O Caminhão ✨

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 E alí estava novamente- olhando para a mesma casa-mas em um tempo completamente diferente. Agora os ipês estavam com mais folhas verdes e com as flores menos visíveis. Eram tantos os tons esverdeados que mal podia imaginar as quantias. 

 Fico pensando: como os pássaros conseguem enxergar ainda mais cores que os humanos? Como será que eles veem as plantas em minha frente? Não sei. Minha imaginação é realmente grande, mas ainda tenho certos bloqueios da realidade sem-graça, infelizmente. 

 Apesar da primavera ser linda, romântica e elegante, acho que o verão também é bem alegre e bonito, apesar das férias estarem acabando. 

 Passaram-se um ano e, agora eu não estava mais no nono ano em uma escola nova, me adaptando. Agora estava no ensino médio, com algumas amigas que compartilho risadas e bons momentos.

 Nunca disse que não teria de continuar me adaptando. Claro, cada ano que se passa, tudo é novo-apesar de às vezes acharmos que tudo é igual- principalmente, quando está começando seu primeiro ano no ensino médio.

 Cantarolava alegremente a música que escutava em meus fones de ouvido, conectadas ao meu celular. Sentia que minhas roupas (uma camiseta amarela escrito "bee mine" de preto com um pequeno bolso no peito que tinha uma abelhinha fofa desenhada, um shorts jeans em um tom quase amil e um sapatenis preto) combinavam muito bem com todo aquele cenário e as melodias de minha playlist. 

 Olhei para a direita, olhei para a esquerda. Não havia nenhum carro vindo. Atravessei a rua indo em direção ao parque central do bairro.

 Logo, estava alí: balançando em um balanço um pouco reservado do local, torcendo para que ninguém aparecesse, pegando de surpresa a insegurança e a timidez que me seguiam até nos dias de mínima autoestima.

 De repente, escuto o som de um caminhão passando pela rua. Viro minha cabeça e vejo o mesmo veículo que supus através das grades que indicavam os limites do parque. Havia alguma coisa escrita nele. Não consegui ver o que era, por conta da velocidade que dirigia o tal motorista. Então decidi ignorar.

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- Aqui está a torta e, claro! Como poderia me esquecer dos pães doces?!- minha mãe dizia me entregando gostosuras suculentas que ela havia preparado para os novos vizinhos. Com seu cabelo preso em um coque desajeitado e os fios cabelo loiros meio desengonçados em seu rosto com um pouco de farinha (assim como em seu avental), davam certa ironia à ela.

Eu segurava tudo e logo colocava em uma cesta, com uma carta escrito "Bem-vindos!" em inglês amarrada em um laço quase perfeito.

- Acho que é só isso!- Minha mãe exclamou e bufou de cansaço em seguida.

- SÓ isso?- respondi a frase dela, que dava impressão de ter pouca comida naquela enorme cesta.

Ela riu e logo falou:

- Você acha que eles irão gostar?

- Sério, pare para pensar. Mamãe, você é a melhor mãe do mundo, eu sou a filha perfeita e papai é o pai mais incrível. Ainda por cima, estamos dando a "cesta básica do paraíso" para os nossos vizinhos!- disse enfatizando meu humor.

Minha mãe riu ainda mais e se despediu de mim. 

Não demorou muito para chegar na casa da frente e tocar a campainha, ainda segurando com as duas mãos a grande cesta, com dificuldade.

In that neighborhood...✨|| Xin LongOnde histórias criam vida. Descubra agora