Algumas cartas na mesa

457 52 29
                                    

-- Como assim você não sabe de nada? -- Tony praticamente gritava com Fury, enquanto os três estavam reunidos na sala. O mago olhava tudo distante. 

-- Já expliquei. -- Fury suspirou, cansado. -- Passei cinco anos em um piscar de olho, e quando o abri, tudo era diferente. Ainda não restabeleci meus contatos, e Beck me garantiu que Peter voltou para Nova Iorque assim que acabaram a missão pessoal deles. Ele também está preocupado e o procurando e é tudo o que podemos fazer agora.

-- Já falaram com May? -- Tony perguntou, olhando de um para o outro quando ninguém o respondeu, e tanto o mago quanto o agente o encaravam esquisito.

-- Você já devia saber que isso não é possível. -- O mago falou lentamente.

-- Ela já sabe que ele é o Homem-Aranha, não tem mais nenhum pro...

-- Ela está morta, Tony. -- Sthephen o interrompeu, cruzando os braços. -- Fiquei sabendo disso ontem, assim que voltei de viagem e fui procurar Peter. Pelo visto ela morreu antes mesmo dele ir para a Europa.

Tony sentiu o mundo girar, precisando se apoiar no encosto da cadeira. Não podia ser verdade. O garoto não podia estar passando por tudo isso sozinho. Quem estava cuidando dele agora? Como Tony pode deixá-lo lidar com tudo isso sozinho?

-- Eu não sabia, Tony, até retornar para Nova Iorque e tentar falar com Peter, mas o porteiro disse que ele ainda estava viajando e falou da morte dela. -- Fury disse. -- Se eu soubesse disso, não teria o envolvido na confusão na Europa.

Tony estava superventilando. O garoto em perigo, com os sentimentos em frangalhos e ele longe. Devia ter estado lá para ele, devia tê-lo ajudado com o luto. Sabia o quanto o garoto amava a tia, e que ela era a única família restante dele. Sabia a devastação que isso causava por experiência própria.

-- Ele não pode ter...? -- Nick começou depois de um tempo, dando uma pausa sugestiva que Tony não entendeu.

-- Não. -- Stephen foi firme. -- Você não o conhecia, ele não faria algo assim.

-- Eu vi o garoto por último, dentre nós três. -- O agente continuou. -- Ele parecia perdido e dividido. Era muita coisa para o coitado, também.

-- Ele não faria isso. -- Strange afirmou outra vez, talvez tentando convencer a si mesmo de algo que Tony não estava compreendendo. -- Falei com aquele amigo dele antes de vir para cá. Ele disse que Peter estava lidando... bem, até. Que ficara estranho no começo, mas que a viagem estava o ajudando.

-- Muitos índices indicam que as pessoas apresentam uma significativa melhora antes do ocorrido. Você sabe disso, já que é médico, não sabe?

-- Do que vocês estão falando, caralho? -- Tony estava prestes a arrancar os cabelos de nervosismo, perdido naquele diálogo dos dois.

-- Suicídio. -- Nick disse depois de ver que o mago não tinha coragem de falar a palavra em voz alta.

-- Romanoff não sabe de nada? -- Stephen pediu a Fury, já que Tony parecia estra em outro mundo totalmente alheio, mas ainda os escutava de onde estava sentado.

-- Ela estará voltando sozinha para cá. -- Fury já estava sentado no encosto do sofá. -- Chegará provavelmente amanhã. -- Ele fez uma pausa, olhando para as mãos, desconfortável. -- Mas se foi suicídio, não vamos encontrar nada. Você mesmo viu como ele conseguiu encobrir a morte da tia.

-- E por que ele faria isso? -- Tony perguntou, falando pela primeira vez na última hora de discussão.

-- Talvez não quisesse que você soubesse. -- O mago parecia inquisidor e bravo ao olhá-lo.

-- Rapazes... -- Começou outra vez o agente.

-- Não. -- Stephen  interrompeu. -- Toda a desgraça começou com você, Tony. Chutou o garoto como se ele não fosse nada. -- O voz do mago escorria raiva e despreso. -- Não consigo entender como Peter pode admirar tanto alguém como você.

-- Chega. -- Fury se levantou. -- Isso não vai nos levar a nada. Vamos dar uma pausa. Preciso resolver algumas coisas e não quero encontrar outro morto quando chegar.

Outro morto. O que sobrara de Tony desde que Peter fora embora acabara de morrer também. Não podia acreditar que o meigo, doce e gentil Peter acabaria com a própria vida. Logo ele, tão iluminado e risonho. Tony se deu conta do quão participativo foi daquilo, o afastando daquele modo, fazendo com que Peter sofresse sozinho. Pensou que estaria o protegendo ao afastá-lo, mas se deu conta de como o arruinou de vez ao fazê-lo. 

Natasha chegou antes mesmo do Sol, entrando com tudo na sala e fazendo perguntas, logo relatando tudo o que sabia, que não era muita coisa. Tudo o que disse foi que Peter nunca pegou um vôo para Nova Iorque, ela mesma pesquisara todas as redes de câmeras de todos os aeroportos por onde a turma de Peter passou, e não encontrou nada.

-- Sexta, passe um pente fino em todas as câmeras de Praga. -- Tony estava tentando ir além, mapeando toda a região e procurando qualquer mínimo indício. 

Se não dormia antes, agora vegetava. Fazia mais de setenta e duas horas desde a última vez que fechou os olhos por mais de cinco minutos, ficando a base de café expresso que Nat fazia sempre que a garrafa esvaziava.

Verificou tudo que pode e descobriu que Peter era realmente genial ao notar que não haviam registros da morte da tia, a não ser os papéis na polícia e no necrotério. Nada digital. Sentiria orgulho dele, se não estivesse assombrado pela culpa e medo do pior.

Se ele quisesse ocultar o suicídio, ele conseguiria. Sua mente alfinetou.

Ele não faria isso. Tony contra-argumentou. 

Você literalmente o apagou da sua vida e ele deve ter entendido isso ao tentar ajudá-lo a terminar de apagar o resto de si, como fez com a morte da tia, para que a notícia não chegasse a você.

-- Tony? -- Romanoff pegou em seu braço, o tirando dos devaneios. O homem a agradeceu mentalmente, já que sentia que estava quase se perdendo nos sentimentos sombrios que seus pensamentos causaram e que talvez não conseguisse voltar deles. -- Preciso falar com você. Urgente.

Enquanto você dormiaOnde histórias criam vida. Descubra agora