Capítulo 2 - PARTE 1

105 26 420
                                    

Justine caminhava a frente de todos olhando constantemente para o celular, como se a qualquer momento o sinal de seu telefone fosse ser automaticamente restabelecido.

O barulho dos seus sapatos em contato com as folhas secas produzia um barulho alto demais, e se afastar da trilha a afligia mais do que ela gostava de admitir.

Justine sempre gostou de explorar florestas, mas sair da trilha poderia fazer o grupo se perder, e isso era algo que ela definitivamente não queria. Por isso, ela começou a marcar as árvores com o canivete que seu amado pai lhe dera. Não gostava de riscar as pobrezinhas, mas Justine precisava sobreviver.

Outra coisa que a incomodava — além da possibilidade de Jeffrey ter morrido — eram os resmungos de Valerie atrás de si. Para uma líder de torcida que se exercitava todas as manhãs, a garota era muito preguiçosa. E irritante.

Ao avistar o vilarejo, Justine sentiu um pouco de alívio. Talvez ali eles conseguissem ligar para uma ambulância ou pedir ajuda.

Justine usou as mãos para afastar os galhos das árvores e teve que pular um tronco grosso que estava em seu caminho. Ela se pôs a ajudar Tom oferecendo sua mão a ele, já que o garoto parecia atrapalhado ao passar uma das pernas pelo tronco escorregadio de musgo.

— Obrigado, Just. — Ela sorriu para o amigo e continuou a caminhada.

— Graças a Deus! — A voz estridente de Valerie ecoou pelo lugar — Achei que nós não íamos chegar nunca!

Justine ignorou o comentário e adentrou o vilarejo. Dos dois lados, haviam casinhas simples de madeira. Umas pareciam mais velhas e inabitadas do que outras. No final, ela avistou uma fumaça fraca e um portão de madeira que não via uma manutenção ao que parecia séculos. O vilarejo era maior do que parecia de longe, e aquilo surpreendeu Justine. Pela fumaça que saía da chaminé de uma das casas, Justine constatou que o vilarejo não era tão abandonado quanto parecia.

— Acho que nós estamos com sorte. — Justine apontou para a fumaça — Temos companhia.

— Ótimo. Espero que eles tenham um telefone que funcione nesse fim de mundo. — resmungou Valerie, emburrada. Justine revirou os olhos e caminhou na direção da casinha de onde vinha a fumaça.

Tom avistou a fumaça e piscou sob os óculos de lente grossa. Seu celular estava no bolso e a notificação do sinal encontrado chegaria a qualquer momento. Ele poderia estar envolvido em algum jogo que tinha feito download em seu celular, mas preferia respeitar o momento. Ao contrário de Bob e a senhorita gostosa atrás dele. Bob andava igual um troglodita babando atrás de Valerie e a moça sem cérebro só abria a boca para reclamar. Jesus. Um cara havia acabado de morrer na frente deles e eles só se preocupavam com os próprios rabos, mas o que ele podia dizer? Só estava ali por Justine.

— Eu vou até lá ver se podem nos receber — disse Justine. Ela era tão solícita, tão esperta, tão cheia de vida e principalmente tão diferente dos dois fúteis logo atrás. Valerie podia ter as pernas bonitas e o rosto cheio de maquiagem cara e é claro que Tom a achava gostosa, mas não era isso que ele queria. Não mesmo. Justine era o que ele queria e ia conseguir. Ia se casar com ela.

— Olá! — Tom observou de longe a porta ser aberta e Justine cumprimentar o anfitrião com um sorriso no rosto. Um senhor de pele amarelada quase da cor das camisas brancas manchadas de suor que Tom guardava a cumprimentou. Sem sorrir. Tinha a pele enrugada e manchada pelo sol. Um maracujá de gaveta mesmo. Ele demorou um tempo e virou os olhos secos em direção ao grupo. Então só depois sorriu.

— Olá garotos, tão perdidos? — O sotaque dele era arrastado, caipiresco mesmo e tinha uma voz rouca quase como um cantor de jazz que bebeu uísque a vida toda. Justine por sua vez, continuou sorrindo aliviada e explicou tudo para ele.

Vilarejo Sangrento [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora