso desmarcado.

— Cecil.

— Um minuto, Will. – Ele disse levantando o dedo e quase o passando na minha cara. — Nos falamos depois e eu acho bom eu e meus três modelos termos passagens marcadas para Los Angeles quando eu ligar novamente.

Seu olhar caiu em mim como uma bomba e eu já sabia que a Management havia colocado nossa vida profissional na frente da pessoal novamente. Cecil é muito bom em seu trabalho como assessor, mas ele não é um anjo ou um deus. Lá vamos nós novamente.

— Não vamos para casa, vamos?

— Não, sinto muito.


-x-


Dizer que o Brazil é quente é tentar amenizar as coisas. A vista que eu tinha da sacada do meu quarto do hotel era linda e o vento batia forte, mas ainda assim era como se uma nuvem de calor estivesse rodeando meu corpo.

Coloquei algumas roupas mais frouxas depois de tomar um banho gelado e fechar meus olhos por bastante tempo na tentativa de melhorar o efeito do flash. Alex e Magnus estavam no quarto defronte ao meu e eu conseguia ouvir o moreno ainda gritar com alguém no corredor, provavelmente no telefone, sobre ter que ficar mais alguns dias aqui e não poder ir para casa no natal.

❝𝐎𝐮𝐭❞  [𝐕𝐞𝐫𝐬𝐚̃𝐨 𝐒𝐨𝐥𝐚𝐧𝐠𝐞𝐥𝐨]Onde histórias criam vida. Descubra agora