CAPÍTULO 1 - Susan

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"O mundo está acabando

Você já pensou

Que nós poderíamos ser tão próximos, como irmãos

O futuro está no ar

Eu posso senti-lo em todo lugar

Soprando com o vento da mudança ..."

Wind Of Change - Scorpions

Poderia ser pior? Claro que poderia! Mesmo assim já é cansativo por si só levar a vida que eu tenho. Tudo isso por uma simples tragédia do destino que tinha nome, sobrenome e endereço: Susany Pellegrini, ou Susy para amigos e familiares, moradora perpétua da cidade da moda, Florença. Alguns dizem que tudo não passa de uma noção de inferioridade juvenil à beleza da minha irmã caçula por 10 minutos, porém eu continuo afirmando e mostrando que temos a mesma cara, até porque somos, supostamente, gêmeas. Ou seja, como eu me sentiria inferior, já que Susany é a minha imagem e semelhança? Quando olho para o espelho, eu a vejo refletida e assim vice-versa. O diferente é que ela gosta de andar arrumada e maquiada, eu não. Prefiro mil vezes minhas confortáveis roupas de casa, isto é, aquelas rasgadas, furadas, destruídas e folgadas. Contudo, é com esses e outros desaforos engolidos todo santo dia que levo minha vida monótona e maçante, tendo minha amada irmã como meu próprio purgatório pessoal.

Eu estudo em uma das melhores escolas de ensino médio de Florença, junto com Susy, mas, diferente dela, eu não tenho amigos que possam escutar meus lamentos rotineiros, minhas confissões. Enquanto minha irmã reluz em um dos melhores momentos da sua vida, eu afundo como uma pedra dentro de um poço que, mesmo sabendo que o fundo se aproxima, continua caindo. No auge dos meus 17 anos, ainda estou no último ano do colegial, contando os minutos para que esse inferno termine sem causar mais danos ao meu judiado psicológico.

Dizer que essa hierarquização escolar é injusta seria um baita eufemismo. É aquele típico clichê que estamos acostumados: enquanto os mais populares, porém menos esforçados, alcançam as glorias de uma vida tão benevolente assim, pessoas como eu precisam sobreviver com o bullying desses populares. No meu caso, da minha própria irmã e sua cambada de ignorantes, formada por Ada Grassi e Lucile Donati, as mesmas Gretchen Weiners e Karen Smith da Regina George.

O único que escapa dessa infeliz realidade é meu amado Derek Rossetti. Lindo, popular, a bola de ouro do time de futebol da escola. Eu tenho plena certeza que ele tem um amor encubado por mim, até porque é o único que não me trata com desprezo. O seu sorriso parece resplandecer, que deixa meu coração alegre toda vez. Eu não importaria se ele me desse a mão para que fugíssemos dessa terrível escuridão social. E é vivendo essa bolha que me encontro nesse exato momento, sentada em uma das mesas do refeitório, imaginando o nome dos nossos filhos, enquanto vejo nós dois vestidos de branco na Basílica de Santa Croce.

- Você é a baita de uma piranha, Susan! - Ada, uma daquelas supostas amigas da minha irmã, se aproxima e grita no meu ouvido, na medida que chama a atenção das pessoas ao meu lado para nós duas. - Você seduziu o meu pai, sua grande baranga rodada! E agora ele quer o divórcio para viver um grande conto de fadas ao seu lado. - Diz de forma irônica.

Eu realmente não sabia o que dizer ou pensar. Por um momento, cheguei a cogitar a ideia de que existia outra Susan na escola a quem essa louca estava se referindo. Como se EU fosse capaz de seduzir alguém que não fosse o meu cachorro Smigool, que, aliás, não se mostrava nem um pouco seduzido por meus atributos inexistentes.

- E agora o que? Vai dar uma de inocente para cima de mim? - Ela apontou a unha brilhante vermelho escarlate no meu rosto. - Eu pensei que fosse uma grande mentira! Todos da escola sabem que você não passa de uma rata molhada e acuada, mas quando Susy me mostrou as fotos e me contou seus planos, nunca senti tanto desprezo por uma qualquer feito você. - Ada cuspiu as palavras na minha cara.

As Damas de (Des)HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora