Capítulo 1

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Quinze anos depois

− Mãe, eu não quero usar isso. É ridículo!

− É seu aniversário de 15 anos, Isabelle!

− Hoje é dia das bruxas, mãe! Como espera que eu use algo rosa e cheio de babados?

− Você insistiu que queria que sua festa fosse neste hotel, e eu lhe fiz a vontade. Agora, use isso mocinha, e não se atrase.

Coloquei o vestido horroroso, que não me ficava mal de todo. O Pior era mesmo os sapatos, com um salto enorme! Como era suposto eu andar com aquilo?

Com extrema dificuldade, fui descendo as escadas. Algumas pessoas, com trajes assustadores, passavam por mim, me olhando com cara estranha. Eles que usavam o sangue falso, mas eu que era a esquisita, ali.

Sentindo minha segurança a evaporar, pousei mal o pé no degrau e meu tornozelo torceu. Esperei a queda livre para a morte, mas ela não chegou. Abri um dos meus olhos com receio, sentindo umas mãos macias envolta do meu corpo. Um belo par de olhos azuis me espreitava com uma curiosidade divertida. Ainda que os meus fossem do mesmo tom, aqueles eram tão mais intensos e hipnóticos, que eu não consegui deixar de os fitar.

− Deveria tomar cuidado. A queda seria bem feia.

− Ah, é. Eu...sei. Quero dizer, obrigada...por me salvar.

− Não foi nada. A propósito, muito prazer. Meu nome é Dom. − O rapaz, que me parecia familiar, estendeu-me a mão.

Ao tocar-lhe, senti uma corrente elétrica muito forte percorrendo meu corpo.

− Isabelle. − Foi o máximo que minha dicção permitiu.

A festa foi tranquila

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A festa foi tranquila. Após a partilha do bolo com meus familiares, minha mãe me liberou e eu corri, desajeitadamente, para fora daquela sala. Era quase meia-noite.

Eu tinha lido, recentemente, algumas lendas de que, à meia-noite, o véu da realidade ficava mais fino, permitindo aos simples mortais vislumbrar o mundo dos mortos. Por isso, eu tinha feito tanta questão de me alojar com minha mãe naquele hotel, um verdadeiro arranha-céus no meio da cidade, que vendia aos turistas a ideia de que, ali, o contacto paranormal seria mais intenso. E eu queria testar isso mesmo!

Descalcei-me e subi apressadamente as escadas. Iria para o telhado, para ficar mais perto do céu.

− Você vai ver o véu? – Ouvi uma voz perguntar. Ao sentir minha pele se arrepiar, sabia que só poderia ser ele.

Voltei-me para trás.

− Como você sabe?

− E por que outra razão estaria a correr que nem louca para chegar no topo do hotel? − Dom sorriu e eu me senti contagiar pelo brilho que ele emanava. – Eu também estou indo para lá. Podemos ver o véu, juntos.

 Podemos ver o véu, juntos

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Seis anos depois

− Você não acha estranho os noivos chegarem juntos, Dom? A tradição diz que o que estamos fazendo dá azar.

− Convenhamos, Izzy. Nós nunca fomos tradicionais. Quem se casa neste dia? – Dom gargalhou. Aquele era o som que eu mais amava.

− Foi ideia sua, meu amor. Vamos nos casar no The Veil, o hotel onde nos conhecemos e na mesma data, que já não bastava ser o dia das bruxas, também é o dia de meu aniversário! E de noite! Você é doido. E eu mais ainda por concordar. – Sorri, me sentindo feliz como nunca.

A música soava alta, era Love and Marriage de Frank Sinatra.

− Sabe, agora é sua oportunidade − disse Dom.

− De quê?

− De me beijar pela última vez, como noivos.

− Você é maluco. Meu Deus, vou me casar com um louco!

Ri alto, mas assenti, rendendo-me ao desejo de o sentir perto de mim.

O beijo foi rápido, mas um segundo basta, não é? Eu deveria saber.

Uma luz forte encadeou-nos, e o Dom se lançou ao volante, tarde demais. O estrondo veio como antecipação da tragédia. Nossos corpos foram balançados com violência para a frente. A dor foi veloz e insaciável.

"Love and marriage, love and marriage", minha consciência se agarrava à melodia que escutava até tudo escurecer.

"Love and marriage, love and marriage", minha consciência se agarrava à melodia que escutava até tudo escurecer

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Bip, bip, bip.

Aquele som era estranho.

Pestanejei. A claridade feria-me os olhos.

− Onde estou? − indaguei confusa.

− Calma, meu amor. Vai ficar tudo bem.

Olhei ao redor e me deparei com minha mãe, bastante abatida, com olheiras profundas.

− Cadê o Dom? E o casamento! O que... − As memórias atingiram-me como um duro golpe, sem misericórdia.

− Ele...filha. O Dom, eu...sinto muito.

sinto muito

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732 palavras

The Veil - O renascer de um amorOnde histórias criam vida. Descubra agora