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"Prazer em te conhecer, onde você esteve?
Eu posso te mostrar coisas incríveis.."(Blank Space, Taylor Swift)


Um mês antes...

Era o primeiro dia do ano e eu estava animada.

Fiz uma lista com as resoluções de ano novo no meu planner e eu me sentia devidamente pronta para começar com o pé direito.

Algumas pessoas acreditam que o ano novo é apenas um dia como qualquer outro, eu sempre preferi acreditar que é uma chance de recomeço. Passei tantos anos sendo uma pessoa insegura e pessimista que acabei fazendo uma meta para o ano passado: encarar a vida de um jeito mais leve.

A meta foi cumprida arduamente durante os últimos 365 dias e eu passei a me sentir uma nova pessoa. Sempre vendo o outro lado, sempre enxergando o copo meio cheio, sempre correndo o risco de ser uma chata good vibes. Mas quem liga? Eu que não.

- Tá pensando em quê?

Isabel me cutucou e eu sorri, ainda olhando para o céu cheio de estrelas e sentindo o meu peito inflar com aquela sensação de que esse ano seria bom. Seria o ano em que tudo iria mudar.

- Estou pensando que esse é o meu ano.

Minha irmã soltou uma risadinha baixa e encarou meu rosto enquanto eu preferia olhar apenas para cima. A praia estava cheia, todos estavam empolgados com os fogos que tínhamos acabado de assistir e meus pais estavam atrás de nós, ligando para todos os parentes. Eu queria calar todos os barulhos por um instante e só curtir aquela sensação boa.

- Você diz isso todo ano e quando chegamos em dezembro reclama que foi uma grande bosta.

- Eu sei, mas agora é diferente, eu sou uma pessoa mais otimista, minha carreira tá decolando, minha vida sentimental tá ótima e fiz as pazes com a balança. Daqui pra frente é só coisa boa!

- Concordo com tudo menos a parte da vida sentimental. Não dou nem uma semana pra você embarcar em um novo relacionamento e dar uma de Taylor Swift.

Finalmente decidi olhar para Bel com os olhos cerrados e ela cantarolou I knew you were trouble, rindo de mim.

- Não entendi essa comparação, pode fazer o favor de explicar?

Bel sorriu, fazendo uma reverência péssima e limpou a garganta.

- Com muito prazer - disse. - Você escolhe um novo namorado para cada livro que escreve. Já na fase do flerte você se empolga, começa a escrever um romance de tirar o fôlego e alguns meses depois arruma uma desculpa para terminar. O resultado é que você usa cada um deles pra conseguir escrever suas histórias e ganha dinheiro por isso. Taylor Swift todinha!

- Nossa, nada a ver - revirei os olhos.

Mas tinha tudo a ver. Eu fazia isso com todos os meus relacionamentos e eles não duravam mais de seis meses. Não era como se eu planejasse, as coisas simplesmente aconteciam dessa forma. Em um dia eu estava apaixonada e completamente inspirada para escrever um romance trágico, sonhando que um dia chegaria no nível do Nicholas Sparks, e no outro eu estava enjoada do namorado que tinha escolhido. No livro, tudo acabava de um jeito super emocionante e trágico. Na vida real, eu era a ogra que sempre magoava alguém enquanto recebia um depósito gordo na minha conta.

O que me separava da Taylor Swift era que as pessoas não sabiam que eu escrevia sobre os meus próprios relacionamentos. Meu emprego era extremamente sigiloso, ghost writers não podem revelar suas identidades, muito menos os livros que escreveram. Todos que eu escrevia eram vendidos para a editora de uma amiga da minha mãe e publicados com o nome de uma blogueira famosa. As pessoas achavam que ela era um gênio dos romances e eu conseguia bancar minha existência na grande São Paulo. Todo mundo saía feliz dessa situação.

Eu duvidoOnde histórias criam vida. Descubra agora