CAPÍTULO 3 - Susan

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"E eu passei muitas noites

Só sentindo pena de mim mesma

Eu costumava chorar

Mas agora eu mantenho minha cabeça bem erguida

E você vai me ver como um novo alguém ..."

I Will Survive - Gloria Gaynor 

10 ANOS DEPOIS

Atrasada. Era desse jeito que eu me encontrava. Enquanto jogava, literalmente, o despertador na parede mais próxima, sentei na cama tranquilamente. Eu era a chefe daquela empresa toda, então não havia necessidade de preocupação quanto ao meu horário de entrada. Óbvio que deveria dar o exemplo, mas a carne é fraca e meu sono de beleza é mais importante que algumas meras horas de serviço.

Apanhei o celular da escrivaninha que ficava ao lado da cama. 65 mensagens e 10 ligações não atendidas de Mel, agradeço aos céus por ter o colocado no silencioso antes de cair no sono. Suspirei. Infelizmente ou felizmente, dependendo do ponto vista, o dever já me chamava em plenas nove da manhã. E, como se Mel tivesse adivinhado que eu acabara de acordar, o celular começou a chamar de novo. Atendi no quarto toque. Seria melhor dar uma de difícil para Mel.

- Sul, como eu adoraria comer seu fígado agora com uma bela farofada de ovo e uma saladinha no acompanhamento. - Respondeu irritada.

Sorri comigo mesma. Já imaginava a cena de Mel fechando os olhos e massageando seu cenho franzido. Isso tudo não passava de um dos indicadores da sua irritabilidade matinal tão bem conhecidos por mim. Muitas pessoas da empresa até mesmo diziam que ela vivia num estado de TPM diária.

- Você tem noção que pode ser demitida por insubordinação, certo? - Levantei da cama e rumei para o banheiro da minha suíte.

- Como se você fosse capaz de viver sem mim profissionalmente e pessoalmente, né?

Uma risada espontânea escapou dos meus lábios. Mel não poderia estar mais correta nessa vida. O que seria de mim, uma mera mortal, sem minha assistente pessoal e melhor amiga?

- Você está exatamente 1 hora, 27 minutos e 16 segundos atrasada para seus compromissos da manhã. - Comentou sarcasticamente. - E tenho plena certeza que também não vai chegar a tempo para a reunião das dez.

- Que mulher de pouca fé, Mel. Chego aí em trinta minutos. - Enxaguei a boca.

- Claro que chega, Sul. - Disse de forma irônica. Não vou entrar numa discussão acalorada com você de novo. - Mel ponderou. - Por favor, tente chegar o mais cedo possível!

- Não vou te prometer nada, raio de sol. Peça a Cintia para deixar meu café com leite preparado, por favor. Vejo você logo mais! - Desliguei.

Desde que me mudei definitivamente para o Brasil, minha vida não poderia estar mais perfeita. Lamentavelmente, ainda lembro com precisão minha partida da Itália. Ver o desapontamento e a dor nos olhos de papai me perturbam mais do que eu gostaria de admitir. Ele se sentiu traído, como se eu estivesse abandonando nossa relação "pai e filha". Em contrapartida, mamãe fez o que sempre vinha fazendo ao longo dos meus antigos 18 anos, ignorou e até parabenizou minha necessária vinda ao Brasil

Quanto a Susany, preferi apagar da existência o fato de ter uma irmã gêmea tão malévola. Durante os dois dias que se seguiram antes da viagem, ela optou por desmerecer minha presença na mansão Pellegrini. Claro que eu fiquei feliz por Susy me ignorar, principalmente após a cena montada com Derek, mas doeu ver que, mesmo assim, ela não fez questão de explicar toda a situação. Eu poderia muito bem mudar meu nome do meio para Susan Trouxa Pellegrini.

As Damas de (Des)HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora