5 - Sentenciada

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Eu só ouvia o barulho do meu salto no piso de mármore, tudo a minha volta era só um ruído muito longe. Cheguei a mesa da secretária de Carlos e pedi para ela buscar café para nós, e ela facilitou indo de bom grado. Vasculhei sua mesa e achei o molho de chaves e testei na gaveta dela até achar a que encaixava. Sorte que as mesas eram padrão. Entrei na sala de Carlos sem bater, ele estava no banheiro e pediu que eu esperasse, aproveitei e já destranquei sua gaveta, me sentei à sua mesa e esperei.

Minutos depois ele se juntou a mim com um curativo na mão.

- Fui abrir minhas cartas e olha no que deu. Trouxe o balance? - Sempre no tom brincalhão, que agora me dava nojo.

- Trouxe. Análise! - Entreguei a ele e me recostei na cadeira para olhar de camarote sua reação.

- Tem algo estranho, por que tem tantos movimentos pra sua conta? ... Você nos roubou? - Ele estava realmente pasmo com minha audácia.

- Sim. Acho que está bem explicito ai. - Me sentia grande. A cara de babaca dele me deixava maravilhada.

- Sabe que terei que te prender se não devolver tudo. Não é? - Ele ainda queria bancar o bonzinho.

- Sei sim. Mas não vou devolver. Foi você que assinou tudo, não leu uma linha sequer.

- Eu confiava em você. Nunca achei que teria de ler qualquer coisa que me trouxesse para assinar. - Ele estava começando a  se exaltar.

- Olha um dia desses ia acontecer. Todos querem dinheiro. E você mereceu. Não era pra ser desse jeito, mas você implorou.

- Eu implorei o que? Como? - O tom de voz se elevava.

- Não se faça de santo. Eu sei que você abusou de Luiza. E eu não iria deixar barato. Ela é minha. - Agora eu aumentava a voz.

- Do que está falando. Eu nunca encostei na Luiza. Depois que te apresentei a ela só trocávamos cordialidades. Pelo amor de Deus Paula, você realmente acha que eu sou capaz disso. - Ele começou a circular a mesa e eu fiz o mesmo, indo em direção a gaveta.

- Eu acredito que todos podem mudar.

- Bem agora estou começando a acreditar também. Nunca vi você com essa atitude. O que está acontecendo?

- Aconteceu que Luiza abriu meus olhos e me mostrou que você não é o que parece.

- O que essa garota fez com você! Eu sabia que não era só um caso profissional, mas não sabia que ela te manipulava dessa forma.

Eu já estava com a mão na gaveta e sentia a arma. Tirei ela de lá e coloque nas costas. Continuei circulando a mesa.

- O senhor só fala bobagens. Eu armei tudo ela só deu a ideia. Agora vou me livrar de você e fingir que nada aconteceu. - Saquei a arma e apontei para seu peito.

-Paula... Não faça isso! Você vai acabar com sua vida por causa de uma garota 10 anos mais nova?

- Cala a boba. Eu nunca liguei pra idade por que a amo e ela também me ama. Mas nojento é você, com quase 50 abusando de uma garota que poderia ser sua filha.

- Mas eu não fiz nada. - Gritou para mim.

Atirei. Foi bem no peito. O sangue expirou no vidro e ele se apoiou nele. Isso me deu uma ideia. Então, atirei no vidro. Carlos se desequilibrou e caiu junto com o vidro, 20 andares a baixo.

Depois tudo foi muito rápido, os seguranças invadiram a sala e me seguraram. Tentei me soltar mas eles eram mais fortes, dez minutos depois a polícia chegou e eu fui algemada e levada à delegacia. Não disse nada, sabia que Luiza iria mandar um advogado e eu seria solta. Passei a noite lá e não preguei o olho, esperava a hora que Luiza ira aparecer e me tirar de lá. Quando amanheceu um advogado apareceu para me defender, mas não foi Luiza que mandou, era do estado. Ele me instruiu dizer a verdade que poderia pegar uma sentença leve, fiz o que ele mandou, mas sabia que não precisava me importar com a sentença. Luiza iria me tirar de lá. Contei cada detalhe, desde que conheci Luiza, até o momento em que matei meu chefe. Eles marcaram minha audiência e me colocaram de volta na cela. Passou uma semana e eu já estava achando que Luiza tinha sido pega também, não devia ter mencionado ela. Na noite anterior a minha sentença o vigia disse que eu tinha visita. Me arrastei até a sala de visitas e não reconheci a ruiva que estava de costas.

