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Louis estava sentado no pequeno banco em frente à tela de pintura, envolto pelos sons da movimentada rua. Ele engolia em seco e soltava suspiros baixos a cada quinze segundos, absorvendo os batuques dos sapatos das pessoas que passavam por perto, as vozes graves e tranquilas das conversas, e o ronco dos motores dos veículos que transitavam pelas ruas. Havia passado algum tempo desde que ele se acomodara naquela posição, talvez uma ou duas horas, ou até três. Seus olhos azuis acinzentados piscavam constantemente, mesmo que não estivessem realmente sendo utilizados. Louis começava a se questionar se havia sido uma boa ideia pintar novos quadros e esperar por um comprador.
Naquela tarde de sexta-feira, em Viena, capital austríaca, o famoso e histórico Theater an der Wien se preparava para uma apresentação orquestral. A agitação ao redor estava perturbando a concentração de Louis. Ele percebia como seus ouvidos eram mais sensíveis do que o normal, o que tornava a situação ainda mais difícil. E ele estava exausto.
De repente, o som do motor de um carro chamou sua atenção. O ruído estava próximo, provavelmente parado atrás dele. Louis mordeu o canto interno de sua bochecha com ansiedade ao ouvir a porta do veículo se abrir suavemente. Com cuidado, ele arrastou seus dedos sujos de tinta sobre seus braços e soltou outro suspiro, tentando ignorar o fato de que alguém havia parado atrás dele. Ele cruzou os braços, como se estivesse analisando a tela à sua frente, mas era um pouco impossível, já que ele não podia ver. Ele apenas tentava se proteger do leve vento que soprava, causando calafrios em sua pele. Seu nariz começava a ficar vermelho e a sensação de formigamento em seus pés não passava despercebida. Apenas pela brisa sutil, ele sabia que uma tempestade estava se aproximando. Provavelmente cairia durante a noite. Sentado em seu banquinho, nas calçadas em frente ao teatro, ele conseguia escutar e sentir a chuva se aproximando, mesmo que distante e quase imperceptível.
Estendendo a mão à sua direita, Louis arrastou seus dedos discretamente até alcançar o potinho de pincéis em uma mesinha improvisada. Com cuidado, ele tocou os pincéis, deslizando o polegar sobre as cerdas sintéticas até encontrar o que procurava. Sentiu os pelos entre seus dedos, o formato arredondado que se afilava até a ponta, era o pincel certo. Louis realmente se arrependia de ter se sentado ali para pintar e esperar por um comprador. A constante movimentação ao seu redor estava lhe causando dor de cabeça. Ele já estava ali há horas e nenhuma alma caridosa ou com bom gosto havia se oferecido para comprar uma de suas obras, nem mesmo os quadros menores, que eram mais baratos. Enquanto mergulhava na escuridão de sua própria imaginação, Louis descobria uma liberdade que não encontrava em nenhum outro aspecto de sua vida. Ali, naquele mundo de cores e formas, ele podia escapar das limitações físicas que o cercavam. Sua cegueira não era um obstáculo, mas sim um catalisador para sua criatividade. Cada pincelada era uma dança de luz e sombra, uma representação tangível de sua própria jornada interior.
Porém, ele sentia-se em apuros. Estava desempregado há anos e aquela era a terceira vez no dia em que se encontrava ali, interrompendo brevemente suas escassas refeições. Apesar das vendas fracas e das dificuldades financeiras, Louis não se deixava abater. Ele tinha consciência de que o valor de sua arte não podia ser medido apenas pelo preço que as pessoas estavam dispostas a pagar. Seu verdadeiro valor residia na maneira como sua expressão artística tocava as almas daqueles que a contemplavam. Ele se recusava a comprometer sua visão criativa em busca de lucro rápido. No entanto, a fome e desespero o socou com força e tudo o que conseguiu foram míseros cinquenta euros, vendendo dois quadros grandes que valiam cem euros cada. Dadas as circunstâncias, ele não reclamou de vender por um preço mais baixo. Foi um absurdo vender os dois quadros pela metade do valor de um, mas não o culpe; sua situação financeira era realmente precária, e ele nem sequer tinha dinheiro para um café da manhã adequado. Ele morava em um porão que um antigo amigo havia cedido após ele não conseguir pagar o aluguel. O que mais poderia fazer? A vida não havia sido generosa com ele desde o início. Sua mãe faleceu logo após seu nascimento, devido a complicações no parto, e seu pai era um alcoólatra que o agredia sem motivo algum.
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OS SONS DO SILÊNCIO E AS CORES DA ESCURIDÃO
FanficO que se passa na cabeça e no coração de um compositor surdo e de um pintor cego quando eles criam uma obra? Harry Edward Styles, um jovem de grandeza, eloquência e arrogância. Compositor, reverenciado como um dos pilares da música clássica. No auge...