Capítulo 3 - PARTE 1

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Tom abriu os olhos vagarosamente e sentiu o ar fugir de seu peito ao ver a situação em que se encontrava. Justine se debatia tentando se livrar de amarras e os outros estavam ali também e o que mais o assustava era o sangue, todo aquele sangue.

Que merda era aquela? O que estava acontecendo?

Um grito foi suprimido pela mordaça em volta de seu rosto e Tom começou a se debater em vão. Seus óculos caíram e tudo embaçou, mas graças ao cara lá de cima isso pôde acalma-lo. Não ver aquele homem cheio de sangue era um alívio, mas o odor pútrido ainda invadia suas narinas sem pedir nenhuma licença. Sem raciocinar muito bem tentou chamar por Just, mas era inútil, o som era abafado de qualquer jeito.

Instantes se passaram e na penumbra e sem seus óculos Tom conseguiu ouvir alguém mais ao longe também tendo a mesma reação. Bob. Deus do céu o que iríamos fazer?

A primeira coisa que Valerie sentiu quando acordou foi sua cabeça latejar. Ela abriu os olhos lentamente e observou seus companheiros acordados e em desespero. A loira notou que suas mãos estavam amarradas e sentiu um gosto metálico em sua boca.

Lágrimas caíram de seus olhos quando percebeu a situação em que se encontrava.

O homem morto ao seu lado era o mesmo que pedira silêncio mais cedo.

— SOCORRO! — gritou ela, se debatendo. Bob surtava do outro lado, Justine também tentava em vão se soltar e Tom observava tudo como se estivesse traumatizado demais para falar.

A porta se abriu e os caipiras entraram na sala. O odor fétido deles se misturou com o do ambiente e fez o estômago de Valerie embrulhar.

— Oceis gostaram das acomodações? — indagou um dos caipiras, arrancando a mordaça de Justine e a de Tom.

— Não queria que me acordassem na hora do cochilo, mas agora podem gritar à vontade.

— Vocês são loucos! — vociferou Justine do outro lado da sala. — O que fizeram com esse homem?

— Não seja tola, boneca. A perna suculenta dele foi a janta de vocês ontem.

A bile subiu e o estômago de Valerie embrulhou, fazendo-a vomitar em seu próprio corpo.

— Vocês são nojentos!

— Por que estão reclamando? Na hora ocêis gostaram do ensopado. A carne num tava gostosa?

— O que vão fazer conosco? — indagou Valerie, tremendo. Pelo canto do olho ela notou que Bob também vomitava.

O velho abriu um sorriso tão grande que deu para ver seus dentes amarelos e careados.

— Ocê parece ser apetitosa — disse ele. Seus filhos, que até então mantinham uma expressão impassível, sorriram de um jeito doentio.

— Nós precisamos armazenar comida, pai. Vamos junta-los na geladeira junto com esse riquinho aí. — O baixinho apontou com a cabeça para o corpo do homem morto ao lado de Valerie.

— Quem ocês querem comer primeiro? — O velho perguntou. Os dois filhos apontaram para Valerie, acuada e suja de vômito no canto. Ela fez que não com a cabeça e gritou quando eles se aproximaram. Justine, Bob e Tom também gritaram desesperados. Mas não havia nada que podiam fazer.

Valerie, com o coração acelerado, se debateu, gritou e chorou, pedindo por piedade. Os caipiras avançaram em sua direção com um facão afiado e cortaram sua garganta. A cabeça dela tombou para o lado enquanto o sangue jorrou. Valerie encarou o nada com os olhos vazios.

Os caipiras comemoraram e lamberam um pouco do sangue fresco. Eles desamarram Valerie e o corpo de Alfred e os levaram embora dali.

Uma mancha escura começou se alastrar pela calça de Bob e o cheiro de urina invadiu o local. Os restos mal digeridos do ensopado sujavam o queixo bem barbeado dele. Bob olhava de um canto para o outro sem se preocupar em manter as lágrimas nos olhos enquanto berrava em meio a soluços.

Vilarejo Sangrento [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora