I. HOLIC

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— Se era pra você ficar tenso desse jeito, era melhor nem ter vindo... – um sorriso atrevido brincava nos olhos da mulher, ainda mais que em seus lábios, enquanto ela observava o rapaz ao seu lado. Ele, por sua vez, olhava insistentemente sobre os ombros, esperando uma catástrofe a qualquer momento: como era possível que a maldita sempre o convencesse a fazer qualquer coisa que quisesse?

Uma noite em no centro da cidade podia ser um programa normal para qualquer jovem coreano, que não ele: para Im Jaebum, aquela era uma missão suicida. Uma para a qual ele se oferecera voluntariamente tão logo ouviu o pedido ronronado... Oh, ela sabia ganha-lo como ninguém, sua Hari. Era como se toda a sua habilidade de raciocinar logicamente desaparecesse ao menor contato com aqueles olhos castanhos, tão calorosos quanto distantes. Tão inatingíveis quanto ela que, à distância de um palmo, nunca fora verdadeiramente sua.

— Você sabe ser mais divertido que isso. Muito mais... – provocou, erguendo ligeiramente o canto dos lábios: não era a mais sorridente das mulheres, o que tornava um tanto mais especial cada um dos sorrisos roubados. Se ela apenas soubesse o quão incrivelmente bonita parecia ao sorrir, Jaebum tinha certeza de que ela faria aquilo o dia inteiro... Talvez ela soubesse, no entanto, e por isso usasse aquela arma com tanta parcimônia. Fato é que sempre o desarmava, por isso o homem não pôde conter o próprio sorriso, que ela pôde perceber mesmo detrás da máscara: o modo como os olhos dele se apertavam o denunciava, e ele nunca foi o melhor deles em mascarar sentimentos, seu Jaebum.

O casal caminhava pelas ruas de Hongdae evitando as áreas mais iluminadas por precauções que ele a muito custo convencera a mulher a tomar: ela era do risco, ele da cautela. Ou era o que ele pensava, inconsciente de que cada passo dela naquele caminho tortuoso que trilhavam há meses – naquilo que ela chamava orgulhosamente de relacionamento casual – era milimetricamente calculado para que, se alguém caísse, não fosse ela a vítima.

— Você tem certeza de que não quer? – a mulher olhou para trás, estendendo uma garrafa de vidro verde, depois de leva-la aos lábios com uma preguiça quase felina, recebendo uma negativa imediata: ela sabia que ele não podia beber publicamente, por que ainda insistia? 'Porque ela veio ao mundo pra te enlouquecer', a pergunta era prontamente respondida em sua mente.

— Só vamos pra casa, Hari-yah... – pediu, e se flagrou admirando por um momento a forma como as luzes coloridas do bairro mais agitado da cidade faziam maravilhas ao lançar suas sombras dançantes sobre aquele rosto que ele conhecia de cor, ao melhor sentido da expressão: decorara-o de todo o coração – Vamos pra casa, - ele enlaçou a cintura da mulher despretensiosamente, mas o toque era firme o suficiente para não deixar dúvidas da ideia que passava. Do que ele queria. – e eu te lembro como eu posso ser divertido... – propôs, a máscara quase tocando os lábios cheios da morena.

— Boa tentativa. – mais uma vez, um sorriso relampejou pelo rosto dela, que mirava os olhos castanhos tão próximos aos seus tomando um tempo especialmente longo para admirar as pintinhas que decoravam a pálpebra esquerda dele adoravelmente. Aquilo era mesmo necessário, Deus? O sorriso perfeito, o físico invejável e o charme indiscutível não eram mesmo suficientes? – Mas eu acho que nós podemos nos divertir aqui.

— Você não... – JB suspirou, cansado, pretendendo iniciar uma argumentação, ainda que nunca na vida tivesse ganho uma só discussão contra ela.

— Eu não entendo. – Hari interrompeu, repetindo o discurso que já escutara dele outras tantas vezes – Eu não te levo a sério. Eu sou uma louca inconsequente e egoísta que só penso em mim. – tocou o ombro dele delicadamente fazendo um biquinho que provavelmente pareceria adorável a qualquer um olhando de fora. Jaebum, contudo, podia ver a sensualidade mascarada por trás daquela voz melodiosa e naquele instante se lembrou do por que engoliria brasa quente, se ela pedisse naquele tom – Eu entendo, sim. E eu sei como é. – a mulher aproximou o rosto do dele, soprando bem em seu ouvido – Eu só não ligo, jagi... – sussurrou o apelido com uma rouquidão quase cruel – É disso que você gosta. – completou, puxando a máscara para baixo e colando sua boca à dele em um beijo sem reservas e sem pudores.

II. HOLIC - Im JaebumWhere stories live. Discover now