A Súcubo

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O cervo agora se encontrava em um ambiente fechado. As vozes das pessoas ressoando, sob uma música folk que uma banda cujo o estilo era um tanto retrô estava a tocar. Uma luminescência amarelada se alastrava pelo local, contribuindo para que sua atmosfera fosse confortável.

Por um momento, o animal apenas observou o requintado bar no qual estava até que, em um piscar de olhos, estava assentado em um banco de madeira já não mais como um cervo. Agora era um homem vestido em camisa social, com suas mangas arregaçadas, e um copo do que parecia whisky à sua frente.

Seu corpo estava exausto, e exausto demais para alguém tão jovem — o que lembrou o cervo de um dos sonhos no qual outrora estivera.

O que mais causara agonia no observador, entretanto, fora a intensa melancolia na qual se encontrava a mente do homem. Encarando o copo a sua frente, ele devaneava. A imagem de uma jovem mulher projetada com paixão e, ao mesmo tempo, tristeza na sua mente.

★★★

Um rangido, gerado pelas pernas de uma cadeira ao lado sendo arrastadas pelo chão, interrompeu meus pensamentos. Um perfume cujo a fragrância era extremamente agradável capturou minha atenção e voltou-a para a mulher que se sentara ao meu lado.

Ela era dotada de extrema beleza. Seu cabelo negro e levemente ondulado caía por sobre seus delicados ombros e as alças do vestido bordado preto que utilizava, seus lábios cor de cereja se movimentando suavemente conforme respondia o barman quanto ao que desejava:

— O mesmo que o moço ao meu lado — disse ela, notando meu olhar e se dirigindo a mim: — Parece ter feito uma boa escolha.

Me virei, um tanto tímido.

— Não acho que esse vermelho nas bochechas seja de embriaguez — disse ela, ao perceber que eu havia corado. E então, entre risos, falou: — Que fofo.

Provavelmente com o rosto ainda mais ruborizado, eu disse:

— Eu recomendo que beba com gelo. — Apontei com o olhar para o barman preparando com evidente habilidade a bebida. — Bote pelo menos uns quatro cubos e os espere dissolver um pouco.

— Você está tomando sem. — Ela indicou meu copo.

— Eu sei — respondi com um sorriso de nervoso que falhei em impedir de ser delineado.

Hum... — Ela emitiu o som. — E então, qual é o problema? Diga à essa completa estranha. Demitido?

Meneei a cabeça, indicando que não.

Huum... — Emitiu novamente o som, sua voz delicada dando um certo tom de graciosidade a ele. — Término de relacionamento?

Hesitei por um momento.

— Algo assim — respondi finalmente.

— Algo assim — ela repetiu, sussurrando.

Em um movimento rápido e que demandava determinado costume, o barman empurrou o copo dela com suavidade pelo balcão.

— Ah! — exclamou a dama. — Veio sem gelo, que ótimo. Suponho que tenha me dado aquele conselho como uma forma de indicar que essa bebida é contra-indicada em caso de suspeita de fraqueza com relação a álcool. Suponho que torne mais "bebível" — Seus lábios avermelhados formaram um sorriso que indicava certa malícia. — Mas, sabe, eu tenho uma tendência a sofrer com os outros.

Deixei um leve riso escapar.

— Nesse caso — ergui meu copo, assim como ela havia feito. Os levamos de encontro com suavidade em um brinde, o tilintar ressoando brevemente —, saúde.

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