- Você tem meia hora! - E nos deixou.

A garota se virou e eu me assustei. Era Luiza. Deixou de ser loira e também usava roupas caras, estava muito mais adulta.

- Amor. Achei que tivessem te achado. - Corri pra abraça-la, mas ela não me abraçou de volta, estava fria e distante.

- Senta ai. Precisamos conversar.

Me sentei na mesa de ferro e ela se sentou do outro lado.

- Quando vai me tirar daqui?

- Eu não vou te tirar daqui. Você ainda não entendeu? – O que ela disse?

- O que? Por que?

- Você era só uma peça. Acha mesmo que eu estava apaixonada por você? Que queria passar o resto da minha vida com uma velha? Acorda! Só queria o dinheiro, eu ia usar o velhinho, mas você foi tão mais fácil, uma mulher sozinha que só vive pro trabalho. Tinha ganhado na loteria.

Eu não conseguia falar, nem reagir. Meu corpo congelou, meu coração quebrou. E ela prosseguia.

- Eu entrei naquela empresa já focada em seus lucros, só precisava de alguém que tivesse livre aceso a ele. Você foi meu plano B. Só precisei ter você em minhas mãos e foi muito fácil, você se jogou pra mim como formigas no açúcar.

Eu queria chorar, mas eu tinha esquecido como chorava.

- Comecei com presentes básicos, roupas, sapatos, joias. Tinha que saber se você iria fazer tudo por mim, e ai você se apaixonou... Patética. Não suspeitou de nada, simplesmente estava de quatro, foi tão fácil que nem foi tão divertido. Mas quando começou a ficar sem dinheiro eu tive que ir pra outra parte do plano. Tinha que começar a depenar a empresa. A formatura foi a parte mais difícil, eu não estava estudando e já tinha sido cortada da lista, tive que dormir com o reitor pra que ele me colocasse na formatura e me fizesse um pedido de pagamento absurdo. Achei que iria se negar, mas como sempre você acatou minha vontade.

Ela parou, me olhou para se certificar que eu estava ouvindo e continuo.

- Só precisava manter o ritmo e continuar pedindo, tomei cuidado em pedir pequenos valores. Ah, antes que eu me esqueça, minha família eram todos atores... Quando já tinha o suficiente para fugir e levar um boa vida em outro lugar eu produzi o grã-finale, me espanquei no banheiro e fui a sua sala, tomei cuidado pra que não repararem em mim, fiz aquele teatrinho e você caiu, na verdade era só pra você ter coragem de apresentar o balancete e levar toda a culpa, mas você matou o velho e nem precisei me preocupar em te fazer apodrecer na prisão. Agora só preciso largar você aqui e voar pra suíça. Meu nome agora é Ângela e tenho 18 anos. Sabe nem lembro mas quem eu sou. Espero que fique bem... ou não. Tchau amorzinho.

Ela saiu gargalhando e rebolando.

Eu estava a ponto de desmaiar. Quem era aquela? Quem é aquela que amei durante meses e ainda amo? A garota que estava saindo daquela sala não era nem de longe o amor da minha vida!

Setembro

Depois de ser sentenciada fui levada pra penitenciária feminina fui jogada numa cela nojenta cheia de mulheres muito mal encaradas e que tinham motivos plausíveis pra estar ali.

Sei que o que fiz foi horrível, mas eu estava cega de amor. Ela era linda e simpática e pra mim exalava pureza. Ela me levou ao fundo do posso e eu apenas segui suas ordens. E mesmo quando estava no fundo ainda insistir em cavar.

Tentaram me avisar, mas eu não ouvi, nunca iria ouvir. Até mesmo quando via que estava sendo fria e calculista eu não queria ver. Roubei a empresa, matei meu chefe por ciúme e agora estou aqui, em uma cela fria e úmida tendo que cumprir minha sentença com verdadeiras assassinas a sangue frio, estelionatárias, iguais a Luiza ou pior.
Eu mereço e até prefiro... Eu que amei tanto agora pago pelo amor que nunca mais quero sentir.

A única coisa que quero agora é ficar em paz e esquecer que um dia houve uma nova estagiária, uma Luiza e um amor falso.

The End

Eu Que Amei Tanto (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora