Four

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Capítulo quatro
Pov's Henrique

Quando a Marília pediu para que eu a acompanhasse no parto, meu coração quase falhou. Era no mínimo estranho ela compartilhar um momento tão íntimo desses com um desconhecido, mas entendi que sua necessidade e medo eram maior que qualquer outra coisa. E claro que eu não negaria um pedido desses. Sou apaixonado por criança, e viver um momento desse, mesmo sem ser o pai, deve ser a melhor sensação do mundo. Ver a chegada de uma nova vida, do nascimento de uma mãe ao pegar no colo pela primeira vez.

Confesso que eu estava ansioso, se brincar, mais que a Marília. No tempo em que ficamos a sós no quarto, conversamos um pouco, querendo nos conhecer mais. Afinal, logo logo teríamos um momento lindo juntos, e eu queria que ela se sentisse a vontade comigo.

{...}

É agora. Marília está na sala e eu estou ao seu lado. Disse que poderia me apertar o quanto precisasse, e que ela esquecesse que eu era um "desconhecido", que me enxergasse como um grande amigo de infância. Acho que funcionou, ela me deu um sorriso sincero ao ouvir aquilo, e eu estava cada vez mais grato por ela ter me escolhido para participar desse momento único e especial.

Dra. Fernanda entrou na sala, preparou a Marília e ela começou a fazer força. Ver sua feição de sofrimento estava acabando comigo. Ficamos quase uma hora assim. Meu braço estava ficando roxo do tanto que a Marília apertava e, naquele momento, queria que toda a dor dela passasse para mim só para eu olhar novamente o seu sorrindo lindo e sincero. Mas não precisou de muito tempo, logo um choro ecoou pela sala e um sorriso brotou no rosto de todos.

As lágrimas escorriam pelo meu rosto, da mesma forma que escorriam pelo da Marília. Não sei por qual motivo, mas senti um arrepio e uma conexão enorme quando vi aquele meninão saindo de dentro dela. Era como se fosse meu. Abracei a Marília de lado, e ela me olhou mais emocionada ainda. Lhe dei um beijo na testa e perguntei se poderia alisar o Caio, que agora estava em seus braços. Ela assentiu, e assim eu fiz. Eu não sabia que tinha tanta vontade de ter uma família até estar vivenciando isso tudo. Queria que fosse a minha mulher ali, e que fosse o meu filho. Com certeza essa era uma sensação que eu queria sentir de novo. Só que da próxima vez, como pai.

{...}

Tínhamos acabado de chegar no quarto e uma enfermeira trouxe uma bandeja de comida para a Marília. Disse que tinha que se alimentar direitinho para produzir leite para o Caio. Assim que deixou a bandeja, a enfermeira foi embora e a Marília tentou comer só, mas sem sucesso.

— Quer ajuda? - perguntei e ela sorriu.

— To te explorando demais hoje. - falou envergonhada.

— Que nada. To adorando ajudar você. Vai, deixa eu te ajudar. - respondi sorrindo e ela assentiu.

Peguei o garfo, coloquei um pouco de comida e levei a sua boca. Ela me olhava tímida. Não conhecia o seu jeito, mas estava na cara que ela estava morrendo de vergonha. A ajudei a comer e a tomar o suco. Na última garfada, ao levar a comida a sua boca, brinquei com ela.

— Olha o aviãozinho. - falei e ela gargalhou. — Cadê o bocão? - completei e ela riu mais uma vez, e logo em seguida abriu a boca para que eu colocasse a comida lá.

— Boa menina. - falei e rimos juntos. — Pera, tá sujo aqui. - falei enquanto pegava o guardanapo e limpava a boca dela.

— Obrigada. - ela agradeceu corada.

— Não foi nada. - falei sorrindo, tentando fazê-la ficar mais à vontade possível.

— Não, Henrique. Você fez muito por mim. Foi um amigo e tanto. Não saiu do meu lado um minuto. E você nem me conhece direito. Eu sempre vou lembrar de você e de tudo o que fez de bom pra mim. - falou emocionada. — Muito obrigada. Por tudo.

— Fiz de coração. Você é uma pessoa boa, de coração bom. Não te conheço direito mas já pude perceber isso. Não merecia passar por um momento tão especial assim sozinha. E fico feliz que tenha confiado em mim para participar disso tudo com você. - falei e ela sorriu.

Passamos mais um tempo conversando, até que a enfermeira trouxe o Caio. Ele não veio logo com a gente para o quarto porque precisava fazer uns procedimentos e ficar um tempinho em observação logo depois.

A Marília pegou ele no colo e vi uma lágrima se formar em seu olho.

— O seu filho é muito lindo, Marília. Parabéns. - falei sorrindo enquanto alisava um pouco a cabecinha dele.

— Ele é muito lindo mesmo. - falou toda boba. — Obrigada, Henrique. Mais uma vez. - falou sorrindo.

— Quer que eu vá lá pra fora e deixe você um pouco mais à vontade? - perguntei ao ver que ela estava ajeitando ele para dar de mamar.

— Não precisa. Gosto da sua presença. - falou corada e eu pude jurar que também fiquei.

Passamos um bom tempo juntos. Eu, ela e o Caio. Até que a enfermeira veio avisar que a mãe da Marília tinha chegado, e eu vi que era a hora de ir embora.

— Eu nunca vou me cansar de agradecer por tudo o que você me fez. - ela falou sorrindo. — Muito obrigada, Rique. - falou e nessa hora meu coração aqueceu.

— E eu não vou me cansar de dizer que foi de coração. Marília, você me deu a oportunidade de presenciar uma das coisas mais lindas do mundo. Você não imagina o quanto fiquei emocionado ao ver esse garotão aí nascendo. Sou eu quem tenho que agradecer. Obrigada por ter confiado em mim e ter me dado esse presente. - falei sincero e vi que ela limpava uma lágrima. — Posso te pedir uma coisa? - perguntei e ela se surpreendeu.

— Claro! Você tem muitos créditos comigo. - falou rindo e eu ri junto.

— Posso tirar uma foto de vocês dois? Quero guardar uma lembrança física do dia de hoje, já que sei que da minha mente e do meu coração não vão sair nunca mais. - falei e ela corou novamente.

— Eu to destruída, Henrique. Vou sair péssima na foto.

— Você tá linda. - falei e a vi ficar com vergonha.

Depois de mostrar a foto, depositei um beijo em sua testa e fui embora para a sua mãe poder entrar no quarto

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Depois de mostrar a foto, depositei um beijo em sua testa e fui embora para a sua mãe poder entrar no quarto. Tenho que confessar que de uma maneira estranha, senti que parte do meu coração ficou lá com os dois.

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