Jaebum estava, por falta de melhores termos, puto. O ensaio já durava uma hora e a cada segundo transcorrido ele tinha mais dificuldade em manter os olhos onde deveriam estar – Ji Young e Jackson, com quem dividia o palco – já que estes pareciam permanentemente atraídos para o canto esquerdo da sala, onde ela estava . Hari. Sempre Hari. O fato de dividir o palco com ela novamente era feito abrir um relicário de memórias: fora também ali que a vira pela primeira vez, no dia que amaldiçoava e reverenciava em iguais proporções.
Deixando a mente vagar inadvertidamente até aquele dia fatídico, o cantor foi capaz de reproduzir na memória a sensação de eletricidade que percorreu seu corpo no instante em seus olhos se chocaram pela primeira vez com aqueles orbes oblíquos e nebulosos que hoje tiravam seu sono. Àquele ponto, antes mesmo de saber o nome da trainee que atuava como dançarina naquele stage, sua única certeza era de que a queria. Por Deus, como a queria. O que não poderia imaginar era que, por mais que tivesse cumprido esse objetivo, jamais a teria por inteiro, como Hari fazia questão de deixar claro a cada vez que se encontravam. Como agora.
— Você precisa de dez minutos? – Jackson perguntou, fazendo um sinal para que a música parasse ao ver que JB perdera sua entrada. Ele apenas não tinha ideia do motivo da distração: a forma torturantemente próxima e íntima como Hari e seu parceiro de dança realizavam a coreografia, as mãos dele passeando por todo o corpo da mulher e fazendo com que JB travasse o maxilar em fúria mal reprimida. Se aquilo o enfurecia, o modo como Hari o fitava vez ou outra, com um cinismo digno de atriz, era capaz de enlouquecê-lo. Especialmente quando ela deu um sorriso satisfeito que JB não fazia ideia se era destinado ao outro ou a ele, para quem ela fazia aquele showzinho particular.
— Cinco. – aceitou a oferta do amigo, respirando fundo para controlar a vontade de mandar à merda a compostura, a imagem, a carreira e a empresa, arrancando de cima de Hari aquelas mãos que tocavam de forma tão possessiva a mulher que, entre quatro paredes, era tão sua – Vou tomar um ar. – anunciou, antes de sair do estúdio num rompante.
— Vocês, intervalo. – Ji-Young estalou os dedos para seu grupo, que se dispersou rapidamente, dando a Hari a chance de olhar para Jaebum, reprimindo um sorriso ao vê-lo deixar o palco sem olhar para trás depois de rosnar para Jackson que não queria companhia. Era incrível como o garoto era simplesmente incapaz de mascarar qualquer emoção: enquanto dançava, Hari pôde sentir os olhos dele queimando sobre ela, repletos de raiva e desejo. E simplesmente não podia negar o quanto adorava aquela combinação, por isso sorriu despreocupadamente para os colegas, inventando uma desculpa qualquer para segui-lo até o lado de fora da sala de ensaio.
— Era mais fácil ter escrito na testa. – parou de braços cruzados para observar as costas do rapaz, a camiseta branca colada pelo suor do ensaio fazendo um trabalho incrível no sentido de ressaltar cada músculo que se contraiu visivelmente no instante em que JB ouviu à voz dela – Eu pensei que o 'oh-tão-perfeito-idol' não pudesse fazer uma ceninha dessas... – a ironia fez com que Jaebum travasse o maxilar com força, tornando- ainda mais proeminente, o que Hari achava particularmente atraente.
— Você devia entrar. – a raiva fazia com que não se preocupasse com o quão rude soava — Parecia bem distraída lá dentro. – soltou, mordendo a parte interior das bochechas e retorcendo o lábio de um modo que deixava evidente seu descontentamento para satisfação secreta da mulher que, internamente, amaldiçoava-se por se sentir feliz ao vê-lo enciumado.
— Não. Esse era você. – Hari deu dois passos a frente, deleitando-se quando Jaebum finalmente perdeu a batalha interna que travava consigo mesmo e checou sem pudores todo o seu corpo, aquecendo cada parte que tocava com os olhos: das pernas expostas pelos shorts ao pescoço delicado, onde fios do cabelo escuro se grudavam ao suor de um modo quase obsceno. Inconscientemente, JB prendeu o lábio inferior entre os dentes, lembrando-se de como era exatamente assim que ela parecia entre os travesseiros, suada e exausta naquelas que eram suas noites secretas – Muito distraído. – Hari soprou as palavras, tocando o queixo dele, que descia o olhar até seu colo, para traze-lo até o nível de seus olhos.
— Era o que você queria, não era? – JB reduziu ainda mais a distância que os separava, ignorando os alertas que soavam em sua mente sobre a alta probabilidade de que alguém os flagrasse ali, tão próximos que podia sentir o calor da pele dela a poucos centímetros de distância – Se esfregando em outro bem na minha frente...
— Distraído, e tão possessivo. – Hari enumerou, erguendo o canto dos lábios discretamente – Mas eu adoro te ver bravo assim... – murmurou contra o ouvido dele, sentindo que a postura de JB se enrijecia no instante em que deixou as mãos espalmadas sob o abdome dele.
— Você não deveria. – JB grunhiu, levando uma das mãos à cintura dela e apertando sem delicadeza. – Não aqui, quando não tem nada que eu possa fazer com toda essa raiva. – completou, desenhando com a ponta do nariz a linha do maxilar dela demoradamente e contendo as próprias mãos que formigavam por toca-la ainda mais possessivamente do que vira o outro dançarino fazer há alguns minutos. A pele de Hari se arrepiou por completo, numa resposta imediata e inegável a quão atraente a ideia lhe parecia — Ele também te deixa assim? – JB perguntou, tirando do caminho aquilo que o matava por dentro, e Hari quase deixou escapar uma risada: nunca provara tanto do ciúme de Jaebum. E ele era especialmente delicioso.
— Hyuk é um amigo. – ela disse, um sorriso maldoso brincando no canto dos lábios – Como você, JB. – completou, e a risada dele em resposta foi quase assustadora, visto que não chegava nem perto de alcançar os olhos.
— E você dorme com todos os seus amigos, então? – perguntou, ainda que soubesse o quão ridiculamente machista e inseguro aquilo soava.
— Não. – dessa vez ela sorriu largamente, mostrando todos os dentes – Só com os que me interessam, jagi.
– E o seu amigo... – JB sentiu o baque da resposta, mas não se via disposto a perder – Ele também te arrepia só de te tocar? – correu uma das mãos até os cabelos dela, puxando levemente para que a mulher o encarasse, sendo traída pela forma que sua pele sempre se arrepiava quando ele respirava assim tão perto. Hari correu a língua pelos lábios, relutante em responder, e foi a vez de Jaebum sorrir – Eu quero saber. – sussurrou no ouvido dela, sentindo a mulher estremecer discretamente, o que consideraria uma vitória ainda maior se soubesse quanto esforço ela dedicava a se manter quieta sob os dedos dele – Se ele também te excita. – completou, mordendo o lábio inferior dela de forma sensual, um segundo antes de tomar seus lábios em um beijo insinuante que fazia com que quisesse arrancar a pouca roupa que ela usava e fazer com que gemesse seu nome para que todos na sala ao lado ouvissem. Hari, por sua vez, estava prestes a gemer que sim, só ele a deixava tão fodidamente excitada, mas assim que abriu os lábios para proferir as palavras, o som da porta se abrindo fez com se afastasse de JB instantaneamente.
— Hari? – a voz masculina soava desconfiada, decerto estranhando a demora– Ji-Young está te procurando... – Hyuk finalmente apareceu em sua linha de visão, e encarou a amiga e Jaebum tão próximos com alguma curiosidade.
— Claro! Eu só estava recordando a Jaebum-ssi – a ironia presente na falsa formalidade passou despercebida, tal a facilidade com que ela atuava – um passo da coreografia que ele não conseguia lembrar... – a maldita sorria tão naturalmente que era fácil acreditar em cada palavra. Jaebum tinha os olhos no homem do outro lado do corredor, controlando a vontade que tinha de passar os braços em torno de Hari e marcar seu território como gostaria de ter marcado a pele delicada do pescoço dela.
— Sim. Muito obrigado, Hari-ssi. – ele fez uma reverência forçada e mecânica, em nada fluida como a mentira que ela iniciara, e quando seus olhos faiscaram na direção da mulher, Hari pôde ler neles o quanto ele queria provar a Hyuk, e a todos os outros, as verdades não ditas que ela estivera prestes a confessar. Mas ele não podia.
E se Jaebum não podia ser seu, Hari se certificaria de também nunca ser dele.
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II. HOLIC - Im Jaebum
Romancesobre desejo - a uma ligação de distância. {O amor por esta protagonista fez com que a vida dela se tornasse o fio condutor de uma trilogia. Seja bem vinda à parte II.}