Capítulo I

62 19 4
                                    

Eu perco pessoas o tempo todo, estou cansado. Sinto que um peso se estende dentro de mim a cada vez que tenho uma perda. Ao invés de um "pedaço que se foi" como as pessoas costumam falar, me sinto pesado. Muito pesado. E não só minha mente, nos anos anteriores perdi minha irmãzinha caçula, éramos dois: eu e ela.

Tenho onze anos de idade, farei doze esse ano. Ela morreu no meu aniversário do ano passado por um problema respiratório. Minha mãe agora possui depressão, quer dizer, não agora, já que se matou há pouco tempo. Eu não tenho pai, ele foi embora quando minha mãe teve Laura - minha irmãzinha falecida - anos seguintes recebi a notícia de que havia morrido de overdose.

Meus avós por parte de pai morreram quando novos e meu avô materno também. Minha avó materna está em um hospício desde o ano retrasado, ela falava umas coisas bizarras e minha mãe achou que estava louca. É complicado, eu a amava, nos dávamos bem e eu adorava sentir o cheiro de sua roupa velha.

Agora não tenho ninguém, apenas uma tia, a que me cria: uma mulher alta e robusta, com testa franzida e rugas profundas. Ela nem parece irmã de minha mãe, me trata como um desconhecido. Não nós falamos mas ou eu ficava com ela ou ia para um orfanato, ela, a pedido de minha mãe em sua carta de suicídio, que, a propósito, não me deixaram ler, aceitou ficar com minha guarda e me cria desde então.

Não faz nem semanas, mas meu medo por sua esquisitice é gigante, ah, mas quem sou eu pra falar de esquisitice? Na escola sou intitulado por meus colegas de "o esquisito". Bom, isso não importa, não os dou importância, tenho amigos, bastante até, me apoiam sempre que preciso.

Venho tendo pesadelos, sempre os tive, mas são mais recorrentes que nunca agora. São todos iguais: no final uma pessoa próxima a mim morre. As mortes são horríveis, sempre acordo com urina sobre todo o colchão, e minha tia, tão compreensível me xinga de bastardo, não gritando, mas em um tom suficiente para eu ouvir.

Nunca fui de ter medo em demasia, mas esses pesadelos mexem com minha sanidade. As vezes, sinto que é real, como se estivesse sonhando acordado.

Os piores pesadelos são aqueles que tenho de Laura, são horripilantes. Tenho medo de sonhar com a minha mãe, não sei se conseguirei dormir de novo. É a pior hora do dia. Mas amanhã tenho aula e preciso ir para a cama agora.

Fique acordado VictorOnde histórias criam vida. Descubra agora