A Biblioteca de Sonhos

As Histórias que Contam uma História

Os gigantescos portões se abriram diante do cervo. Assim sendo, o animal de pelos branco-prateados adentrou a Biblioteca de Sonhos, aquela na qual todos os sonhos do passado, presente e, até, do futuro se encontravam.

Como era de se esperar, vasta era a gama de livros que havia no local. Andares e andares de prateleiras repletas da quantidade infinita deles.

Um enorme e prístino lustre de cristal projetava uma luminescência branco-azulada pelo enorme espaço. A luz acrescentava uma certa graça ao local, um sentimento reconfortante de segurança. O contraste entre a iluminação e a arquitetura do ambiente em si era algo belo e delicado — mas, ao seu modo, poderoso. Pelo ar da biblioteca, era como se uma espécie de aura azul corresse, purificando-o. Ele era leve e, de certa forma, rejuvenescedor.

Atrás de um enorme balcão, um homem se encontrava. Seus lisos cabelos negros caindo sobre os ombros, por cima do terno vermelho que utilizava. Os olhos dele, cinzentos como um céu nublado, fitaram o animal prateado.

— Não irei perguntar se precisa de ajuda — disse ele. — Todos que eventualmente chegam aqui precisam, afinal. O guiarei durante as seções, diga-me do que precisa. 

O homem então se ergueu da cadeira de madeira na qual se assentava e, com sua voz aveludada, pediu para o cervo segui-lo. 

— Escolha qualquer um — falou o bibliotecário.

Sem sequer pensar, o cervo fez suas escolhas e as mostrou a ele.

— Uma bela escolha, meu querido observador. – Seu semblante expressando certa curiosidade. — Antes que comece sua leitura e, posterior a ela, nosso longo diálogo, devo avisá-lo: a realidade não começa onde o sonho termina, pois este nunca irá. O Sonho é o centro da Realidade. Um pequeno ponto incolor e inexpressivo na vastidão do escuro. Aproveite as histórias que contam uma história, mas lembre-se que, uma vez preso ao sonho, sua realidade pode sofrer mudanças desagradáveis.

Ao abrir um dos livros, de súbito correntes transparentes despontaram das páginas, envolvendo o cervo. Com sua visão gradativamente se tornando turva, assim o observador prateado adentrou a obra.