— Você tem certeza de que não quer vir? - o rapaz olhou de canto para a mulher no banco do carona, analisando o rosto avermelhado pelas horas de treino: mesmo não se enquadrando perfeitamente aos padrões de beleza coreanos, ela era ridiculamente atraente - Todo mundo vai... - insistiu, um sorriso doce nos lábios que tentavam convence-la a ir ao aniversário de um dos colegas da companhia de dança.
— Eu realmente não tô na vibe, Hyuk... - Hari respondeu, mexendo no elástico preso ao pulso apenas para manter as mãos ocupadas. Com o olhar fixo do lado de fora da janela, a mulher contava os segundos para chegar em casa e tomar um banho antes de se jogar na cama e só acordar quando o corpo doesse por estar deitada há tanto tempo. O que era basicamente sua rotina nas últimas semanas.
— Eu posso ficar com você então, não faço questão de sair com todo mundo, jagi... Só queria ficar com você um pouco. - Hyuk deixou uma das mãos correrem até o joelho de Hari, fazendo um carinho que buscava recuperar a intimidade que costumavam ter, mas que há algum tempo ela vinha negando – Eu cozinho, você descansa... Depois eu te faço uma massagem...
— É melhor não, Hyuk. - Hari segurou a mão dele por um momento, apenas como desculpa para tirá-la de onde estava - Eu tô mesmo precisando dormir.
— Se eu não te conhecesse bem, diria que alguém tá curtindo uma fossa. - ele entendeu o recado, recolhendo a mão até o volante enquanto entortava a cabeça com curiosidade - É aquele cara? Jaebum?
— Ainda bem que me conhece, não é mesmo? - Hari protestou, mas a carranca e o modo como mexia insistentemente no fecho da bolsa deixavam claro seu desconforto - E eu não sei do que você tá falando...
Hyuk não conteve uma risada, maneando a cabeça enquanto mexia no som do carro: Hari era uma bela atriz até que suas emoções entravam na linha, comprometendo toda a sua pose de quem tinha o mundo sob controle.
— Eu escutei uma música solo que ele lançou esses dias, e ela me lembrou absurdamente de você. - disse, assim que a faixa começou, notando o fato de que Hari enrijecera no banco do carona - E aí caiu a ficha de que ele provavelmente também tinha escrito pensando em você, não é? É o que você faz com todos nós, pobres mortais... - ele deu um sorriso triste e franco.
— Hyuk, por favor... - Hari ergueu os olhos para ele, levando uma mão até o som para interromper a música, mas o rapaz a impediu, e assim que as primeiras palavras a atingiram, naquela voz tão conhecida que parecia falar ao seu íntimo, ela soube. E quando o refrão veio, e com ele a confissão de JB sobre um pecado que ele queria cometer várias e várias vezes, ela teve sua confirmação: era a sua música - Por favor, desliga isso. - pediu, e o tormento em seus olhos era tanto que Hyuk obedeceu ao pedido, fazendo com que seguissem o resto do trajeto em silêncio.
Hari nem mesmo tentou lutar contra as memórias que a invadiram, da última noite que tivera com JB. Ela sabia, intimamente, que aquela história era fadada a dar errado desde o início, e por isso convencera a si mesma - e tentara convencê-lo, sem sucesso - de que o que tinham era físico, e nada mais. Mesmo hoje, quando não conseguia sequer pensar nele sem que um vazio estranho tomasse conta de si, Hari insistia em pensar que a falta que sentia era do toque. Do cheiro. Do gosto. Do homem. E também de todas as suas risadas desmedidas e toques furtivos e afetuosos. Da voz rouca depois de algumas horas de sono, e do modo como seus olhos pareciam ainda menores quando sorria. Mas o que era aquilo, senão uma falta tremenda dele?
— Entregue. - Hyuk a arrancou de seu devaneio, e Hari viu a própria casa pela janela.
— Obrigada. - deu um sorriso brando, colocando a bolsa sobre o ombro antes de abrir a porta do carro - Divirta-se hoje à noite!
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II. HOLIC - Im Jaebum
Romancesobre desejo - a uma ligação de distância. {O amor por esta protagonista fez com que a vida dela se tornasse o fio condutor de uma trilogia. Seja bem vinda à parte II.}