A verdade

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Em um segundo já estava com uma reação séria e disse com tranquilidade:

- Minha filha, onde você encontrou isso?

- Na caixa que a Mi me trouxe. E parece que não sou filha.

- Como assim filhinha?

- Não me chama mais assim! Você sabe do que eu tô falando, por que não conta logo o que aconteceu?!

Ela respirou fundo, percebendo que toda a sua farça estava perdida e que eu já sabia de tudo. Como quem aparentava estar com dor de cabeça, ela deu as costas para mim e foi para a sala, sentando no sofá. Fui atrás dela, ainda sem dizer nada, ela pediu para eu me sentar e começou a falar:

- Você era muito nova ainda, por isso não lembra. Você está aqui por que cuidamos de você, sua mãe foi vítima de um câncer e faleceu quando você tinha 1 ano. Minha irmã te amava muito, eu sabia que ela ia sofrer mais se soubesse que a filha corria sérios riscos de saúde também, por isso te trouxemos para a América.

- Então eu não nasci aqui? Não sou americana?

- Não, você nasceu na Europa. Na França -percebi que ela forçou para dizer isso, pois estava evitando o contato visual direto comigo, talvez ainda estava escondendo algo.

- E meu pai? -baubuciei- ele também morreu?

Ela não respondeu, apenas pôs a mão na testa e quando me olhou, estava com um olhar de quem segurava lágrimas.

- Estamos te protege....

- MEU PAI ESTÁ VIVO? -disse num tom alto para mostrar o quanto aquilo significava para mim.

- Sim, seu pai está vivo...

-Onde ele mora? Eu quero encontrá-lo!

- Não posso te dizer Holly, porque também não sei, só não está na América e disso eu tenho certeza. É melhor você continuar vivendo como se nada acontecesse.

Vivendo como se nada estivesse acontecendo? Eu acabei de descobrir que não estou morando com a família certa, que tenho um pai e ele está vivo! Como posso ignorar isso e viver tranquila?

-Então ele não está na América....-continuei com cara de pensativa enquanto saía da sala e subia as escadas.

-Filha seja lá o que você está pensando em fazer, não faça!

- Eu não sou sua filha -disse com ar de certeza, de confiança, enquanto ia pro meu quarto pensando no que eu faria daqui para frente.

Óbvio que eu estava pensando em fugir, era melhor fazer isso antes que perdesse outro membro da família. Pelos meus cálculos, meu pai parecia ter uns 40 anos na foto, e eu tenho 16.
Como meu pai estaria no momento? Onde e como morava? Será que ainda tinha avós? Ele poderia responder todas as perguntas que fiz até agora? Isso eu não sabia, por isso ia fugir, para descobrir aquilo que esconderam de mim por toda a minha vida. Estava sentada na cama, listando tudo o que era necessário para uma pessoa fugitiva sair de um país, um continente. Não queria ter o azar de esquecer algo importante, por isso fiz uma lista:

Lista de viagem:
- documentos (passaporte, identidade original, identidade falsa)
- Roupas (cinco blusas, dois casacos, três calças e três sapatos)
- Celular e fone de ouvido
- Garrafa com água
- Cartão de crédito e dinheiro
- Bolsa com maquiagem

Arrumei tudo dentro de uma mala pequena e deixei embaixo da cama. Sentei no chão e comecei a procurar passagens para a Europa pelo celular, fugir para outro continente não é tão simples como aparece nos filmes. Meu vôo saía as 23h, eu preferi não sair em plena a luz do dia. Quando meus tios pensassem que eu estava dormindo, seria o momento perfeito. Entrei no banheiro e tomei um banho quente, vesti uma roupa de frio e coloquei o colar de rosa em volta do pescoço. Desci as escadas novamente e saí de casa sem que ninguém percebesse. Caso você esteja se perguntando, eu não estou fugindo de casa ainda, eu ia me encontrar com Jolie na minha cafeteria favorita chamada Claudia's Coffee. Enquanto caminhava pelas ruas de Nova Jersey, mandei uma mensagem pra Jolie:

- Podemos nos ver agora?

Ela entrou online em alguns instantes

- Sim, Cafeteria?
- Acertou KKK- Jolie é minha melhor amiga, não era de se espantar o fato de termos uma conexão.

A Claudia's Coffee não ficava longe das nossas casas, era meio termo. Por isso íamos lá três vezes por semana, pedíamos sempre a mesma coisa, um copo de frappuccino e um croissant das 18h- isso pode parecer muita pontualidade, mas é por que as 18h era a hora que a saía uma fornalha de croissants, então eles estariam quentes quando chegasse. Eu gosto desse lugar por que a Claúdia- a dona e atendente- é muito simpática, ela me trata como filha. Ela é do Brazil, e eu ouvi dizer que os brasileiros são muito hospitaleiros, um lugar que quero conhecer um dia é o Brazil.

Cheguei na cafeteria e encontrei Jolie logo na porta, entramos juntas e sentamos numa mesa. Cláudia veio logo nos atender.

- Como vão minhas princesas?
- Muito bem- Jolie respondeu.
- O mesmo de sempre?
- Claro- eu disse- obrigada.

Cláudia saiu e Jolie se virou para mim, dizendo.

- Qual a urgência?
- Como você sabe?
- Não são 18h ainda, você deve estar com pressa para alguma coisa.
- Uau, você me conhece mesmo. Bom, eu quero conversar com você sobre isso.
Mostrei a ela o colar de rosa que antes estava por dentro da roupa, ela pôs o pingente em sua mão e olhou bem.

- É um lindo colar, onde você comprou?
- Eu não comprei, esse colar tem uma história muito longa.

Comecei a contar a ela tudo o que tinha acontecido naquela tarde, a cada pausa que eu dava ela ficava com uma cara de espanto. Por fim, quando eu já estava terminando, ela me parou.

- Calma, você disse que estava escrito Holly S. Ritchie? Você sabe o que significa o S.?

- Não, eu também fiquei pasma com isso.

- E sua mãe disse que você nasceu na França...

- Minha tia- interferi

- Sim, sua tia, isso está tão confuso agora. Mas veja, vamos ligar os pontos, eu li sobre a França para minha apresentação no colégio. Sobrenomes com S são bem famosos na França, você deve ter vindo de uma família importante.

- É, talvez, mas é só uma suposição, eu não quero ficar me iludindo achando que sou uma princesa ou, sla.

- Fica tranquila, não tem princesas na França hahaha.

Nesse momento Cláudia chegou com os frappuccinos e os croissants.

- Princesas, não se chateem comigo, mas eu estava ouvindo a conversa de vocês lá do balcão- ela se virou para mim e continuou- Holly, eu conheço a sua família, você tem uma história encantadora.

Eu fiquei muito feliz e confusa ao saber que ela conhecia mais sobre mim do que eu imaginava.

- Você conhece o meu pai?

- Conheço o suficiente para te dar as informações que precisa.

Senti que meus olhos brilharam nessa hora, e ela também percebeu isso, então puxou uma cadeira e começou a contar coisas que vocês só vão saber no próximo capítulo.


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⏰ Última atualização: Apr 07, 2020 ⏰

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Viagem a Europa: Em Busca da OrigemOnde histórias criam vida. Descubra agora