Prólogo

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Roberta ajeitou os óculos que insistiam em ficar tortos na sua face. Olhou para o lado e viu que Patty estava numa conversa animada com um senhor que nunca vira antes, como era de se esperar, o aeroporto estava um caos. 

O cenário era totalmente novo para elas, visto que nunca haviam estado em um saguão de aeroporto antes. Estavam nervosas, embora não demonstrassem isso. Minutos depois ouviram o chamado: "Atenção senhores passageiros com destino a Lisboa, dirijam-se ao portão de embarque..."

Não prestaram atenção no resto da mensagem, pois tagarelavam sem parar, imaginando as maravilhas da terra portenha, e o melhor: estavam indo encontrar Tânia! As três eram bem chegadas, mas nunca haviam estado juntas cara a cara.

 — Eu quero experimentar os rissois! — exclamou Patty, animada. 

 — E você sabe o que é isso? — perguntou a moça que ainda lutava com seus óculos. 

 — Aah, não.  Mas espero que seja bom. — Elas riram. 

 À medida em que se aproximavam do grande pássaro de aço, ficavam mais apreensivas. Patty remexeu na sua bolsa de mão, sob o olhar atento da amiga. 

 — Patty, eu não acredito... — Roberta estava boquiaberta.

— É a palavra de Deus — disse Patty, enquanto virava as páginas da Bíblia. — Vamos ler um trecho aleatório, eu vi na internet que ajuda. Eu tenho medo de aviões, sabia?

 As pessoas ali, no portão de embarque, já olhavam com curiosidade para as moças, Roberta estava ficando corada. 

 — Pronto! Agora vou abrir a bíblia num livro qualquer e escolher o versículo. 

— Patty, tá todo mundo olhando... 

— Pois que olhem. Eles não têm fé, não? — Patty falou a última parte propositalmente num tom mais elevado, e as pessoas incomodadas desviaram o olhar. 

 — Tá, e qual é o trecho escolhido?

 — Aqui, Lucas, 23:43  "Em verdade vos digo, que ainda hoje estará comigo no paraíso". 

As moças se olharam e empalideceram, e Patty murmurou num tom assustado: "a gente vai morrer". 

 — Será que eu posso ficar na janela? — Patty perguntou aleatoriamente enquanto procuravam por suas poltronas

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 — Será que eu posso ficar na janela? — Patty perguntou aleatoriamente enquanto procuravam por suas poltronas. Roberta apenas revirou os olhos. 

  Seriam poucas horas de vôo, mas cruzar o oceano, num automóvel voador assustava verdadeiramente as meninas. A tensão delas era quase palpável. Limitavam-se a olhar o celular, tomar um pouco de água, trocar algumas palavras, e só. A sensação de um vazio contínuo no estômago lhes impedia de se divertirem, e o vazio não era fome. 

 Já estavam voando à quase uma hora, quando o avião começou a sacudir. As duas garotas se encararam e, mesmo sem dizer uma só sílaba, sabiam que pensavam na mesma coisa: o trecho bíblico. A instabilidade aumentou e as máscaras caíram. As meninas, por sua vez, as ignoraram. Roberta estava murmurando alguma coisa, agarrada à sua medalha de devoção e Patty tateava em busca de alguma coisa, com sua face já banhada em lágrimas. 

Hold On - Fanfiction LiveOnde histórias criam vida. Descubra agora