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O vento era forte. Foi o primeiro pensamento que se passou pela cabeça da garota ao observar o horizonte da proa do navio, o qual ganhava mais velocidade a cada segundo que se afastava da costa.

Edelyn achava que tinha experimentado ventos fortes antes, enquanto subia as montanhas do continente em que vivia, a procura de seres místicos. Mas aqueles eram diferentes.

Aqueles davam a impressão de que a qualquer momento poderiam varrer tudo e todos em quilômetros de distância por simplismente aplicar um pouco mais de força, arrasando navios e lançando ondas grandes o suficiente para que inundasse um pequeno castelo.

A garota achava interessante como aquela estrutura de madeira conseguia se manter flutuando na água, ainda que carregando o peso dos objetos e das pessoas embarcadas. Mas o mais interessante era a paisagem, se é poderia ser chamada assim.

Era inesquecível, de tirar o fôlego. Havia uma beleza macabra naquilo tudo, a visão era uma que poderia te assombrar a noite, e nos dias causar um desejo irracional de voltar ao mar, como uma maldição que nunca acabaria.

"Só mais uma vez. Eu preciso ter aquela visão só mais uma vez."

Um mantra que o chamaria cada vez mais longe ao mar, um pouco mais de cada vez, se prometendo sempre que aquela seria a última viagem que ousaria fazer.

Até realmente ser a última vez.

A única coisa que é realmente possível descrever sobre a cena são seis componentes, procurando inserir da melhor forma possível as sensações do que era estar parado ali, torcendo para ser o suficiente para criar a atmosfera perfeita em quem estivesse ouvindo.

O céu estava escuro pela noite. Nuvens e estrelas o salpicavam, quase que com um desleixo calculado, ao ponto se tornaria bonito e não uma bagunça qualquer que alguma criança faria. O mar era quase tão escuro quanto o céu, de um azul tão forte, que poderia ser descrito como negro.

Ele cobria o horizonte como um manto, mantendo guardado seus segredos em uma proteção antiga e silenciosa. Quase como que desafiando a coragem de qualquer um que passasse a dar um simples mergulho para desvendar seus segredos.

No entanto, era possível que com um pouco de concentração, você conseguisse sentir como se fosse uma massa de ar quente grudando em sua pele, o perigo a espreita, respirando como uma critura viva sobre tudo aquilo.

Sussuros de promessas de tempestades, com ondas de tamanha violência que lançariam qualquer indivíduo despreparado ao mar, direto a morte certa, assobravam a todos. Seja a morte vinda pela hipotermia, pelo afogamento, ou pelas criaturas, nunca seria agradavél.

Seria sorte ter uma morte rápida.

Enquanto lia os relatos no calor de sua casa, protegida pelas cobertas, se perguntou quanta insanidade era precisa para se aventurar nesse tipo de pandemônio, com poucas chances de sobrevivência.

Agora eu sei. Pensou, se divertindo com a ironia da situação. Depois de julgar as pessoas que o faziam, ali ela estava, realizando a mesma loucura de desafiar o mar.

A verdade é que a curiosidade era um grande fator para essas missões suicidas, mas só isso não basta. Muitas pessoas tem curiosidade, e nem por isso se jogam no perigo eminente. É preciso haver ambição, seja ela por riquezas, como os piratas, ou pelo saber, como era o caso de Edelyn.

-Então. -Uma voz, que ela reconheceu como a de Laurent, interrompeu seus pensamentos. -Está aproveitando a viagem mágica? -Perguntou, se encostando na proa ao lado da garota, sorrindo com uma diversão típica de alguém experiente para outro que estava prestes a se ferrar pela primeira experiência.

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⏰ Última atualização: Jun 27, 2020 ⏰

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