CAPÍTULO 6 - Susan

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"Ah, então você acha que me conhece agora

Esqueceu-se da forma como você me fazia sentir

Quando você arrastava o meu espírito para baixo

Mas obrigado pela dor

Isso me fez subir no jogo

E eu ainda estou subindo ..."

Who's Laughing Now? - Jessie J

Querida? Rita Barbieri Pellegrini havia acabado de me chamar de querida? Minha surpresa era tamanha que estagnei no lugar e fiz cara de paisagem. Em pleno início de tarde, esta cilada já trazia uma certa preocupação.

- Olha, por que não vão para o inferno e procurem o que fazer por lá? Vocês deveriam ter vergonha na cara de passar trote numa hora dessas! -Xingando em português e roendo as unhas, bati o telefone com força. Umas duas vezes, alguns otários descobriram meu número e começaram a ligar, incansavelmente, para a empresa. Então, supus que essa era a única resposta óbvia para a chamada. Não podia ser minha mãe, não podia de jeito nenhum. Eu nunca fui sua querida no passado, portanto continuaria não sendo nos dias atuais. Mas e fosse Dona Rita mesmo? As vozes são tão parecidas. Não! Não era possível. Porém, será?

Praguejei em voz alta. Eu tenho plena certeza que vou me arrepender disso depois, contudo a curiosidade é maior. Discando os números do identificador de chamada, esperei nervosa alguém atender.

- Susan, é você? - O italiano da minha suposta mamãe fez surgir, mais uma vez, aquele arrepio familiar de casa.

- Mãe? - Falei mais alto que o normal. - É a senhora ou é trote?

-Eu acho que sou eu mesmo. - Ela sorriu na ligação. Mamãe está sorrindo? Conversando comigo e sorrindo? Eu devo ter morrido e o ceifador ainda não buscou a minha alma perdida. Fiz careta.

- Qual era o nome do meu cachorro de infância? - Se for pegadinha, a pessoa do outro lado, provavelmente, não vai saber a resposta para essa simples questão.

- Por que pergunta isso agora? - A pseudomãe no telefone se mostrava confusa. - Era Smigool, o nosso São-Bernardo.

Caralho, Brasil! Era minha mãe mesmo. Chocada e passada à ferro eram poucos adjetivos para descrever minha situação atual. Só podia ser algum tipo de trapaça, visto que não é possível que a Rita do meu passado seja uma pessoa doce e sorridente agora. Algo fedia mais que carniça de urubu e chorume de lixão nessa história.

- Susan? Ainda está aí? - A voz da minha mãe estava levemente mais sutil e arrastada, mostrando sinais evidentes da idade. - Estava com saudade de te escutar.

Arregalei os olhos e mirei o telefone como se o teclado acabasse de explodir na minha frente. Estava sem falas. Mamãe, que sempre desprezou a existência da primeira filha gêmea, sentiu saudades? Eu comecei a duvidar se tudo realmente não passava de algum tipo de sonho milagroso ou o mundo de matrix. Na minha cabeça, era a explicação mais lógica. Belisquei-me com força. Merda, doeu!

- É a Rita Pellegrini mesmo? - Minha voz não passava de um sussurro e mostrava, claramente, meu estado de confusão.

- Filha, sou eu, sua única mãe. Liguei porque estava com saudades de você. - Ela parecia sincera no telefone, mas vocês acham que eu acredito nesta palhaçada? Não coloco minha mão no fogo por Rita, nem se for apenas para esquenta-lá.

As Damas de (Des)HonraOnde histórias criam vida. Descubra agora